As conclusões de dois estudos publicados esta quarta-feira na Blood Advances, a revista da Sociedade Americana de Hematologia, sugerem que as pessoas com sangue tipo O são menos vulneráveis à infeção pelo novo coronavírus — e, uma vez infetadas, têm menos probabilidades de desenvolver complicações graves associadas à Covid-19.

Os trabalhos, desenvolvidos por cientistas dinamarqueses e canadianos, vêm dar força a um terceiro estudo, publicado em junho no New England Journal of Medicine, que já tinha descoberto informação genética, tanto em pacientes com Covid-19 como em pessoas saudáveis, que apontava no mesmo sentido — enquanto quem tinha tipo sanguíneo A parecia correr mais riscos de ser infetado com o novo coronavírus, acontecia o contrário com quem tinha tipo O.

Boas notícias para quem tem sangue tipo O? Até podem ser mas, para além de ser preciso investigar mais e reunir mais dados estatísticos sobre o assunto, “isto não substitui outros fatores de risco de gravidade como a idade e as comorbilidades”, explicou esta quinta-feira à CNN Mypinder Sekhon, médico de cuidados intensivos do Hospital Geral de Vancouver, professor do Departamento de Medicina da Universidade de British Columbia e um dos autores do estudo canadiano.

Se tiver sangue tipo A, não precisa de começar a entrar em pânico. E se for tipo O, não é livre de ir aos pubs e bares”, fez ainda questão de frisar.

O estudo canadiano analisou 95 pacientes criticamente doentes com Covid-19 e percebeu que, de entre os que tinham precisado de ventiladores para respirar, 84% tinham sangue tipo A ou AB — isto num universo de doentes em que os grupos sanguíneos O e B eram maioritários (61%).

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Já o estudo dinamarquês revelou que entre um total de 7.422 pessoas com testes positivos para o novo coronavírus, apenas 38,4% eram do tipo sanguíneo O — sendo que num universo de 2,2 milhões de pessoas saudáveis (ou não testadas) a percentagem da população com sangue O era de 41,7%. Por outro lado, 44% das pessoas de entre a amostra com sangue tipo A testaram positivo — na população de controlo o grupo sanguíneo representa 42,4%.

Não sabemos se se trata de algum tipo de proteção do grupo O, ou se é algum tipo de vulnerabilidade nos outros grupos sanguíneos“, disse àquele canal Torben Barington, professor no Hospital Universitário de Odense e na Universidade do Sul da Dinamarca e principal autor do estudo.

Penso que isto tem interesse científico, e quando descobrirmos qual é o mecanismo, talvez sejamos capazes de o utilizar proativamente no que diz respeito ao tratamento.”

Embora existam várias teorias, os investigadores não conseguiram determinar ainda qual é ligação entre os diferentes grupos sanguíneos e a Covid-19.

À CNN, Mypinder Sekhon sugeriu que a chave talvez resida nos fatores de coagulação — porque as pessoas de sangue tipo O são menos propensas a problemas de coagulação no sangue, que têm sido um dos fatores mais frequentemente associados às complicações por Covid-19. Outras hipóteses envolvem os antigénios dos grupos sanguíneos e a forma como podem afetar ou não a produção de anticorpos para combater a infeção; ou os marcadores genéticos associados a cada um dos tipos de sangue e a forma como atuam nos recetores do sistema imunitário.

“Temos de perceber o mecanismo e de o compreender a nível molecular para podermos dizer com certeza por que motivos isto está a acontecer — que realmente é o sangue tipo O e não qualquer coisa que de alguma forma pode ser associada a ele”, avisou Amesh Adalja, investigador da Universidade Johns Hopkins, sem relação com qualquer um dos estudos. “Acho que já vimos o suficiente para perceber que esta é mesmo uma questão importante a que a investigação deve responder. Há mais ciência para fazer aqui, mas parece-me que há cada vez mais provas acumuladas sobre esta hipótese.”