A OCDE reviu em baixa as estimativas de crescimento para as principais economias, prevendo agora um aumento de 2,4% do PIB mundial (menos 0,5 pontos percentuais do que a última previsão) e de 0,8% para a zona Euro. Na base deste pessimismo está o novo coronavírus — que começa a abalar a frágil recuperação em curso —, assumindo que os picos de epidemia na China no primeiro trimestre de 2020 e os surtos noutros países possam ser moderados e contidos.
No relatório das previsões económicas intercalares divulgado esta segunda-feira (que não tem referências a Portugal), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico prevê uma desaceleração dos principais motores da zona Euro — a Alemanha (menos 0,1 pontos percentuais, para 0,3% de crescimento), França (menos 0,3 p.p., para 0,9%) e Itália, o país mais atingido pelo novo coronavírus na Europa (menos 0,4 p.p, passando a ter estagnação da atividade económica).
Os crescimentos do Reino Unido (menos 0,2 p.p., para 0,8%), dos Estados Unidos (menos 0,1 p.p., para 1,9%), do Japão (menos 0,4 p.p., para 0,2%) e da Coreia do Sul, um dos países mais afetados pela doença Covid-19 (menos 0,3 p.p., para 2,0%), também são atingidos pelo surto. O maior impacto, no entanto, é sentido na China, que deverá crescer menos 0,8 p.p. do que a OCDE tinha previsto, para 4,9%.
Mas este não é o pior cenário. A OCDE adverte que um surto “mais duradouro e intensivo, alargado às regiões Ásia-Pacífico, Europa e América do Norte enfraqueceria as perspetivas consideravelmente”. “Neste caso, o crescimento mundial poderia descer para 1,5% em 2020, metade do número projetado antes do surto do vírus”, assinala a organização sediada em Paris.
Relembrando que a província chinesa de Hubei, origem do novo coronavírus, contribui para 4,5% da produção local, a OCDE destaca que “os declínios na produção na China foram sentidos rapidamente pelas empresas por todo o mundo, dado o papel chave da China nas cadeias de produção mundiais como produtora de bens intermediários, particularmente computadores, eletrónica, fármacos e equipamento de transporte”.
“Restrições às viagens e o cancelamento de muitas visitas, voos e eventos de trabalho e lazer estão a afetar severamente muitos serviços. É provável que isto persista por algum tempo”, segundo a OCDE, que assinala que os turistas chineses representam cerca de 10% do turismo internacional.
A organização presidida por Ángel Gurría defende ainda, no seu relatório, que “estímulos à política macroeconómica nas economias mais expostas ajudarão a restaurar a confiança, à medida que os efeitos do surto do vírus e as disrupções no lado da oferta desvanecem”.
“As baixas taxas de juro devem ajudar a amortecer a procura, apesar do impacto das mudanças recentes e projetadas na política de taxas de juro na atividade [económica] deva permanecer modesto nas economias avançadas”, segundo a OCDE.
Tanto na China como nas economias mais afetadas, a OCDE recomenda ainda que no curto prazo seja providenciada “liquidez ao sistema financeiro” por parte dos bancos, particularmente às pequenas e médias empresas, e que não deixem empresas abrir falência durante a aplicação de medidas de contenção do surto.