O primeiro desafio está a mobilizar cientistas de todo o mundo: conseguir, tão rápido quanto possível, produzir uma vacina capaz de travar a propagação da pandemia do novo coronavírus. Há, porém, um passo seguinte que tem de ser planeado atempadamente e sem o qual a produção de uma vacina é irrelevante: a capacidade de a fazer viajar pelo mundo e chegar em massa a todo o lado.

As contas começam a ser feitas: conseguir transportar uma única dose de uma vacina para a Covid-19, levando-a até 7,8 mil milhões de pessoas, exigirá a utilização de 8 mil aviões “jumbo jet”, aeronaves de grande dimensão (como os modelos 747 e 767 da Boeing e o A330 da Airbus) que podem acomodar mais passageiros e carga mas que até têm os dias contados, pelos custos elevados e sem retorno à altura que implicam para as transportadoras aéreas. E as contas estão feitas de forma otimista, porque é expectável que seja necessário transportar várias doses da vacina — e não apenas uma por pessoa.

Preocupadas, a indústria da aviação e a IATA – Associação Internacional de Transportes Aéreos já começam a posicionar-se. Num alerta difundido pelo jornal britânico The Guardian, o grupo internacional de aviação garante estar a trabalhar com transportadoras aéreas, aeroportos, organizações de saúde e empresas farmacêuticas para planear a circulação de uma vacina pelo mundo, mas já se deparou com vários possíveis obstáculos.

Há quem lhe chame “a missão do século” para a “indústria de transporte de carga aérea mundial”, como o diretor geral da Associação Internacional de Transportes Aéreos, Alexandre de Juniac, citado pelo The Guardian. Entre as dúvidas pendentes estão as limitações à circulação de produtos em diferentes pontos do mundo — e entre países de continentes diferentes — e também previsíveis especificidades deste tipo de transporte aéreo porque, lembra o jornal britânico, “as vacinas também têm de estar armazenadas a uma temperatura específica, o que significa que nem todos os aviões estão preparados para as transportar”.

Mesmo que assumamos que metade das vacinas necessárias podem ser transportadas por via terrestre, a indústria de transporte aéreo de carga vai ainda assim enfrentar o maior desafio de sempre de transporte de um único produto. No planeamento dos seus programas de vacinação, particularmente nos países em desenvolvimento, os governos têm de ter em grande conta a capacidade limitada de transporte de carga aéreo existente neste momento”, apontou ainda De Juniac.

O diretor geral da IATA alertou também, citado pelo The Guardian, para a impossibilidade de transportar as doses necessárias da vacina para todos os pontos do mundo se não existirem mudanças significativas: “Se as fronteiras permanecerem encerradas, se se mantiver a redução do número de viagens, se as frotas [de aviões das transportadores aéreas] continuarem em terra e caso se mantenha a atual redução de funcionários, a capacidade de fazer circular vacinas que salvam vidas ficará muito comprometida”.

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