“Eu tinha saído para beber uns copos e conheci um rapaz da fraternidade através de amigos. Tive um colapso e ele confortou-me. Expliquei-lhe que noutra noite tinha sido sexualmente agredida”. Acabou abusada pelo confidente. Começa assim uma das dezenas de histórias contadas na primeira pessoa através de uma conta do Instagram criada para este efeito e dedicada a vítimas de abusos sexuais, ataques racistas, agressões da Universidade de St. Andrews, na Escócia. A histórica instituição académica britânica enfrenta um escândalo sexual e está a cooperar com a polícia que está a investigar as denúncias anónimas que estão a surgir há uma semana no feed da conta “standrewsurvivers”.

No site oficial, a Universidade fundada em 1413 já fez publicar um guia de aconselhamento para vítimas de abusos no campus, garantindo que está e está “comprometida em fornecer um ambiente seguro que permita a confiança para trabalhar, estudar, inovar e se destacar sem medo que uma má conduta sexual seja usada contra” os seus alunos. E pede à população académica que tenha sido vítima ou conheça alguém que tenha sofrido de abusos contacte o Atendimento ao Estudante para obter “aconselhamento” e “acompanhamento” por uma equipa especializada.

Mas entre os vários testemunhos publicados no Instagram conta-se pelo menos um em que a vítima diz ter contactado estes serviços depois de ter sido violada e que a denúncia acabou por não ter desenvolvimento (ver depoimento abaixo). Foi apenas aconselhada a ser seguida em consultas semanais e advertida para os “problemas legais” que poderia ter caso outros alunos ouvissem a sua história. “Acredito que a intenção fosse boa, mas senti-me muito manipulada”, escreve agora numa publicação anónima.

Muitos dos casos que se encontram relatados pelos jovens começam com álcool e festas da universidade, envolvem caloiros e acabam com abusos. Um dos casos que aparece no feed da referida conta de Instagram é o de um rapaz que no seu primeiro ano como membro do Clube de Hockey de St Andrews foi abusado por uma rapariga do mesmo clube. O rapaz conta como a história pesou sobre si desde então e que nem a própria família admitia que um homem pudesse ser vítima de abusos”.

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Muitas das publicações referem uma fraternidade específica, a Alpha Epsilon Pi, que teve origem nas universidades americanas (onde também já registou escândalos do mesmo género). Uma das vítimas descreve mesmo que fez queixa do seu caso às chefias da fraternidade: “Fiz questão que soubesse que eu e a minha melhor amiga éramos sobreviventes de uma agressão sexual pela Alpha Epsilon Pi. Eles não deram importância”.

Há dois dias, o The Guardian avançou (acesso reservado a assinantes) que alguns membros da fraternidade existente na universidade escocesa estavam a ser afastados das suas funções. O grupo é constituído por cerca de 50 “irmãos” e no início deste mês emitiu um comunicado a dizer que estava a “levar extremamente a sério as alegações” que envolvem membros da fraternidade e que considera “abomináveis”.

“A fraternidade é contra — e os seu membros estão absolutamente proibídos — condutas de assédio sexual ou de abuso sexual”, insiste este grupo no comunicado que divulgou na página oficial de facebook. E esses “comportamentos proibidos” incluem, acrescentam no texto, “propostas insistentes, pressão coerciva, contacto físico indesejado e violência física”.

Posted by AEPi St Andrews on Friday, July 3, 2020

Aliás, a nota já revelava que iriam ser suspensos os membros que tivessem tido qualquer papel nos incidentes relatados iniciando processos de expulsão.

St Andrews é a terceira universidade de língua inglesa mais antiga do mundo de língua inglesa, tendo sido frequentada por figuras como o príncipe William — foi aliás no tempo que frequentou aquela instituição que conheceu a sua mulher Kate Middleton, também ela então aluna em St Andrews.

À CNN, o porta-voz da instituição disse que já contactou os responsáveis pela página de Instagram que está a divulgar os casos de abuso na instituição, prestando apoio. “A principal preocupação da Universidade é garantir que os ‘Sobreviventes’ saibam que estamos prontos e dispostos a apoiar as suas decisões e a tomar medidas, facilitar os relatórios da polícia e fornecer apoio contínuo”, acrescentou a universidade.