A SEDES — Associação para o Desenvolvimento Económico e Social celebra o seu 50º aniversário na sexta-feira, numa cerimónia que vai contar com a participação de Marcelo Rebelo de Sousa e António Guterres.

Sob o mote “50 anos a pensar Portugal”, a cerimónia na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, vai contar com uma mensagem do secretário-geral das Nações Unidas e associado número 268 da SEDES, António Guterres, à qual se seguirá uma intervenção da investigadora Maria Fernanda Rollo, que está a desenvolver um estudo sobre a história da associação.

As celebrações contarão ainda com uma intervenção do presidente da SEDES, o médico e militante socialista Álvaro Beleza, uma homenagem aos associados fundadores e dois painéis intitulados “A Visão dos Associados Fundadores” e “A Visão de Marcelo Rebelo de Sousa”.

Caberá ao chefe de Estado português e membro da SEDES, Marcelo Rebelo de Sousa, encerrar a cerimónia.

Fundada a 2 de outubro de 1970, no período da ditadura conhecido por “primavera marcelista”, quando se esperava uma abertura significativa da sociedade, a SEDES é uma associação cívica que tem por missão contribuir para o desenvolvimento económico e social do país.

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Após o 25 de abril de 1974, e instaurada a democracia, vários dos seus associados ingressaram na vida social e política, em diferentes partidos, a maioria dividindo-se entre o PPD/PSD e PS.

“Talvez não tenha havido um único Governo, desde o 25 de Abril, que não contasse entre os seus membros com associados da SEDES”, descreve a associação no seu site.

Entre os membros desta “escola de cidadania” encontram-se nomes como o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o secretário-geral da ONU e ex-primeiro-ministro, António Guterres, o falecido chefe do Governo Francisco Sá Carneiro, os economistas/banqueiros João Salgueiro e Rui Vilar, o ex-dirigente da UGT João Proença, ou os ex-ministros João Cravinho e José Vera Jardim.

Baseada em valores como o humanismo, o desenvolvimento sociocultural e a democracia, e resistindo à transformação em partido político, a SEDES juntou na sua fundação pensadores de vários setores da sociedade que se reviam no associativismo académico e na prática de contestação política contra o sistema.

Em 1995, na celebração dos 25 anos de existência, a SEDES foi agraciada com a Ordem do Infante D. Henrique, pelo Presidente da República à data, Mário Soares.

Para 2021, a associação tem já marcado um congresso, onde serão apresentadas propostas estratégicas para as próximas décadas.

Historiadora aponta que papel da SEDES continua a estar “na ordem do dia”

Maria Fernanda Rollo considera que a associação cívica SEDES ganhou um papel de relevo na sociedade, 50 anos após a sua fundação, beneficiando o “desencanto” dos portugueses com os partidos políticos.

Assistimos todos a algum desencanto com os partidos políticos e a sua atividade e, portanto, este espaço ligado diretamente à sociedade, surgindo como uma plataforma de debate e de reflexão, está na ordem do dia, está a ser profundamente reclamado nos tempos mais recentes”, considerou a docente à Lusa, depois de questionada sobre a atualidade da associação, fundada em 1970.

A docente da Universidade Nova de Lisboa (UNL-FCSH) e ex-secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Maria Fernanda Rollo, está a desenvolver, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, um trabalho de investigação intitulado “História e Memória da SEDES”, associação cívica de desenvolvimento económico e social, que celebra na sexta-feira o seu 50º aniversário.

Apontando que a associação procurou sempre “colocar-se como uma plataforma de diálogo, de debate, de reflexão, de cruzamento de ideias e não como partido político”, Fernanda Rollo considerou que a missão da SEDES como “expressão da sociedade”, num país com um “claro défice de participação cívica”, é “extraordinariamente sugestiva e interessante”.

A investigação sobre a SEDES que está a ser realizada pela docente, que foi obrigada a adiar algumas entrevistas com membros fundadores devido à pandemia da Covid-19, tem como principal objetivo “compreender e estudar a história da SEDES, focando um aspeto talvez mais relevante que tem a ver com a sua própria constituição”.

“Compreender em que contexto é que esta associação é criada, com que tenções, em que medida e como é que ela acaba por se integrar e de que forma no contexto de uma força de resistência ou mesmo de oposição ao próprio regime”, é o objetivo do trabalho.

Para a investigadora, “a forma como a SEDES atua é extremamente interessante” e os seus elementos “vão funcionando como uma espécie de alvéolos que se vão contaminando e que se vão propalando”.

Destacando as “propostas muito inovadoras” da SEDES, Maria Fernanda Rollo vincou a “elite verdadeiramente impressionante, muito qualificada, internacionalizada, com propostas claras no que diz respeito à relação do país com o exterior” que constituiu a SEDES na época da sua fundação, sendo que muitos membros ainda se mantêm.