Depois das quatro goleadas a abrir a pré-temporada, os dois triunfos do Benfica na Luz “abertos” ao público, com Bournemouth e Sp. Braga, mostraram aquilo que aparenta ser mais ou menos óbvio para todos mas que às vezes acaba por cair no esquecimento: o futebol de pacotilha em que se junta os ingredientes com a receita teórica e se faz uma equipa de forma instantânea não existe. “Se o Benfica não jogar o dobro, voltamos a não ganhar. Temos condições para fazer uma equipa muito grande. Com o elenco que teremos não vamos jogar o dobro, vamos jogar o triplo”, disse Jorge Jesus na apresentação. E pode ter razão mas nunca durante uma pré-época, como o próprio também tem noção. Por isso, e com o handicap de não contar com vários jogadores ao serviço das seleções, este último jogo particular com o Rennes seria a oportunidade para assentar ideias e modelos para o início da época.

Mais do que Cavani ou Darwin, o maior reforço de todos era segurar Carlos Vinícius (a crónica do Benfica-Sp. Braga)

Em termos mais globais, o que correu bem nas duas últimas partidas? Sobretudo as dinâmicas ofensivas que se fizeram sentir na primeira parte com o Bournemouth e no arranque do jogo com o Sp. Braga, com Pizzi a assumir posição na frente em posições mais centrais e Rafa e Everton a aproveitarem não só a velocidade nas transições mas também a mobilidade em ataque organizado para visarem a baliza ou assistirem a principal referência na frente. O que devia ser melhorado? As transições defensivas quando o adversário consegue passar a primeira zona de pressão mais alta e o espaço entre defesa e meio-campo para jogo entre linhas ou segundas bolas. Na segunda parte, sobretudo a partir do momento em que Gabriel entrou e Pizzi subiu no terreno, isso raramente aconteceu porque a equipa posicionou-se melhor e com isso todos os setores melhoraram de forma automática. E essa acabou por ser a grande nota coletiva de destaque, a dez dias da estreia oficial dos encarnados com o PAOK.

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O ONZE INICIAL (4x2x3x1). Vlachodimos; Gilberto (João Ferreira, 83′), André Almeida, Ferro, Nuno Tavares (Grimaldo, 76′); Weigl (Samaris, 83′), Pizzi (Chiquinho, 83′); Rafa (Diogo Gonçalves, 76′), Pedrinho (Gabriel, 60′), Everton Cebolinha (Cervi, 76′) e Carlos Vinícius (Darwin Núñez, 76′). Golos: Pizzi (32′, g.p.) e Gabriel (64′)

O MELHOR. Pizzi nem começou da melhor forma jogando como ‘8’ na posição de Taarabt e tendo Pedrinho ou Rafa à sua frente, com alguns passes errados e pouca bola na construção, mas foi melhorando com o passar dos minutos, a pisar terrenos um pouco mais avançados e a criar os desequilíbrios que o quarteto mais ofensivo não conseguida. A meio da primeira parte, o internacional testou a meia distância após uma finta de classe mas Salin defendeu (23′); mais tarde ganhou uma grande penalidade e converteu o castigo máximo (32′). Na segunda parte, com a entrada de Gabriel para o lugar de Pedrinho – e bastaram quatro minutos para o médio marcar o 2-0 na sequência de um canto –, não só a qualidade ofensiva melhorou como o próprio corredor central foi revelando outros argumentos. Mesmo quando começa a ‘8’, este Benfica ainda é muito Pizzi e mais 10.

O PIOR. As vulnerabilidades nas laterais em ações defensivas, que obrigaram Vlachodimos a duas defesas (uma mais complicada do que outra) a remates de Castillo (12′) e Ghobo (23′). Gilberto, que no Brasil era um lateral com especial apetência ofensiva, encontra-se ainda em processo de adaptação à forma de jogar não só dos encarnados mas do próprio futebol europeu, enquanto Nuno Tavares continua a sua natural evolução com alguns erros mais posicionais à mistura. Contra o Rennes, neste último particular antes da estreia oficial, essas situações não tiveram propriamente grandes consequências; com o PAOK, por exemplo, poderão ter um custo bem mais elevado.

O JOKER. Ainda antes do encontro, Jorge Jesus esteve algum tempo à conversa com Darwin Núñez no relvado da Luz, como que explicando ao novo reforço o que representa jogar no Benfica numa altura em que tenta ganhar tempo para já ter o uruguaio como opção na terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Aos 75′, o último reforço foi a jogo, não tendo propriamente muito tempo para mostrar serviço, mas esse foi um momento também importante por outro elemento que foi lançado pelo técnico: após longa ausência por lesão contraída no Algarve frente ao Portimonense, Grimaldo regressou à competição e só nesse lapso mostrou como é importante para as movimentações dos encarnados, sobretudo no plano defensivo e na forma como combina com o ala esquerdo.

A CURIOSIDADE. Romain Salin, um dos reforços pedidos por Jorge Jesus para funcionar como número 2 de Rui Patrício na baliza, não efetuou qualquer jogo no Campeonato de 2017/18 pelo Sporting e preparava-se para ser de novo suplente na época seguinte (já sem Jesus) quando Viviano se lesionou em Moreira de Cónegos e o francês assumiu a titularidade na primeira jornada. Duas semanas depois, na deslocação à Luz dos leões, José Peseiro manteve a aposta e o antigo guarda-redes de Naval e Marítimo fez a melhor exibição nos dois anos em Alvalade, não conseguindo apenas evitar o golo de João Félix que valeu o empate ao Benfica a cinco minutos do final. Esta noite, no regresso ao terreno dos encarnados, voltou a estar em destaque, ao contrário de outro jogador que passou por Portugal e pelo Sporting, Raphinha, que entrou na segunda parte mas sem grande protagonismo.