O Banco Mundial (BM) prevê uma recessão mundial de 5,2% em 2020, a mais profunda em oito décadas, “apesar das políticas sem precedentes” de mitigação do impacto da Covid-19, segundo as Perspetivas Económicas Mundiais divulgadas esta segunda-feira.

Esta seria a recessão mundial mais profunda desde a II Guerra Mundial, e quase três vezes tão acentuada como a recessão global de 2009″, caso as projeções se confirmem, pode ler-se no documento esta segunda-feira conhecido, que aponta para uma queda de quase 8% num cenário mais adverso, e superior a 3% num mais otimista.

Para além da recessão de 5,2% prevista para a economia mundial, a instituição presidida por David Malpass prevê quebras de 7,0% no agregado das economias avançadas, entre as quais a zona euro (-9,1%), os Estados Unidos (-6,1%) e o Japão (-6,1%).

Para 2021, o banco projeta uma recuperação de 4,2% na economia mundial, com as economias avançadas a crescerem 3,9%, entre as quais a zona euro (4,5%), os Estados Unidos (4,0%) e o Japão (2,5%).

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Os números do Fundo Monetário Internacional, divulgados no início de abril, apontavam para uma quebra menor, de 3% da economia mundial, em 2020, arrastada por uma contração de 5,9% nos Estados Unidos, de 7,5% na zona euro e de 5,2% no Japão.

No relatório esta segunda-feira conhecido, o Banco Mundial aponta que a pandemia “deve arrastar uma maioria de países para uma recessão este ano, com a produção ‘per capita’ a contrair na maior proporção de países desde 1870”.

É projetado que as economias avançadas encolham 7% em 2020, dado que as abrangentes medidas de distanciamento social, o encolhimento agudo das condições financeiras e o colapso da procura externa deprimiram a atividade”, segundo o Banco Mundial.

A instituição sediada em Washington assinala também que “assumindo que o surto permanece sob controlo e a atividade recupera mais tarde este ano, é projetado que a China abrande para 1% em 2020 – de longe, o crescimento mais baixo que registou em mais de quatro décadas”.

O cenário base do Banco Mundial “assume que a pandemia retrocede de tal forma que as medidas de mitigação doméstica podem ser levantadas a meio do ano, que as repercussões adversas globais abrandam na segunda metade do ano, e que as deslocações nos mercados financeiros não são duradouras”.

A recessão mundial seria mais profunda se controlar a pandemia demorar mais tempo do que o esperado, ou se o ‘stress’ financeiro espoletasse falências ’em cascata’. A pandemia revela a necessidade urgente para ações de política de saúde e económica – incluindo cooperação mundial – para amortecer as suas consequências, proteger as populações vulneráveis e melhorar a capacidade dos países para prevenir e lidar com com eventos semelhantes no futuro”, pode ler-se no documento hoje conhecido.

De acordo com o Banco Mundial, o comércio mundial deverá “cair mais em 2020 do que aconteceu na crise financeira mundial, em parte devido às disrupções que a pandemia de covid-19 causou às viagens internacionais e às cadeias de valor globais”.

“O investimento, que é mais cíclico e mais sensível ao comércio que outras categorias de gastos, declinou a nível mundial, à medida que as empresas encontram problemas de financiamento e atrasos nas expansões”, segundo o BM, que destaca que as exportadoras “tendem a ser particularmente ativas no mercado de crédito”, sendo por isso mais afetadas quando aumenta o custo do crédito.

O BM assinala inclusive que “as disrupções nos mercados de crédito tiveram um papel importante na contração do comércio mundial na crise financeira mundial e na fraqueza subsequente da sua retoma”, alertando que “este padrão está em risco de ser repetido”.

A quebra de atividade acentuada na primeira metade do ano deverá contribuir para uma contração do comércio global de cerca de 13,4% em 2020″, assumindo a instituição financeira que a recuperação deverá começar na segunda metade do ano, à medida que “são levantados controlos, as viagens retornam a níveis mais típicos, e os fabricantes renovam o inventário”.

No entanto, a retoma deverá ser “historicamente fraca, refletindo o caráter excecional da atual crise, bem como a duração temporal que levará a recuperação da confiança, para substituir empresas falidas, e para estabelecer ambientes de trabalho e entretenimento ‘virus-safe’ [sem vírus]”.

Como maiores riscos, o Banco Mundial alerta para uma recuperação mais lenta, alastramento da crise económica ao mundo financeiro, disrupções relacionadas com os baixos preços das matérias-primas.