A Economist Intelligence Unit (EIU) considerou esta terça-feira que a suspensão do pagamento da dívida de Angola à China vai ajudar o país africano, mas serão necessárias mais ajudas financeiras para evitar um default no futuro.
“A suspensão do serviço de dívida aos credores chineses vai dar algum espaço de manobra orçamental, mas mais suspensões de outros credores, como o G20 ou até credores privados, deverá ser necessária para evitar um incumprimento financeiro [“default”, no original em inglês] no futuro”, escrevem os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist.
Num comentário à aprovação da terceira revisão do programa do Fundo Monetário Internacional (FMI), enviado aos clientes, e a que a Lusa teve acesso, a EIU escreve que “os dados do Banco Mundial mostram que Angola terá de pagar 4,3 mil milhões de dólares [3,6 mil milhões de euros] em 2021”. A nota acrescenta que “cumprir estas obrigações vai ser desafiante, uma vez que os preços do petróleo, e consequente receita, continuam baixos, originando o sexto ano consecutivo de queda no Produto Interno Bruto”.
Nos últimos meses, o Banco Mundial tem apelado aos credores privados para participarem nas medidas de suspensão dos pagamentos da dívida, lembram os analistas, sublinhando que, para além da questão da descida do “rating” em caso de falha de pagamento da dívida aos privados, “alguns credores oficiais estão preocupados que a suspensão dos pagamentos oficiais seja direcionada para pagar aos credores privados, em vez de os fundos serem direcionados para a despesa pública em saúde, para mitigar os efeitos da pandemia do novo coronavírus”.
Na nota enviada aos clientes, a EIU lembra que já tinha previsto um acordo de reestruturação da dívida com a China, dona de quase metade da dívida externa angolana, e salienta que “os 6,2 mil milhões de dólares [5,2 mil milhões de euros] que Angola vai deixar de pagar até 2023 vão dar mais espaço orçamental e ajudar a evitar um “default”, devido à forte queda das receitas petrolíferas para pagar as obrigações da dívida”. No entanto, avisam, “os pagamentos nos anos futuros vão continuar a ser significativos, e mais alívio da dívida, ou até a reestruturação de mais dívidas, vão provavelmente ser necessárias”.
O conselho de administração do FMI aprovou em meados de setembro o pedido de Angola para o aumento da assistência financeira, desembolsando de imediato mil milhões de dólares (847 milhões de euros) e elevando o total do programa para quase 4,5 mil milhões de dólares (3,83 mil milhões de euros). “A decisão do conselho de administração permite um desembolso imediato de mil milhões de dólares para Angola e um aumento de cerca de 765 milhões de dólares [648 milhões de euros] até ao fim do programa”, para quase 4,5 mil milhões de dólares, anunciou então o FMI.
No comunicado de imprensa que acompanha o anúncio, o FMI explica que esta terceira avaliação positiva da ajuda financeira dada ao abrigo da Linha de Financiamento Ampliada (Extended Fund Facility, no original em inglês) permite o desembolso de mais mil milhões de dólares, perfazendo cerca de 2,5 mil milhões de dólares (2,13 mil milhões de euros) já entregues desde a assinatura do acordo, em 07 de dezembro de 2018.
África registou nas últimas 24 horas mais 132 mortes devido à Covid-19, elevando o número do total de óbitos para 36.921, num total de 1.518.662 infetados, mais 4.804, segundo os últimos dados sobre a pandemia no continente. De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), nas últimas 24 horas o número de recuperados nos 55 Estados-membros da organização foi de 6.190, tendo esse total evoluído para 1.256.284. Em relação aos países africanos de língua oficial portuguesa, Angola lidera em número de mortos, registando 199 mortos e 5.530 casos.
O primeiro caso de Covid-19 em África surgiu no Egito, em 14 de fevereiro, e a Nigéria foi o primeiro país da África subsaariana a registar casos de infeção, em 28 de fevereiro.
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de um milhão e quarenta e cinco mil mortos e mais de 35,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP. A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.