Fernando Leal da Costa, médico, ex-secretário e antigo ministro da Saúde, considera que Marta Temido está a revelar uma enorme “falta de liderança” e revela já manifestos sinais de “desgaste”.

Nas jornadas parlamentares do PSD, que decorrem esta quarta-feira, Leal da Costa apontou várias críticas a Marta Temido. À cabeça o facto de ter sido e estar a ser uma “desgraça completa do ponto de vista da comunicação”.

Antes, o antigo governante já tinha denunciado a “resposta lentíssima” dada pelo Governo e pelas autoridades de saúde, com “demasiada burocracia logo de início” e “momentos anedóticos” com declarações “gongóricas” como as que foram feitas sobre as máscaras e a sua alegada perigosidade.

Tudo isto, continuou Leal da Costa, culminou num “excesso de confiança na forma como o desconfinamento foi feito” que precipitou o aumento de casos de infeção. Para o antigo ministro, só um real reforço dos profissionais de saúde (“a contratação de enfermeiros foi uma fraude”), de meios técnicos e de prevenção, como o uso generalizado de máscara e quarentena obrigatória para doentes e contactos de proximidade, evitarão efeitos mais graves ainda.

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“A magnitude do problema é provavelmente maior”

Ricardo Mexia, presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública e outro dos convidados destas jornadas parlamentares, levantou algumas questões sobre a real dimensão do efeito da pandemia no sistema de saúde como um todo. Aludindo ao elevado número de tempo de espera nas cirurgias, o médico sublinhou que o facto de existir um enorme atraso nas consultas e nos diagnósticos pode significar que a realidade é muito maior.

“A magnitude do problema é provavelmente maior do que aquela que conseguimos identificar”, sublinhou Mexia, falando também da questão do excesso da mortalidade –há 5.500 vítimas mortais a mais do que as registadas em períodos homólogos mesmo considerado as pessoas que morreram por Covid-19. “É fundamental que isso seja clarificado”, pediu.

Lamentando os  “equívocos” que Governo e autoridades da saúde têm protagonizado na gestão da mensagem, e que têm efeitos “contraproducentes”, Mexia pediu maior clareza na definição da estratégia. Isso mais e melhor gestão da informação disponível. “Não temos um verdadeiro sistema de informação”, lamentou Mexia, o que esgota qualquer efeito prático que a app StwayAway Covid pudessse ter.

Antes de Ricardo Mexia, Isabel Santos, também ela médica e convidada destas jornadas, tinha criticado a falta de incentivos para os profissionais de saúde e a descoordenação que se sente no terreno. “Estou muito preocupada. Há uma grande desmotivação”, desabafou.