No Podemos existe uma “suborganização corrupta”, acusa um advogado despedido do partido, José Manuel Calvente, que nas últimas semanas denunciou desvio de fundos e gestão desleal – acusações que vão ser investigadas pela Justiça espanhola. Segundo o El Mundo, que neste domingo descreve o conteúdo da queixa, no partido que apoia o governo espanhol há práticas de “coerção”, “silenciamento” de dissidentes internos e pagamentos de “bónus” para alguns, aqueles que participam nas alegadas “ilegalidades”.

Esta é uma denúncia que surgiu na sequência da investigação interna no Podemos que estava a ser conduzida por Calvente e Mónica Carmona. Os dois foram despedidos em dezembro, em pleno processo de negociações para o Podemos entrar numa aliança de governo com o PSOE de Pedro Sánchez. A direção do partido justificou estas demissões com um alegado caso de assédio sexual e laboral de Calvente à advogada do Podemos Marta Flor Núñez. No entanto, escreve a imprensa espanhola, a queixa apresentada por esta contra o advogado despedido foi arquivada depois de o juiz ter considerado que não havia nada de ilícito nas mensagens trocadas entre os dois.

Este antigo responsável jurídico do Podemos, Calvente, denunciou uma rede de “prémios” que incluíam o pagamento de despesas “inflacionadas” em gastos correntes, como viagens de táxi. A troco de quê? Da colaboração “nos serviços de opacidade financeira que eram necessários para que a presumível rede corrupta realizasse os atos irregulares detetados”.

O juiz de instrução (Juan José Escalonilla) ouviu o denunciante no passado dia 29 de julho, tendo decidido envolver o Podemos como organização jurídica nesta investigação, mas também Juan Manuel del Olmo, responsável pela comunicação do partido, um colaborador próximo do líder, Pablo Iglesias, que está no governo de coligação. Juan Manuel del Olmo é o diretor de estratégia e comunicação da vice-presidência de direitos sociais e Agenda 2030, que é dirigida pelo líder do Podemos.

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São, ainda, visados o tesoureiro do partido, Daniel Frutos, e a gestora Rocío Esther Val. O magistrado convocou estas três personalidades para prestarem declarações no dia 20 de novembro, na qualidade de investigados, e deu ordem para o requerimento de muita documentação ao Podemos, incluindo dados da contabilidade e tabelas salariais. Estas diligências terão lugar depois de o juiz ouvir Gloria Elizo, atual terceira vice-presidente do Congresso e antiga responsável pela equipa legal do Podemos, e Mónica Carmona, uma das ex-advogadas do partido que foram dispensadas no final do ano passado. As duas foram chamadas para audições no dia 15 de setembro como testemunhas para refutar as denúncias feitas por Calvente.

O ex-responsável jurídico, que apresentou a queixa, parte do que é denunciado constatou-se quando se quis investigar as suspeitas de que decorria um “saque aos fundos” do partido. Essa gestora Rocío Esther Val terá tentado travar Calvente, garante este último. Além disso, a reação dessa gestora do Podemos foi cometer atos de assédio laboral a funcionários do partido, com “ameaças e manipulação para tentar obter demissões voluntárias” – práticas, diz Calvente, que chocam com as boas práticas pelas quais os sindicatos lutam em todo o mundo.

Podemos e braço direito de Iglesias investigados por denúncias de desvios em fundos para o partido