Se Portugal não tem qualquer equipa na final eight da Liga dos Campeões que será disputada em Lisboa, o mesmo não acontece com a Alemanha e com a fase final da Liga Europa que vai decorrer em quatro cidades do país. Dono de uma vantagem única entre todas as equipas apuradas para a fase decisiva das duas competições europeias, o Bayer Leverkusen desfrutava desde logo desse conforto de jogar no próprio país e de ir à procura de conquistar um troféu internacional dentro de portas — em Colónia, local da final, a escassos 40 minutos de carro de Leverkusen. E esse era um dos motivos apresentados pela própria Bundesliga para o facto de os alemães terem vantagem no confronto inicial com o Inter Milão.

Num artigo publicado esta segunda-feira no site oficial da Bundesliga, a liga alemã reunia cinco razões pelas quais o Bayer Leverkusen iria vencer e eliminar o Inter: a qualidade do jovem Kai Havertz, a dupla formada por Moussa Diaby e Leon Bailey, a já mencionada vantagem de jogador em casa, a capacidade de bater grandes equipas e o futebol ofensivo e rápido que é a especialidade do treinador Peter Bosz. Tudo isto, para os responsáveis da liga alemã, era suficiente para afastar um dos grandes candidatos à conquista final do troféu — mas do outro lado, e nas palavras de Antonio Conte, estava uma equipa que iria deixar tudo em campo para conseguir seguir em frente.

“Temos de ser positivos. Trabalhamos muito para atingir o objetivo, que deve ser sempre o mais alto possível. Para ir daqui até ao fim, temos de o provar em campo. Não podemos ter queixas. Teremos de dar tudo. Se for suficiente para chegar as meias-finais, à final e levantar do troféu, ficaremos felizes. Mas se viermos embora, quando for a altura certa de virmos embora, vamos embora sem queixas”, disse o treinador italiano na antevisão, acrescentando depois que a equipa tem disputou vários jogos seguidos com muito calor e em condições atmosféricas complicadas. “Há entusiasmo e desejo que enfrentar este desafio e chegar às meias-finais. Acho que estamos todos a trabalhar para colocar o Inter novamente onde pertence, que é ser uma equipa capaz de conquistar troféus”, terminou Conte, que fez as delícias das redes sociais ao participar numa das brincadeiras dos jogadores durante o treino.

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O objetivo do técnico é simples e tem razões claras. Há nove temporadas que o Inter Milão não conquista qualquer troféu, desde a Taça de Itália de 2011, e há dez anos que o clube não chega a vitórias de renome, desde a histórica época de 2009/10 em que a equipa de José Mourinho ganhou a Serie A, a Taça, a Supertaça, a Liga dos Campeões e o Mundial de Clubes. De lá para cá, entre a hegemonia interna da Juventus, o aparecimento de equipas como o Bayern de 2013 ou o Real Madrid tricampeão europeu e uma queda abrupta de qualidade dos nerazzurri, o Inter deixou de fazer parte das contas dos altos voos do futebol continental. Esta época, com Conte ao comando e uma equipa que descobriu em Lautaro e Lukaku uma parceria perfeita, o Inter tinha a oportunidade de voltar a colocar Milão num pedestal.

Em Düsseldorf, numa primeira parte que acabou por comprovar que este seria quase de certeza o melhor jogo dos quartos de final da Liga Europa, o Inter colocou-se em vantagem no primeiro lance de perigo. Lukaku recebeu de Ashley Young na grande área, de costas para a baliza, e foi intercetado quando tentou o remate; à entrada da área, com um remate de trivela, Barella atirou rasteiro e surpreendeu Hradecky (15′). Os italianos aproveitaram uma fase de maior superioridade na partida e chegaram ao segundo golo, num lance tirado a papel químico do primeiro mas onde acabou por ser Lukaku a ter a decisão final: o belga voltou a receber de costas para a baliza, novamente a passe de Young, mas conseguiu aguentar a pressão de Tapsoba até rematar de pé esquerdo (21′). Com este golo, o avançado tornou-se o primeiro jogador de sempre a marcar em nove jogos consecutivos na Liga Europa ou na Taça UEFA.

Ainda antes da meia-hora, e numa altura em que o Inter parecia estar numa posição confortável para seguir em frente na Liga Europa, Kai Havertz tirou um coelho da cartola e relançou o Leverkusen na partida. Num lance de insistência dos alemães, o jovem avançado combinou com Volland e rematou para bater Handanovic (24′). Na ida para o intervalo, e apesar da vantagem do Inter, pairava a ideia de que o Leverkusen ainda podia ir atrás do resultado na segunda parte e empenhar-se numa reviravolta que deixasse a equipa de Antonio Conte fora da Europa.

Na segunda parte, os dois treinadores decidiram mexer na mesma altura, pouco antes da hora de jogo: Bosz trocou Palacios por Bailey, Conte lançou Moses e Eriksen. O médio dinamarquês envolveu-se desde logo na partida, com um remate de longe (61′), e nesta altura parecia cada vez mais que os italianos estavam mais perto de voltar a marcar e matar a eliminatória do que os alemães de empatar o jogo. Alexis Sánchez, que assinou de forma definitiva pelo Inter nos últimos dias depois de ter estado emprestado pelo Manchester United no último ano, entrou para o lugar de Lautaro para tentar oferecer velocidade e dinamismo ao ataque da equipa e os italianos pareciam ter a passagem às meias-finais maioritariamente controlada.

Até ao fim, o Inter controlou a vantagem e segurou a vitória — com dois penáltis assinalados pelo árbitro e revertidos pelo VAR pelo meio –, eliminando uma das equipas que também era candidata à conquista final do troféu e que representava um dos maiores desafios ainda em competição. Os italianos estão na meia-final da Liga Europa, onde vão encontrar Shakhtar Donetsk ou Basileia, e estão a duas vitórias de apagar nove anos seguidos de marasmo no que toca a conquistas. E Lukaku, depois de ter desbloqueado o jogo dos oitavos de final contra o Getafe, voltou a marcar, atingiu um registo histórico e quer cada vez mais ser a figura de uma geração do Inter Milão que abriu a porta a anos mais felizes.