O mundo acordou no sábado com a notícia das primeiras mortes de cidadãos europeus infetados com o novo coronavírus (Covid-19), em Itália. Um homem morreu na noite de sexta-feira na região de Veneto, bem como uma mulher na Lombardia, este sábado de manhã.

O facto de uma destas mortes ter sido de uma pessoa que não esteve na China nem, aparentemente, em contacto com outros infetados, preocupa as autoridades.

E isto acontece no momento em que no norte de Itália se registou um aumento considerável de casos, razão pela qual há centenas pessoas isoladas em quarentena e vários edifícios como escolas, supermercados e bares encerrados. Há mais de 200 infeções confirmadas, a grande maioria na Lombardia, mas não só: também as regiões de Veneto, Emilia-Romagna, Lazio e Piemonte registam vários casos. Turim e Milão também têm infetados. Os números têm sido atualizados ao longo dos dois últimos dias e só na manhã desta segunda-feira foram confirmadas duas mortes.

Ao mesmo tempo, vários cidadãos europeus que estavam no cruzeiro ao largo do Japão onde se assinalou a presença do vírus já regressaram a casa. Afinal de contas, o que se sabe sobre o coronavírus na Europa, neste momento?

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  • As primeiras mortes de cidadãos europeus, mas não a primeira morte na Europa

Os dois italianos que morreram são os primeiros cidadãos europeus a não sobreviverem à estirpe de coronavírus. Mas não são os primeiros a morrer infetados com o Covid-19 na Europa. A 15 de fevereiro, um turista chinês em França morreu infetado com coronavírus, num hospital de Paris. O homem em causa tinha 80 anos e vinha da província de Hubei, onde se localiza a cidade de Wuhan, epicentro deste surto.

  • Perfil da primeira morte em Itália é atípico

Adriano Trevisan, um pedreiro reformado de 78 anos, foi o italiano que morreu esta sexta-feira à noite, infetado com coronavírus. O seu perfil é atípico, já que este paciente nunca esteve na China e não parece ter tido contacto com nenhuma outra pessoa infetada pelo vírus. E o mesmo se aplica a um segundo caso identificado na mesma vila, Vo Euganeo, de um homem de 67 anos que já estará hospitalizado. Algo que, como lembra o Le Monde, “levanta receios de que esteja a acontecer um progresso real da epidemia”, maior do que o antecipado pelas autoridades. A segunda vítima mortal em Itália estava hospitalizada há dez dias. A terceira era doente oncológica.

  • Medidas de segurança reforçada em Itália

Estes casos na vila de Vo Euganeo levaram as autoridades locais a encerrar escolas e lojas na região. Também na Lombardia, onde se registou a segunda morte, há a registar pelo menos outros 47 casos de coronavírus. Segundo o La Reppubblica, dez municípios estão isolados, com cerca de 250 pessoas em quarentena. As escolas, os edifícios públicos e os bares também foram encerradas e as autoridades têm pedido aos residentes que não saiam de casa.

A nível nacional, o ministério da Saúde italiano ordenou aos cidadãos do país que tenham estado nas áreas infetadas pelo vírus na China nos últimos 14 dias para ficarem em casa e comunicarem às autoridades que estiveram na China. “O não cumprimento destas medidas constituirá uma violação da lei”, explica o Corriere della Sera.

  • O paciente-zero italiano

O coronavírus terá chegado a Itália pela Lombardia a 21 de janeiro. Um italiano vindo da China traria consigo o vírus, mas não demonstrou qualquer sintoma, razão pela qual prosseguiu a sua vida normal. De acordo com o La Stampa, chegou mesmo a ser testado no Hospital de Milão, mas os resultados vieram negativos. As autoridades de saúde calculam que talvez por essa altura já não estivesse infetado.

Pelo meio, contudo, contactou com várias pessoas e terá infetado um amigo, de 38 anos, residente em Codogno. A mulher deste amigo, grávida de oito meses, seria também infetada. Este segundo homem acabaria por transmitir o vírus a três clientes de um bar aonde ia habitualmente e a cinco profissionais de saúde.

  • OMS preocupada com evolução do vírus

Este sábado de manhã, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já revelou preocupação com a evolução mais recente do vírus: “Embora o número de casos fora da China continuem a ser relativamente poucos, estamos preocupados com o número de casos sem ligação epidemiológica clara, como um historial de viagens para a China ou contacto com outros casos”, disse o seu diretor, Tedros Adhanom Ghebreyesus, num briefing.

“A janela de oportunidade para manter esta epidemia controlada está a fechar-se”, avisou Ghebreyesus, que no entanto sublinhou que, por enquanto, o número de mortes não ficou aquém dos 2% de casos detetados e que o risco de morte é maior em doentes mais velhos e com problemas de saúde pré-existentes. A “principal preocupação” da OMS é que o Covid-19 chegue a países com sistemas de saúde mais frágeis, como em África.

  • Europeus a bordo do Diamond Princess começam a chegar a casa

Depois de os Estados Unidos terem retirado os seus cidadãos do Diamond Princess, o cruzeiro que está em quarentena ao largo do Japão com vários passageiros infetados, incluindo um português, por coronavírus, agora é a vez de vários países europeus fazerem o mesmo. A Itália chegaram os 19 italianos que estavam a bordo. Todos tiveram resultados negativos nos testes, mas continuarão isolados.

Também ao Reino Unido chegaram os 35 britânicos que estavam no Diamond Princess e que também serão diretamente levados para uma zona de isolamento. E seis alemães chegaram a Berlim, sendo depois transportados pela Cruz Vermelha para as suas casas, onde permanecerão de quarentena, explica o Die Welt.