Terceira semana do Giro. João Almeida continua de cor de rosa. Há duas semanas, estas duas frases seriam impensáveis. Mas esta terça-feira, no arranque da reta final de uma das Grandes Voltas do ciclismo internacional, era mesmo um ciclista português de 22 anos que estava na liderança da classificação geral. E com o passar dos dias, das etapas, dos quatro pódios, João Almeida já admite que os adversários já olham para ele de outra forma.

“Isso mudou, sim. Vamos ver como é que esta semana corre”, disse o ciclista numa conferência de imprensa online esta segunda-feira, dia de descanso, onde acrescentou que é “normal” que os outros atletas tenham pensado que a sua liderança seria temporária e que ele próprio está surpreendido com a longevidade que tem alcançado no primeiro lugar. Ainda assim, e como tem referido quase diariamente, continua sem acreditar que seja possível ganhar o Giro.

“Se tiver um dia mau, não há muito que possa fazer. É uma surpresa ainda estar com a camisola rosa, sem dúvida, mas acho que se mantiver a consistência, talvez seja possível. Mas nunca fiz um grande Tour, por isso é imprevisível. Creio que se continuar com esta consistência será sempre possível, mas muito difícil”, explicou João Almeida, adiantando que esta terceira e última semana de competição será “muito dura” e que não tem um plano para o que falta do Giro mas sim uma estratégia que passa por “ir vendo dia a dia todas as etapas”.

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Tudo isto num dia em que João Almeida interagiu diretamente com outro nome grande do desporto nacional. Depois de dizer que esperava que Cristiano Ronaldo estivesse orgulhoso do que está a fazer no Giro (assim como Rúben Guerreiro, que já ganhou uma etapa), o ciclista respondeu a um tweet de Ricardo Quaresma. Na rede social, o agora jogador do V. Guimarães escreveu: “Força, João Almeida, já és um campeão”. Em resposta, o ciclista limitou-se a dizer “obrigado, rei”.

E esta terça-feira, o já campeão começava a 16.ª etapa do Giro com 15 segundos de diferença para o principal adversário, Wilco Kelderman (Sunweb), e 2.26 minutos de distância para o terceiro classificado, Jai Hindley, também da Sunweb. O percurso do início da terceira semana unia Udine a San Daniele del Friuli, ao longo de 229 quilómetros, e contava com seis contagens de montanha, uma de segunda e as cinco restantes de terceira categoria — naquela que era ainda a etapa 2000 da história do Giro. Antes ainda do início da etapa e uma semana depois de a Mitchelton-Scott e a Jumbo-Visma terem desistido do Giro devido a casos de Covid-19, Fernando Gaviria anunciou que testou positivo na ronda de testes desta segunda-feira e não iria por isso alinhar no percurso desta terça-feira.

Rúben Guerreiro, que este domingo perdeu a camisola azul da classificação de montanha, atacou logo na primeira subida e parecia determinado em recuperar a liderança da categoria, passando em primeiro na primeira contagem da etapa, de segunda categoria, e arrecadando 18 pontos de bonificação. A segunda contagem abriu a porta a um sprint entre Guerreiro e Giovanni Visconti, o detentor da camisola azul, com o italiano a levar a melhor dessa vez. Nesta altura, cerca de 6 minutos atrás, João Almeida seguia num pelotão onde era precisamente a Quick-Step a controlar os acontecimentos.

O azar acabou por bater à porta de Rúben Guerreiro na antecâmara da terceira contagem de montanha, já que o ciclista português sofreu um problema na bicicleta e não só não foi capaz de lutar pelos pontos em disputa como perdeu terreno para o grupo em fuga. Guerreiro recuperou e atacou a 68 quilómetros do final, distanciando-se de Visconti para agarrar nove pontos na meta volante seguinte — o italiano, ainda assim, mantinha-se com a camisola azul. Mais atrás, tranquilo e bem escudado na frente do pelotão, João Almeida seguia a um ritmo médio e tinha todos os adversários diretos sob controlo.

A pouco mais de 60 quilómetros do final, Manuele Boaro, da Astana, e Jan Tratnik, da Bahrain-McLaren, assumiram a dianteira da corrida e foram desde logo perseguidos por um grupo que tinha Ben Swift (INEOS), Geoffrey Bouchard (AG2R), Alessandro Tonelli (Bardiani) e Valerio Conti (UAE Emirates). Visconti caiu para um segundo grupo de perseguição, que entretanto absorveu Boaro e deixou apenas Tratnik solto na frente, e Rúben Guerreiro acabou por desligar-se e ficar para trás, provavelmente já a pensar na etapa desta quarta-feira, onde pode voltar a estar na frente da corrida e a disputar a camisola azul.

No início dos últimos 15 quilómetros, Ben O’Connor, da NTT Pro Cycling, soltou-se do grupo de perseguição e juntou-se a Jan Tratnik. Atrás, João Almeida e a Quick-Step começaram a impor um ritmo superior para partir o pelotão e evitar eventuais surpresas no final. Na reta da meta, O’Connor ainda passou para a frente, Tratnik resguardou alguma energia e explodiu nos derradeiros metros, garantindo a vitória na 16.ª etapa do Giro. O’Connor foi segundo e o italiano Enrico Battaglin, também da Bahrain-McLaren, encerrou o pódio.

Mais de dez minutos depois da chegada do vencedor, o pelotão aproximou-se da reta da meta e João Almeida atacou a cerca de 700 metros do final para ganhar tempo a Kelderman e Nibali. O ciclista português deu mais uma demonstração de enorme força, ganhou cerca de dois segundos ao principal perseguidor — tendo agora 17 segundos de vantagem na classificação geral — e continua de camisola rosa e na liderança da classificação geral do Giro.