A portuguesa Martinha Javid, fundadora da organização MÃE em Rhode Island, Estados Unidos, que atualmente ajuda 300 pessoas por semana, defende que a solidariedade e ajuda aos mais carenciados são ações fáceis que podem crescer “num instante”.

Martinha Javid, açoriana que fundou a organização para os sem-abrigo MÃE no estado de Rhode Island há 12 anos, acredita que qualquer pessoa pode ajudar e fazer uma grande diferença.

“Eu comecei na minha cozinha, com as minhas filhas, a fazer sanduíches e levar para fora. Era eu que comprava tudo, não recebia dinheiro de ninguém, era tudo das minhas finanças”, recorda a portuguesa que vive nos Estados Unidos há mais de 40 anos e que diz que sentiu “na alma” um chamamento da Virgem Maria para ajudar, escolhendo assim o nome nome para a organização sem fins lucrativos.

Depois, vendo que as pessoas na rua precisavam de mais apoio, começou a fazer e a distribuir saquinhos com produtos de higiene pessoal e a pedir a amigos roupas que já não precisavam, para dar aos sem-abrigo.

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“Num instante, começámos a crescer e hoje ajudamos mais de 300 pessoas por semana”, afirma Martinha Javid, acrescentando que “o mais que é preciso é tempo, compaixão e ouvir o que eles têm para dizer”.

A organização distribui comida a pessoas necessitadas, ajuda a dar um teto a sem-abrigo com o preenchimento de papéis e requisitos, encaminha para tratamentos médicos, terapias de saúde mental e educa os sem-abrigo a tornarem-se mentores e exemplos para outras pessoas, através de programas de saúde mental.

A cozinha industrial nos espaços da organização, em West Warwick, não é só para produzir e distribuir refeições, mas para ensinar a cozinhar também e dar alguma experiência para encontrar trabalho. Mais tarde pode vir a ser transformada num café e num espaço de socialização.

A prática da agricultura também faz parte das atividades, educando a viver de forma sustentável.

Cerca de 20 voluntários atuam em cinco cidades em Rhode Island, nos Estados Unidos, mas uma expansão geográfica está nos planos e ambições de Martinha Javid.

A pandemia de covid-19 tornou mais importante o trabalho de organizações como esta e o número de pessoas que procuram ajuda também aumentou, explica a portuguesa.

“Este ano tivemos de trabalhar muito mais, porque o coronavírus mudou tudo para organizações como a nossa”, disse Martinha Javid, acrescentando que desde o início da pandemia, mais de 400 novas pessoas procuraram a organização.

Como quase tudo teve de ser adaptado durante a pandemia, o modelo como a organização distribui comida e roupas também mudou.

Em vez dos banquetes que se faziam, montando mesas, trazendo travessas de comida, agora as refeições são oferecidas em contentores individuais e não há mais de cinco voluntários em cada lugar.

Máscaras, luvas e desinfetante para as mãos também agora fazem parte das doações que a organização distribui, junto com a ajuda de encontrar hotéis para se poder ficar em quarentena.

A principal parte do processo de chegar a novas pessoas em necessidade é passar tempo “lá fora”. A organização escolhe cidades onde existem mais sem-abrigo, como Providence, Pawtucket, Warwick, Woonsocket e, mais recentemente, Cranston.

“Distribuímos comida e roupa e nesse tempo passamos a conhecer as pessoas, a falar sobre o que precisam, por que estão na rua e o que podemos fazer para as ajudar”, descreve a portuguesa.

Martinha Javid afirma que se cria “uma relação muito especial com as pessoas” e é assim que “a obra começa”, fundada na “confiança” dos que precisam.

Estabelecer relações com sem-abrigo é um processo: “Muitas vezes estão muito fechados, não têm confiança em ninguém. Leva um bocadinho de tempo para eles saberem que estamos lá para os ajudar, nada mais”.

Depois a palavra passa e os sem-abrigo que conhecem a organização avisam outras pessoas em necessidade que também podem recorrer à ajuda.

A açoriana sente-se orgulhosa das pessoas vulneráveis que se tornam “mais sólidas”, encontram casa e trabalho e às vezes voltam para ajudar os outros onde um dia eles se encontravam, “em refúgios, dormindo na rua ou com problemas de álcool”.

“É uma coisa muito bonita”, considera a portuguesa, que sonha levar a organização MÃE para outros lugares dos Estados Unidos e do mundo, com pessoas dispostas a ajudar e a fazer “a obra” crescer.

“Quero muito começar a nossa missão em diferentes países. Gostava muito que fosse na comunidade portuguesa, porque é muito importante para mim”, conta Martinha Javid, que espera encontrar pessoas interessadas, em qualquer parte do mundo e com paixão de servir a comunidade à volta.