O secretário-geral da Fretilin, maior partido no parlamento timorense, disse esta sexta-feira ter um “otimismo moderado” sobre a possibilidade de formar um novo Governo com uma maioria parlamentar em Timor-Leste.

Posso dizer que há um otimismo moderado do nosso lado sobre a possibilidade de sermos nós a formar governo com uma coligação, inclusão e incidência parlamentar”, disse esta sexta-feira Mari Alkatiri, em declarações à Lusa. “É aquilo que já tinha avançado em 2017 [depois da vitória da Fretilin nas legislativas desse ano]. Garantindo à partida uma maioria parlamentar porque a chave aqui está no parlamento, não no Governo”, explicou.

O dirigente da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) disse ainda assim que o seu otimismo moderado “é justificado” e que no sábado “haverá luz ao fundo do túnel”, garantindo uma aliança a “100 por cento” com o Partido Libertação Popular (PLP), do atual primeiro-ministro, Taur Matan Ruak. Uma opção, explicou, que garante à coligação 31 dos 65 lugares no parlamento (23 da Fretilin e oito do PLP) a que se somam “dois outros” dos partidos mais pequenos — sem explicar quais — e mais um em modelo de incidência parlamentar.

Em causa estão os apoios dos três deputados dos partidos mais pequenos no parlamento, Partido Unidade e Desenvolvimento Democrático (um deputado), Frente Mudança (um) e União Democrática Timorense (um). Os mesmos deputados são apontados também como podendo integrar a coligação que primeiro foi anunciada, liderada pelo Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) de Xanana Gusmão — 21 deputados — com os cinco cada do Partido Democrático (PD) e Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO).

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Um alto dirigente do CNRT disse à Lusa que os três deputados das forças mais pequenas “estão garantidos” na coligação liderada por Xanana Gusmão. A mesma informação foi confirmada por um alto dirigente do PD que esta sexta-feira escreveu ao CNRT a confirmar a sua participação na coligação. A Lusa tentou confirmar a posições dos três partidos, não tendo conseguido obter qualquer comentário até ao momento.

Questionado sobre o facto de o partido recuar nas repetidas afirmações de que não estava interessado em liderar ou integrar uma coligação de governo — feitas nas últimas semanas — Mari Alkatiri disse que o partido “não tinha outra alternativa” no momento atual.

A Fretilin só entrou nestes novos arranjos porque não tinha outra opção. Tinha de entrar para criar alternativa porque se não teria havido uma única alternativa e não haveria escolha”, disse. “Mas não estava dentro da estratégia da Fretilin governar agora ou participar no governo”, afirmou.

Questionado sobre quem liderará o governo — em cima da mesa pode estar a continuidade do atual primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, segundo fontes partidárias -, Mari Alkatiri recusou comentar. “Eu prefiro não adiantar nada sobre isso. Não me preocupo muito com isto”, afirmou.

Sobre o facto da Fretilin vir a assumir eventualmente as rédeas do governo a meio do mandato, Alkatiri disse que as prioridades do partido se mantêm.

Naturalmente que governar dois anos e meio não é o mesmo que governar cinco anos. Seria um programa pela metade. Mas as prioridades para a Fretilin são sempre claras: assumimos que o mal é sistémico e que temos de corrigir muito do sistema”, sublinhou.

Timor-Leste vive há vários anos uma crise política que se adensou depois do chumbo ao Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2020.