A Polícia Federal do Brasil encontrou 30 mil reais (4,6 mil euros) escondidos entre as nádegas do senador Chico Rodrigues numa operação que investiga desvios de dinheiro público destinado ao combate da pandemia de Covid-19.

Chico Rodrigues, do partido Democratas (DEM), é vice-líder do governo do presidente brasileiro no Senado, a câmara alta do Congresso, e foi deputado federal durante 20 anos — exatamente os mesmos que Jair Bolsonaro, que já disse ter “quase uma união estável” com o senador.

A apreensão do dinheiro escondido entre as nádegas do senador foi revelada pela revista Crusoé na noite de quarta-feira.

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Chico Rodrigues foi um dos alvos da operação “Operação Desvid-19” realizada a pedido da Controladoria Geral da União (CGU), órgão de fiscalização, no estado de Roraima.

Nesta operação, os agentes da polícia investigam um alegado esquema criminoso para desviar recursos públicos através do encaminhamento de licitações na Secretaria de Saúde de Roraima, que envolveria aproximadamente 20 milhões de reais (3 milhões de euros) que deveriam ser utilizados no combate à Covid-19.

A CGU informou num comunicado que identificou diversos indícios da prática de preços inflacionados em contratações realizadas pela Secretaria de Saúde de Roraima para aquisição de equipamentos de proteção para profissionais de saúde de médicos e enfermeiros e testes rápidos para deteção da Covid-19, entre outros itens.

“O inquérito policial apontou que os recursos eram direcionados, por meio de processos licitatórios fraudulentos, para empresas específicas, que então eram contratadas pela Secretaria”, destacou um comunicado emitido pela CGU sobre a Operação Desvid-19.

O estado de Roraima recebeu cerca de 171 milhões de reais (26 milhões de euros) do governo central através do Fundo Nacional de Saúde (FNS) em 2020.

Desse valor total, 55 milhões de reais (8,3 milhões de euros) foram transferidos especificamente para combate à Covid-19.

A “Operação Desvid-19” cumpriu sete mandados de busca e apreensão na cidade de Boa Vista, capital de Roraima.

Em comunicado, Chico Rodrigues já veio garantir que está “tranquilo” e que só foi visado na operação por ter feito o seu “trabalho como parlamentar”.

“Tenho um passado limpo e uma vida decente. Nunca me envolvi em escândalos de nenhum porte. Se houve processos contra minha pessoa no passado, foi provado na justiça que sou inocente. Na vida pública é assim, e ao logo dos meus 30 anos dentro da política conheci muita gente mal intencionada a fim de macular minha imagem. Ainda mais em um período eleitoral conturbado como está sendo o pleito em nossa capital”, assegurou ainda.

Por seu turno, Jair Bolsonaro, sem partido desde que em novembro de 2019 abandonou o PSL (Partido Social Liberal) — o que abriu aliás a porta à nomeação de Chico Rodrigues, indicado para o cargo pelo presidente do Senado, David Alcolumbre, do DEM, um dos principais opositores do presidente —,  já veio a público dizer que o senador não faz parte da sua administração. “O meu governo são os ministros, as estatais e bancos oficiais”, assegurou aos apoiantes reunidos à porta do Palácio da Alvorada.

Pelo caminho, o presidente brasileiro aproveitou para reiterar a sua luta contra a corrupção: “Parte da imprensa está me acusando de o cara ser meu amigo, [dizendo que] eu o coloquei como vice-líder, o que diria que eu não combato a corrupção. Nós estamos combatendo a corrupção, não interessa a pessoa suspeita”.

Entretanto, ainda esta quinta-feira, Jair Bolsonaro aceitou o pedido de demissão de Chico Rodrigues, que deixa assim a vice-liderança do governo no Senado para “aclarar os fatos e trazer à tona a verdade”.

De acordo com a imprensa brasileira, a permanência de Chico Rodrigues no cargo seria vista como um “desgaste” para o presidente, que há apenas uma semana anunciou desta forma o fim da Operação: “É um orgulho, é uma satisfação que eu tenho, dizer a essa imprensa maravilhosa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo. Eu sei que isso não é virtude, é obrigação”.

Atualizado sexta-feira, 16 de outubro, com a informação sobre a filiação partidária e a demissão de Chico Rodrigues