Joel Schumacher, que morreu esta segunda-feira, dia 22 de junho, em Nova Iorque, aos 80 anos, e que teve os seus melhores anos nas décadas de 80 e 90, era um daqueles realizadores pouco queridos da crítica mas que tinha o sentido do funcionamento da indústria cinematográfica e sabia movimentar-se dentro dela, e dos seus géneros, captar-lhe as modas e as tendências e agradar ao grande público, aos produtores e aos estúdios. Nunca andou no radar dos Óscares e os seus prémios eram as boas bilheteiras. Fez um dos filmes de culto da década de 80, “Os Rapazes da Noite”.

Morreu Joel Schumacher, realizador de “Linha Mortal”, “O Cliente” e dois filmes da série “Batman”

Quando era mau, Schumacher era muito mau: berrante, espalhafatoso, sentimentalão e “camp”. Basta olhar para nados-mortos como “Entre Primos”, “Linha Mortal”, “A Escolha do Amor”, “Número 23” (Jim Carrey e Joel Schumacher juntos, péssima ideia), “O Destino de um Ex-Combatente”, “Más Companhias”, “O Fantasma da Ópera” (mais “kitsch” que esta versão, é impossível) ou “Town Creek”; ou para os dois grotescos filmes da série “Batman” que assinou, “Batman para Sempre” (1995), com Val Kilmer no Homem-Morcego, e “Batman & Robin” (1997), com George Clooney, e onde teve a peregrina ideia de pôr mamilos no uniforme do herói. No final das filmagens, Clooney desabafou: “Acho que acabámos de matar a série”. Mas tarde, o realizador pediria desculpa aos fãs, numa entrevista nos extras da edição em DVD e Blu-ray. “Batman” só arrebitaria em 2005, com Christopher Nolan ao leme.

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Schumacher chegou ao cinema vindo do mundo da moda, passou pela direção artística, depois foi argumentista (escreveu a comédia “Car Wash” e o subvalorizado “O Feiticeiro”, de Sidney Lumet), fez um par de telefilmes e realizou a primeira fita logo a abrir a década de 80. Quando se apurava e tinha o argumento certo, Joel Schumacher, que era também um inspirado diretor de atores, fez alguns filmes perfeitamente potáveis, dois ou três mesmo francamente bons. Eis o que fica de uma filmografia industrial e comercialmente coerente mas em montanha-russa de qualidade.

“Queridos, a Mamã Encolheu” (1981): Uma comédia satírica de ficção científica, com Lily Tomlin no papel de uma dona de casa e mãe de família que começa a encolher devido a um acidente doméstico com químicos. A interpretação de Tomlin é mais de meio filme.

“O Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas” (1985): Está nesta lista unicamente porque Joel Schumacher conseguiu meter no mesmo filme quase todo o “Brat Pack”, a novíssima geração de atores da altura, de Ally Sheedy a Rob Lowe, de Emilio Estevez a Demi Moore. Uns singraram, outros afundaram-se.

“Os Rapazes da Noite” (1987): Um dos raros filmes A+ do realizador, o anti-“Peter Pan”, uma história de vampiros adolescentes e “bikers” com um papelão de Kiefer Sutherland no seu líder. É um “teen movie” que consegue funcionar também como filme de terror e tal como mandam as regras do género.

“Um Dia de Raiva” (1993): Michael Douglas interpreta nesta fita, hoje politicamente incorretíssima, um zé-ninguém ao qual rebentam os fusíveis e que entra numa senda de violência contra a escumalha das ruas e os empecilhos à existência do cidadão comum de Los Angeles. Concorreu no Festival de Cannes.

“O Cliente” (1994): Sólida e seguríssima adaptação do livro de John Grisham sobre uma advogada (Susan Sarandon) que aceita representar um rapaz (Brad Renfro) que testemunhou um assassínio da Máfia. Cheio de ótimos atores muito bem dirigidos por Schumacher. Sarandon foi nomeada ao Óscar de Melhor Actriz.

“Tigerland-O Teste Final” (2000): Um drama de guerra passado durante a Guerra do Vietname, mas fora dela, num campo de treino militar na Louisiana, o Tigerland do título, onde eram simuladas as condições de combate na selva asiática. Um filme com paladar “indie” e Colin Farrel muito bom no soldado “cool”, lúcido e vivaço.

“Cabine Telefónica” (2003): Colin Farrel é um publicitário mulherengo que fica encurralado por um atirador furtivo numa cabina telefónica de Nova Iorque. Quem será o atirador, e como vão tirar o alvo humano da cabina e anular aquele? Uma fita de tema, economia, vigor, tensão e duração de série B, e uma das melhores de Joel Schumacher.