A Benfica SAD fechou o exercício de 2019/20, marcado de forma inevitável por uma pandemia que condicionou as receitas de todos os clubes nos últimos três meses da temporada, com um lucro de 41,7 milhões de euros, naquele que é o segundo maior resultado líquido da história da sociedade apenas superado pelos 44,4 milhões de 2016/17 e que aumentou em 48,7% o lucro em relação ao período homólogo. Em paralelo, as águias marcaram para 1 de outubro a Assembleia Geral da Benfica SAD, que terá três pontos na ordem de trabalhos: discutir e votar o Relatório e Contas, a aplicação de resultados e “proceder à apreciação geral da administração”.

Lucro da Benfica SAD dispara 43% para 29,4 milhões de euros

Entre os principais destaques dos resultados económicos e financeiros, os encarnados sublinham que o resultado operacional subiu 65,5% em relação a 2018/19, algo que se justifica também com os 145,2 milhões de euros feitos em transações de jogadores (quase 60% a mais do que no último exercício). Em paralelo, a Benfica SAD conseguiu ter o valor mais elevado de sempre nos rendimentos totais, 294,4 milhões de euros, com ligeiro aumento do ativo em 0,8% e uma significativa descida do passivo em 10,6%, correspondente a 38,7 milhões e que se pode explicar sobretudo pela diminuição dos empréstimos. Com isso, e pela primeira vez esta década, a dívida líquida baixou dos 100 milhões (92,8 milhões) e o capital próprio passou a 161,1 milhões – o mais elevado de sempre.

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Apesar dos indicativos positivos daquele que constitui o sétimo exercício consecutivo a dar lucro, já se notaram impactos negativos da pandemia nos rendimentos operacionais excluindo vendas de jogadores, que se fixaram nos 140 milhões de euros, menos 3,8% do que em 2018/19. “O impacto da pandemia é ligeiramente superior a 12 milhões de euros. Sem Covid-19 teríamos tido receitas, só a contar com a SAD, provavelmente a ultrapassarem os 300 milhões de euros”, explicou à BTV Domingos Soares de Oliveira, CEO da sociedade.

Ao mesmo tempo, houve um aumento do rácio entre os gastos com pessoal e as receitas operacionais, que subiram de 60% para 69%, a 1% do limite balizado pela UEFA no âmbito do fair-play financeiro. A Benfica SAD justifica esse acréscimo com os efeitos da pandemia, dizendo que houve até uma descida de 1,3% nos gastos com pessoal, que passaram de 88,253 milhões para 85,66 milhões. Na próxima época, com o investimento que tem vindo a ser feito a começar pela contratação de Jorge Jesus e respetiva equipa técnica, tudo aponta para que esse valor sofra uma subida, o que obrigará a que existam reajustes ou, em contrapartida, a que surja uma subida consonante nas receitas operacionais. “Temos capacidade para fazer este investimento [no plantel] e o facto de termos lançado o empréstimo obrigacionista foi muito importante”, defendeu Soares de Oliveira, ao mesmo tempo que reconheceu que é provável que o endividamente líquido possa sofrer uma subida.

“Apesar de um conjunto de resultados económicos e patrimoniais de enorme relevância, ao fazer o balanço da época 2019/20 sinto que o que melhor exprime a alma benfiquista é um sentimento de frustração. Não poderia ser de outra forma (…)  Mas num tempo de incertezas, como aquele que vivemos desde março, é também importante gerar outros resultados, para além dos desportivos, que nos permitam continuar a poder contar com a confiança dos acionistas e de todos os stakeholders. Esse é o caminho que temos percorrido e continuará a ser esse o sentido da nossa gestão. Um caminho assente no respeito dos nossos compromissos, na credibilidade da nossa palavra ou na sustentabilidade do nosso negócio, tudo sinónimos de mais de uma década de desenvolvimento que conjuga o rigor, a paixão pelo futebol, a solidez financeira e a obtenção de resultados. É uma caminhada de afirmação crescente que culminou em 2019/20 num resultado líquido positivo superior a 40 milhões de euros, o que, num contexto fortemente condicionado pela pandemia, traduz bem o trabalho realizado fora das quatro linhas. É o sétimo exercício consecutivo da Benfica SAD com lucro, o que não pode deixar de ser enaltecido”, destacou Luís Filipe Vieira, presidente dos encarnados, na mensagem deixada.

Da menor dívida financeira das últimas duas décadas ao milhão a menos por jogo à porta fechada: as contas do Benfica

“Naturalmente que este resultado não teria sido alcançado sem a transferência do atleta João Félix. Como já disse em mais do que uma ocasião, por muito que gostássemos de reter os nossos melhores jogadores, sobretudo aqueles oriundos da nossa formação, a dimensão económica do mercado português ainda não permite que a Benfica SAD consiga desenvolver o seu modelo de negócio, nomeadamente quando temos de competir economicamente com os maiores clubes das principais Ligas europeias”, destacou de seguida, numa das ideias mais fortes ao longo da missiva no Relatório e Contas, antes de voltar à parte financeira.

SAD do Benfica regista lucro recorde de 104,2 milhões de euros

“Outro aspeto deste exercício que deve ser evidenciado é a redução do passivo da Benfica SAD, uma redução de mais de 10%, a maior dos últimos anos. Com esta diminuição, o valor da dívida líquida da Benfica SAD atingiu o ponto mais baixo da década, situando-se, pela primeira vez, abaixo dos 100 milhões de euros, cumprindo assim o compromisso que assumi de reduzir de forma sustentada o endividamento desta sociedade. Importa agora ter a estratégia adequada para fazer frente aos desafios colocados pela pandemia e pelos seus impactos económicos e sociais (…) Fruto da nossa forte situação financeira, estamos em condições de dar um salto qualitativo significativo no reforço da nossa competitividade. Ainda assim, o sentido de gestão da sociedade manter-se-á fiel aos princípios e valores prosseguidos ao longo de décadas, sempre com a confiança dos acionistas, dos parceiros e dos patrocinadores (…) Tudo para continuar a construir e a consolidar a maior e a mais sólida referência desportiva nacional e uma marca global”, concluiu o líder do clube e da SAD das águias.