Em plena crise de coronavírus, que cresce em Itália como em nenhuma outra parte do mundo, o governo decretou o encerramento de escolas, parques e até a circulação nas ruas é condicionada. Porém, as fábricas do país continuam sem ordem do Governo para fechar, sendo que a decisão de suspender ou não a produção foi deixada ao critério das empresas.

Os operários, alarmados com a falta de proteção contra o vírus nas fábricas, que muitas empresas insistem em deixar abertas, estão a fazer greve de forma espontânea.

Os sindicatos do setor metalúrgico (Fim, Fiom e Uilm) já deram ordens aos delegados para “abrirem confronto com as direções empresariais para levantarem o tema das condições para evitar formas de contágio” e pedem ao Governo que encerre as fábricas até 22 de março, de maneira a dar tempo para desinfetar cada uma delas.

Esta sexta-feira, pelas 10h00 de Lisboa (11h00 de Itália), o primeiro-ministro de Itália, Giuseppe Conte, teve uma reunião por videoconferência com os parceiros sociais. Não há, para já, qualquer resultado anunciado dessa reunião.

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Sem querer esperar por um entendimento entre sindicatos, empresas e o governo, houve trabalhadores de várias fábricas a fazer greve em largas dezenas de fábricas em todo o país, que trabalham para marcas como a Electrolux, Toshiba, Black & Decker, Toyota, Iveco ou Whirlpool.

“É como se a saúde dos trabalhadores viesse depois do lucro”

“Fecha-se tudo menos as fábricas, é como se a saúde dos trabalhadores viesse depois do lucro”, reclamou o secretário-geral da confederação sindical Fiom-Cgil, de acordo com o Il Giorno.

“O governo diz-nos: ‘eu fico em casa’. E regula tudo, até se e quando podemos passear o cão. Tudo bem, pode ser. Mas nós exigimos que o governo regule também como é que se deve estar nos locais de trabalho, porque os operários não são cidadãos 24 horas menos 8”, disse ao La Repubblica a líder nacional do Fiom-Cgil, Francesca Re David.

O diretor da Proteção Civil italiana, Angelo Borrelli, defendeu que os trabalhadores das fábricas devem usar máscaras enquanto estiveram a trabalhar caso não seja possível manter uma distância de segurança dos colegas, como acontece por exemplo nas linhas de montagem. “Não é preciso máscara se se mantiver uma distância de um metro”, disse aquele responsável, acrescentando que ainda assim se espera a apreciação de um comité especializado para serem publicadas as recomendações para o uso de máscara.

“Mas as máscaras estão onde?”, questionou a líder sindical Francesca Re David. “O Governo que assuma a responsabilidade de estabelecer quais são as condições de segurança nos locais de trabalho. Não é possível que as prescrições normativas contemplem quase exclusivamente os cidadãos-utentes e não os trabalhadores.”

Coronavírus cresce mais depressa em Itália do que em qualquer outra parte do mundo

O alerta dado por trabalhadores e sindicatos em Itália surge numa altura em que aquele país é o que regista um maior crescimento do novo coronavírus.

De acordo com o boletim diário desta sexta-feira, o novo coronavírus já afetou 17.660 pessoas em todo o país. Destas já morreram 1.266 e 1.439 foram curadas.

Estas notícias contrastam com a situação na China. Ao todo, a cidade de Wuhan, onde o coronavírus se propagou mais rapidamente desde o início da crise, registou apenas cinco casos esta sexta-feira. No resto do país, não houve infeções transmitidas localmente.