A DS é uma das marcas mais recentes do mercado, sendo uma criação da PSA e do CEO do grupo francês, o português Carlos Tavares. Em 2018 comercializou 54 mil unidades, o que é pouco, mas Tavares não tem pressa, afirmando que só passaram ainda cinco anos e são necessários 30 para construir uma marca de automóveis de raiz. Em vez dos objectivos, o gestor luso prefere concentrar-se nos preços praticados, 1,9% acima do benchmark, o que assegura margens importantes nos 38 países onde a marca está a ser comercializada.

Para a DS, que já anunciou que dentro de cinco anos todos os seus veículos serão híbridos plug-in (PHEV) ou 100% eléctricos alimentados por bateria (BEV), prevendo ainda a introdução de novos modelos em 2021 e 2022, o actual topo de gama é o DS 7 Crossback, especialmente na versão E-Tense 4×4, o PHEV da família. Este monta à frente o motor 1.6 Turbo a gasolina com 200 cv, para depois instalar um segundo motor eléctrico de 110 cv dentro da caixa de velocidades, uma automática convencional com oito relações produzida pelos japoneses da Aisin, onde esta unidade eléctrica substitui o tradicional conversor de binário, tornando assim o seu funcionamento mais eficaz.

Este é o motor destinado não só a recarregar a bateria, como a ajudar o bloco térmico nas acelerações e reprises, além de assegurar o modo eléctrico, que permite ao SUV percorrer 58 km em modo zero emissões. No eixo traseiro existe um segundo motor eléctrico, cuja única finalidade é garantir tracção integral. A potência é igualmente de 110 cv, com ambos os motores eléctricos a serem alimentados pela bateria de 13,2 kWh de capacidade.

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Para PHEV, surpreendeu-nos o facto de a DS não recorrer a motores a funcionar segundo o ciclo Miller (ou Atkinson, caso fossem atmosféricos), o que permitiria maior eficiência. Também nos espantou a opção por um sistema de ar condicionado convencional, com compressor, em vez dos mais eficazes com bomba de calor. Decisão que revela que a marca está satisfeita com o nível de consumos e emissões atingido, com o modelo a anunciar em WLTP 1,3 l/100 km, a que correspondem emissões de apenas 30 g de CO2/km.

Mais económico com bateria do que sem ela

A primeira parte do percurso, em cidade, revelou-nos um DS 7 Crossback E-Tense 4×4 confortável e sólido, sem ruídos parasitas, apesar das zonas em estado de conservação menos bom, justificando o posicionamento da PSA, que coloca a DS acima das restantes marcas do grupo em matéria de requinte.

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A decoração exterior parece-nos mais conseguida do que a interior, onde é certo que a qualidade percebida é superior mas, porque preferimos veículos mais discretos, achamos que a profusão de losangos a retomar a imagem do diamante é um pouco exagerada, sendo mesmo superior à utilizada pelos estilistas do Bentley Continental GT… Contudo, isto está linha com a sofisticação prometida pelo fabricante, desejoso de se destacar das restantes marcas da PSA.

O trânsito citadino parisiense permitiu-nos explorar o potencial deste PHEV que, à semelhança dos restantes, deve ser recarregado sempre que possível, de modo a garantir um percurso inicial sem emissões. Pelo menos, enquanto durar a bateria. Se a DS fala em 58 km em modo eléctrico, a nossa unidade permitiu-nos percorrer cerca de 45 km sem recorrer ao motor de combustão, sempre com alguns cuidados para não fazer disparar os consumos, mas em sintonia com o trânsito que nos rodeava, mesmo depois de chegarmos às vias rápidas.

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Nestas condições e forçando o modo de condução EV, exclusivamente eléctrico, o DS 7 PHEV acusou no painel de bordo consumos de 33 kWh/100 km, um consumo demasiado elevado que os técnicos atribuíram a um problema de software. Isso e o ar de condicionado ligado, que só para si exige 5 kW. Nas vias rápidas e a circular entre 80 a 90 km/h, o consumo baixou para 30 kWh.

Terminados os 13,2 kWh da bateria – na prática não chega a tanto, pois o modelo guarda sempre alguma reserva para continuar a funcionar em modo híbrido –, o Crossback E-Tense 4×4 passou a apoiar-se principalmente no motor de combustão, com o motor eléctrico de 110 cv a ajudar na fase de arranque ou sempre que se acelera. A conduzir em modo Comfort, que associa o híbrido à suspensão pilotada que se adapta ao estado do piso através da câmara, o DS 7 PHEV rodou cerca de 40 km com consumos médios de 7,8 litros, um valor mais elevado do que o que gostariam de ter aqui, e nestas condições, uma alternativa aos motores a gasóleo.

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Fora de estrada até o faisão ficou admirado

Depois da cidade e da auto-estrada, a DS desafiou-nos a colocar à prova o E-Tense 4×4 em fora de estrada. O local encontrado, uma quinta nos arredores de Paris, tinha sido vítima nos dias anteriores de chuvas intensas, o que transformou o piso numa mistela que mais parecia uma papa, de aspecto nada atraente.

Os DS 7 Crossback PHEV que conduzimos nessas condições estavam equipados com pneus M+S, ou seja, Mud and Snow, para o modelo ter alguma possibilidade de sucesso ao tentar transpor os obstáculos naturais que tinha pela frente.

Com a tracção traseira a entrar apenas quando as rodas da frente perdem aderência, o SUV surpreendeu-nos no cruzamento de eixos e na capacidade de conseguir aderência mesmo enterrado em lama até quase ao cubo das rodas. Uma das passagens implicava atravessar uma vala cheia de água, desafio que o modelo ultrapassou com distinção, com a vantagem de ser mais fácil (e eficaz) modular a potência dos motores eléctricos do que os de combustão, o que se torna favorável neste tipo de condições, em que a aderência se aproxima do zero.

Uma experiência curiosa surgiu quando, num imenso prado, surgiu um faisão. Decidimos contornar o animal, com o E-Tense 4×4 em modo EV, a uma distância suficientemente próxima para apreciarmos a ave, mas não em demasia para lhe incutirmos confiança. E seja porque o SUV é particularmente silencioso nestas condições, ou porque o faisão tinha nervos de aço – o facto de não ser uma zona de caça deve ter ajudado – não sentimos problemas em, por diversas vezes, parar e arrancar sobre erva molhada.

O novo DS 7 Crossback E-Tense 4×4 chega ao nosso país em Fevereiro de 2020, por um valor que ronda 53.800€, no caso da versão mais acessível, a Be Chic, como se pode ver no site da marca. Uma proposta interessante para um SUV que atinge 235 km/h e vai de 0-100 km/h em 5,9 segundos. Para mais, ficando abaixo da versão turbodiesel com 180 cv, à venda por valores a partir de 57.150€ (tabela de preços aqui).