Marques Mendes considera o Luanda Leaks, a fuga de informação confidencial sobre os negócios de Isabel dos Santos, um “verdadeiro tsunami” que deixa a angolana “literalmente cercada”. A opinião pública internacional e angolana vão estar cada vez mais contra os seus negócios e as autoridades judiciais e reguladores dos países onde está não o podem ignorar.

No seu espaço na SIC, o comentador defende que estas revelações “vão ter reflexos sérios” em Portugal. “As autoridades portuguesas deviam estar a pressionar Isabel dos Santos para vender a sua posição no Eurobic”, o banco onde é acionista. O Banco de Portugal não pode impor a saída de Isabel dos Santos do capital do banco que comprou o antigo BPN, porque a angolana não está nos órgãos sociais do EuroBic e a avaliação de idoneidade e solidez dos acionistas faz-se quando adquirem uma participação qualificada. Mas poderá reavaliar a nova idoneidade perante os novos factos, e eventualmente inibir direitos de voto.

Já no que respeita aos órgãos de gestão do banco, o supervisor tem poderes para rever a autorização do exercício de funções, ao abrigo do processo de avaliação de idoneidade e adequação, sobretudo depois de se ter sabido que algumas das operações que estão a ser investigadas pela justiça angolana passaram por transferências feitas a partir da conta de Isabel dos Santos no EuroBic. O banco já foi visado pelo Banco de Portugal numa inspeção que apontou fragilidades na área da prevenção e controlo de branqueamento de capitais.

O EuroBic, então banco BIC, comprou o Banco Português de Negócios nacionalizado ao Estado em 2011, quando a troika obrigou o Governo de Passos Coelho a fazer uma venda relâmpago. Depois da saída de Américo Amorim, Isabel dos Santos passou a ser a maior acionista do banco com pelo menos 42,5% do capital. A instituição foi liderada por Mira Amaral, ex-ministro do Governo de PSD, e atualmente é presidida por Fernando Teixeira dos Santos que foi ministro das Finanças do Governo de José Sócrates.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Agora há um inquérito em Angola, mas no “futuro, terá também à perna as autoridades judiciais e os reguladores de vários outros países”. O comentador também antecipa “problemas sérios” nas empresas controladas pela angolana. “Vai ter seguramente administradores que abandonam o seu grupo empresarial. Gerir as suas empresas a partir de agora será uma enorme dor de cabeça”.

Para o comentador não vale a pena Isabel dos Santos fazer-se de vítima. “Ela não é vítima. É ré. Ela não é perseguida. É privilegiada”. E resta-lhe um caminho: negociar com as autoridades angolanas. Já o devia ter feito.

Rui Rio vai liderar PSD até às próximas legislativas

Num fim de semana muito político, Marques Mendes destaca o “mérito indiscutível” de Rui Rio que ganhou as diretas no PSD, quando corria o sério risco de perder. Entre os méritos que aponta ao líder do PSD estão a habilidade política, mas também a circunstância de ser melhor quando está sob pressão. E diz que Rio bem pode agradecer ao seu vice, Salvador Malheiro que conseguiu controlar o aparelho partidário. Marques Mendes sinaliza também falhas sérias do lado dos adversários. “Faltou-lhes política”.

Sobre o futuro, o comentador, que também já foi presidente do PSD, acredita que Rui Rio foi eleito não para dois anos, mas para quatro anos, ou seja, até às próximas legislativas. Logo, vai ser novamente candidato a primeiro-ministro, isto porque a oposição interna acabou. Agora, Rio passa a controlar o grupo parlamentar e o partido.

E terá a vantagem de um Governo com um desgaste crescente. Logo, daqui a dois anos, Rio não deverá ter um adversário de peso. Mas o seu maior desafio é o que não depende de si e agora terá menos desculpas para justificar um mau resultado.

A assembleia do Livre também mereceu a atenção de Luís Marques Mendes, para quem o partido e a deputada Joacine Katar Moreira saem os dois a perder. O conflito entre os dois é um desastre. O partido, acrescenta, sabia que escolhia uma deputada egocêntrica, deslumbrada e indisciplinada. Mas sem Joacine se calhar não tinha conseguido eleger um deputado. E a imagem que dá para fora é a de um sem líder nem liderança. Conclusão: “Estão a suicidar-se em público e em direto”.