Chamam-se Holly e Baker, e são duas chimpanzés que viveram no Zoo de Saint Lois, no Misouri nos Estados Unidos. “Viveram” porque Holly morreu de cancro há mais de um ano, mas o importante é a rotina que as duas desempenharam durante anos para os visitantes deste jardim zoológico — um verdadeiro “comboio” que levou os cientistas a questionar agora a origem da dança nos humanos.

No vídeo, editado pelo jornal espanhol El País, podemos ver as chimpanzés coordenadas na perfeição, naquilo a que parece ser a dança da conga. O comportamento destas duas fêmeas serviu de mote para um estudo científico sobre a origem da dança. Até por que estes não são os únicos chimpanzés dançarinos no mundo. No Japão, um grupo de cientistas testou a capacidade rítmica de macacos criados em cativeiro — ao contrário de Holy e Baker que, apesar de presas num zoo, circulavam livremente numa recriação do seu habitat natural. Ao som de um piano, os chimpanzés de laboratório abanaram-se apoiados em duas pernas, o que deixou os cientistas a pensar que esta ação pode ser inerente à espécie da qual homem e macaco divergiram há milhões de anos. É mais do que uma macacada, os chimpanzés estão mesmo a dançar.

O estudo que se baseou na coreografia de Holy e Baker, publicado na Scientif Reports, envolveu o professor Adriano Lameira, na Universidade de Warwick, que concluiu: “Os resultados mostram que os nossos parentes vivos mais próximos conseguem mover-se a uma cadência rítmica perfeita e fazê-lo em sincronia com um parceiro”. O investigador acrescenta que “até agora não havia provas de que os grandes símios poderiam fazer isto, especialmente na ausência de estimulação humana” e diz que esta pode ser uma pista de como começámos nós — humanos — a dançar.

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O comportamento das duas chimpanzés, que nasceram em 1998 e foram separadas das suas mães quando se mudaram para o zoo desta cidade no Missouri,  deixou os estudiosos a trabalhar numa teoria que contradiz as primeiras ideias sobre a origem da dança na espécie humana. Lameira e os colegas admitem que a dança possa ter surgido a partir da interação entre pares, e não em grupo, através de rituais, como se julgava anteriormente. “Os cientistas podem agora começar a considerar possíveis cenários para a evolução da dança, onde as suas formas mais ancestrais podem ter base em pares, ao invés de assumirmos que a dança seria necessariamente um comportamento comunitário”, explicou Adriano Lameira.

O outro estudo recente, publicado há três dias, sobre o mesmo assunto, intitulado de “Balanço rítmico induzido pelo som em chimpanzés”, produzido na Universidade de Quioto por dois cientistas japoneses, aponta numa uma outra direção. Os chimpanzés foram expostos ao som de pianos e, mais do que as fêmeas, os machos destacaram-se nos seus passos de dança. Entre os melhores dançarinos, os cientistas focaram-se no comportamento de Akira, um dos chimpanzés macho que, agradado pela música, sentia a necessidade de se mexer ao seu ritmo.

Um outro aspeto que o estudo destaca é a maior expressividade que estes animais assumem enquanto estão sobre duas patas. “Numa postura bípede, o corpo pode mover-se com maior flexibilidade que numa postura quadrúpede”, explicou Yuko Hattori um dos autores do estudo. E acrescentou que, à semelhança dos humanos, “os chimpanzés sincronizam os movimentos do corpo com os ritmos da música. E também realizam movimentos rítmicos de maneira flexível em certa medida segundo o ritmo, numa postura bípede”.

O estudo de Hattori dissocia o sentido de ritmo da capacidade oral dos animais e a capacidade rítmica da capacidade oral nos chamados grandes símios, além de estabelecer que esta será uma capacidade proveniente de um antepassado partilhado pelo homem e pelos chimpanzés.