Pouco antes das oito da manhã, contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que esperam para entrar no edifício dos Serviços Sociais da Câmara Municipal de Lisboa, nas Olaias. Quando a porta se abre, dividem-se pelos serviços que funcionam neste local, sendo apenas três os que sobem ao terceiro piso, onde funciona a recém aberta ao público Unidade de Saúde Familiar do Areeiro (USFA), o local que, uns dias antes, tinha sido escolhido pelo primeiro ministro, António Costa, para gravar a mensagem de Natal onde definiu a saúde como a grande prioridade da nova legislatura.

Do SNS para o país. Costa grava mensagem de Natal em centro de saúde para mostrar “prioridade” para legislatura

Anabela Franco é uma das primeiras a entrar, vem “marcar uma consulta” para a médica de família e “buscar medicação”. Como todos os que aqui se dirigem, teve que retirar uma senha e esperar para ser encaminhada para o balcão onde uma administrativa a vai atender. “Entre um quarto de hora e 20 minutos”, foi o tempo que esteve à espera. “Tem outro tipo de organização, não tem nada a ver com o sítio onde tinha que ir antes”, diz ao Observador, explicando que é a primeira vez que aqui vem. Desde o dia 10 de dezembro que a USFA retirou Anabela Franco e outros dez mil utentes do Centro de Saúde da Alameda, um local “péssimo”, conta José Torres, outro dos utentes que esta manhã também aqui chegou.

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A USFA “nasceu da vontade que um grupo de profissionais tinha em prestar melhores cuidados de saúde aos seus utentes e de trabalhar mais em equipa”, explica Inês Gama, a médica que coordena a unidade. “Percebemos muito rapidamente que partilhávamos valores entre nós que, eventualmente, não seriam partilhados com uma parte da equipa onde trabalhávamos antes”, continua acrescentando um desabafo: “Para nós, é um grande alívio”.

Todos nós estamos felizes porque estamos a trabalhar num sítio com umas condições ótimas que vão desde o aquecimento, a gabinetes novos, passando ainda pelo parque de estacionamento que também é importante. Mas o facto de saber que os nossos utentes já não esperam três horas para marcarem uma consulta, alivia-nos imenso e ficamos também nós mais satisfeitos”, explica Inês Gama, coordenadora da USFA.

Percebe-se de imediato que aquele local não é propriamente exemplo do que se passa no país, mas talvez a excepção. Nos gabinetes espaçosos, bem iluminados e de dimensões generosas trabalham sete médicos e três enfermeiros. É fácil saber quem são os enfermeiros, porque vestem uma bata branca, mas os médicos dispensam-na: “Penso que ausência de bata nos aproxima das pessoas”, explica ao Observador a médica Inês Venâncio. Tal como a maioria dos profissionais que trabalham aqui, está no início da carreira e também veio do Centro de Saúde da Alameda. “Nós sentimo-nos mais tranquilos porque as coisas fluem de forma mais organizada e as pessoas sentem isso e chegam mais calmas às consultas”.

Patrícia Figueira tem mais anos de experiência. É enfermeira há 15 anos, já passou por vários hospitais e centros de saúde e mostra-se convicta quando diz que o Serviço Nacional de Saúde piorou nos últimos anos, mas acredita de que as coisas podem começar a mudar daqui para a frente. “Agora até tenho dois médicos comigo”, começa por dizer, sem evitar as comparações: “Isto não acontecia na Alameda”.

A proximidade aos utentes é a grande diferença que aponta: “A organização dos cuidados e a possibilidade de podermos acompanhar o utente praticamente ao longo de todos os cuidados sem haver uma grande rotatividade dos enfermeiros e assim podemos ter um acompanhamento mais detalhado”, explica, acrescentando que a “união da equipa” é mais um dos fatores que podem vir a contribuir para que esta unidade possa ser usada como um exemplo a nível nacional.

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