Andrew Sabisky, conselheiro direto do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, demitiu-se esta segunda-feira, depois de a polémica em torno de declarações suas no passado ter subido de tom, com críticas vindas de dentro do próprio Partido Conservador.

“A histeria dos media em torno das coisas antigas que postei online é de loucos, mas quero ajudar o governo e não ser uma distração. Por isso, decidir demitir-me como colaborador”, escreveu o conselheiro, de 27 anos, no Twitter, não sem antes criticar o que considera ser uma “seleção seletiva de citações” por parte dos media. 

Em causa estão declarações feitas pelo próprio no passado, na Internet, em que defendeu existirem “diferenças raciais muito reais no que diz respeito à inteligência”, a maioria “de origem genética”. Nesse mesmo ano de 2014, Sabisky comentou ainda que “há uma percentagem muito maior de negros do que brancos com um QI de 75 ou inferior, o nível que é muitas vezes considerado o limiar para o atraso mental ligeiro”.

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Para além dos comentários que defendem uma superioridade da raça branca face à negra, o conselheiro de Boris Johnson fez ainda reparos polémicos noutras áreas, como quando afirmou que o desporto feminino “é mais comparável aos paralímpicos do que ao desporto masculino”. Em termos de políticas, Sabisky usou ainda a sua presença online para sugerir que sejam administrados contracetivos compulsivamente a partir da puberdade, a fim de impedir a gravidez na adolescência, e defendeu que quem beneficia de prestações sociais deve ser encorajado a ter menos filhos do que aqueles com “personalidades mais pró-sociais”, de acordo com comentários reunidos pela Sky News.

De acordo com os media britânicos, a contratação de Sabisky inseriu-se na lógica promovida pelo principal conselheiro do primeiro-ministro (e estratega da campanha pró-Brexit no referendo) Dominic Cummings de contratar “desajustados e esquisitóides”, segundo o próprio.

Os principais partidos da oposição, o Partido Trabalhista e o Partido Nacional Escocês (SNP), pediram a demisssão de Sabinsky assim que as declarações anteriores do conselheiro foram conhecidas. Downing Street, contudo, permaneceu ao lado do seu conselheiro. Esta segunda-feira, um porta-voz do governo recusou responder à questão sobre se Boris Johnson partilha das opiniões do seu conselheiro 32 vezes, segundo a contagem da Spectator. De acordo com o Guardian, limitou-se a responder que “os pontos de vista do primeiro-ministro são bem conhecidos” e nada mais.

As críticas, no entanto, foram subindo de tom e vieram inclusivamente de dentro do próprio Partido Conservador. A deputada Caroline Nokes, presidente no comité de Mulheres e Igualdade, criticou a reação do gabinete do primeiro-ministro: “Não acredito que o Número 10 (uma referência ao Governo britânico) recusou comentar o caso de Andrew Sabisky”, afirmou, acrescentando que, tendo em conta as suas opiniões, “não tem lugar no governo”.

Outro deputado conservador, William Wragg, concordou e na noite de segunda-feira afirmou que Sabisky “tem de sair”. “Tudo bem com ‘desajustados’ e ‘esquisitóides’, mas por favor, eles não podem ofender gratuitamente. Não acredito que eu seja o único que está desconfortável com as tendências mais recentes no Número 10.”

Pouco depois, Andrew Sabinsky anunciava publicamente a sua demissão.