Os médicos do Hospital da Luz de Setúbal escreveram esta segunda-feira um apelo dramático aos “cidadãos” no sentido de promover o isolamento social em nome de um bem maior: diminuir a velocidade de contágio e, com isso, permitir que os hospitais consigam dar a resposta adequada aos doentes. “A quarentena auto-induzida pode salvar vidas”, dizem no texto.

Para isso, os médicos daquele hospital privado não hesitam em prever que o cenário que se vive em Itália e em Espanha pode mesmo vir a ser registado em Portugal e que 70% da população pode vir a ficar infetada. O comunicado não consta do site do Hospital da Luz Setúbal mas a veracidade do mesmo foi confirmada ao Observador por médicos autores do mesmo.

O número de 70% de infetados é o mesmo número para o qual a chanceler alemã Angela Merkel alertou há uns dias, lembrou à Rádio Observador o especialista em doenças respiratórias e consultor da DGS Filipe Froes, que reforçou que é para evitar esses cenário que é preciso implementar o mais rapidamente possível medidas que envolvem todos os cidadãos.

“Estamos em Guerra! Salve Vidas Hoje!”, lê-se numa das últimas linhas do comunicado dos médicos da Luz Setúbal, que o Observador confirmou ser autêntico. “É necessário manter a calma e serenidade, mas não desvalorizar o impacto que a pandemia do Covid-19 terá na nossa sociedade”, começam por dizer aqueles médicos, sublinhando que “tudo aponta para que o cenário que se está a viver em Itália, Espanha e outros países europeus, se torne a realidade diária também no nosso país”.

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O comunicado dos médicos do Hospital Luz Saúde, dirigido a todos os portugueses

Depois, os números: alguns estudos apontam para uma taxa de infeção de cerca de 70% da população, sendo que, desses, apenas 10% dos portugueses deverão necessitar de tratamento hospitalar e, desses, uma pequena percentagem necessitará de ser ventilado e internado em Cuidados Intensivos. Em todo o caso, os números absolutos preveem-se elevados. “Neste momento e a julgar pelos dados da Direção Geral de Saúde existem já milhares de portugueses infetados”, notam ainda aqueles médicos, afirmando que os profissionais de saúde, no terreno, já estão a dar conta de um aumento exponencial de doentes a chegar às urgências com sintomas de doença respiratória.

A maioria dos casos graves ocorrerá em pessoas idosas e debilitadas por outras doenças crónicas, mas os médicos não descartam que a doença também chegará aos jovens. “Estes casos mais graves irão afetar principalmente pessoas mais idosas ou debilitadas por alguma outra doença crónica. Existirão jovens gravemente doentes, tal como acontece na maioria das doenças infecciosas e alguns também vão necessitar de cuidados intensivos, mas a maioria dos jovens quase não dará pela doença”, lê-se.

No final, a conclusão é clara: só se cada um dos portugueses der o seu contributo individual no sentido de diminuir a velocidade de contágio, através da “quarentena auto-induzida”, os hospitais conseguirão dar resposta. Caso contrário, “não teremos obviamente capacidade”. “A quarentena auto-induzida pode salvar vidas”, concluem, apelando a que se passe a informação.