A investigação, que começou depois de, no final de abril, em pleno pico da pandemia em Espanha e em apenas uma semana, terem dado entrada nas urgências do Hospital Pediátrico Niño Jesús, em Madrid, mais de 30 crianças com lesões na pele semelhantes às produzidas pelas frieiras, dolorosas e arroxeadas, nas mãos e nos pés, quase sempre na zona dos dedos, foi recentemente publicada no British Journal of Dermatology e veio confirmar uma teoria que já antes tinha sido avançada: as lesões cutâneas podem ser mais um dos múltiplos sintomas já documentados do vírus responsável pela Covid-19.

De acordo com a equipa composta por investigadores do Hospital Pediátrico Niño Jesús, do serviço de Anatomia Patológica do Hospital 12 de Outubro e da Fundação Jiménez Díaz, todos na capital espanhola, o novo coronavírus pode causar danos vasculares e levar até à formação de pequenos trombos nos vasos afetados. Mais: pode fazê-lo mesmo em pacientes com carga viral tão reduzida que nem chega a ser detetada pelos testes de diagnóstico ao coronavírus.

A “maior parte” dos sete pacientes cujas biopsias foram analisadas no decorrer do estudo tinha tido resultados negativos nas análises ao SARS-COV-2, pode ler-se no estudo. Não obstante, os cientistas conseguiram isolar pela primeira vez, em todas as amostras, a proteína característica do novo coronavírus em células endoteliais, que revestem o interior dos vasos sanguíneos.

Os resultados do trabalho poderão ser essenciais para determinar por que motivos as crianças não desenvolvem, na generalidade dos casos, formas graves da doença.

Poderá o suor ser fonte de contaminação?

Outros investigadores espanhóis, dos serviços de Patologia e Dermatologia da Fundação Jiménez Díaz, conseguiram, posteriormente, isolar não apenas a proteína característica do SARS-COV-2 em células endoteliais, mas também em glândulas sudoríparas (produtoras de suor), numa paciente cujo teste à Covid-19 deu negativo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em causa está uma mulher de 35 anos que se dirigiu às urgências também com lesões purpúricas acrais (manchas normalmente de cor avermelhada ou arroxeada), que duravam há já três semanas.

Segundo este outro estudo, publicado igualmente no British Journal of Dermatology, as lesões apareceram na mesma altura em que a paciente teve febre e tosse, que duraram apenas dois dias, não havendo qualquer histórico de diarreia, dispneia ou quaisquer outros sintomas típicos da infeção por Covid-19.

Imagens que acompanham o relatório

Após ter sido descartada a possibilidade de se tratar de uma trombose vascular, foi detetada alguma destruição vascular e a formação de um trombo (coagulação de sangue no interior do vaso sanguíneo) num pequeno vaso, onde, graças ao uso de um anticorpo, foi possível isolar a proteína do vírus.

As conclusões vão ao encontro das referidas noutros estudos, que concluem que o novo coronavírus, além de provocar uma desordem pulmonar, como era apoiado inicialmente, afeta outros sistemas, como o cardiovascular e exócrino, que inclui as glândulas sudoríparas.

A presença do vírus nestas glândulas sugere que o suor poderá ser uma fonte de contaminação, uma conclusão que deve ser interpretada com “cuidado”, segundo o relatório.