Sérvia, República da Irlanda, Luxemburgo e Azerbaijão. Portugal já conhece os quatro adversários que vai encontrar no Grupo A de qualificação para o Mundial 2022, a disputar no Qatar, e nenhum é propriamente um desconhecido. Ainda assim, existem vários níveis de conhecimento: se Sérvia e Luxemburgo já foram oponentes no apuramento para o Euro 2020, a verdade é que a Seleção Nacional não se cruzava com o Azerbaijão desde 2013 e com a Irlanda, em jogos oficiais, desde 2001. Assim, fazemos o raio-x às quatro seleções que Portugal terá de deixar para trás para marcar presença na fase final do próximo Campeonato do Mundo, daqui a dois anos.

Portugal defronta Sérvia, Rep. Irlanda, Luxemburgo e Azerbaijão na qualificação para o Mundial de 2022

Sérvia: um adversário recente com muitos velhos conhecidos

Um novo conhecido, em resumo. Portugal volta a encontrar a Sérvia numa fase de qualificação depois de ter ficado no grupo dos sérvios também na qualificação para o próximo Europeu. Aí, a Seleção Nacional qualificou-se diretamente, ao terminar no segundo lugar atrás da Ucrânia, e a Sérvia foi empurrada para o playoff ao acabar na terceira posição. Tudo começou bem, com uma vitória perante a Noruega nas meias-finais desse playoff, mas o conto de fadas que colocou a Escócia numa fase final de uma grande competição mais de 20 anos depois acabou por deixar os sérvios de fora da prova que foi adiada para 2021.

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Nessa fase, porém, Portugal não venceu os dois jogos que disputou com a Sérvia. Empatou o primeiro, em março de 2019, com golos de Tadic e Danilo Pereira (1-1); e venceu o segundo, já em setembro, com golos de William, Cristiano Ronaldo, Gonçalo Guedes e Bernardo Silva e resposta de Milenkovic e Mitrovic (2-4). O recente desaire com a Escócia voltou a afastar a Sérvia de um Campeonato da Europa, sendo que o país que fez parte da Jugoslávia nunca esteve, após a independência, na fase final da competição continental.

Serbia v Turkey - UEFA Nations League

Dusan Tadic, o capitão sérvio que atua no Ajax, é a principal referência da seleção

No que toca a Mundiais, como este de 2022 cuja qualificação deu esta segunda-feira os primeiros passos, a Sérvia esteve no último, há dois anos. Não passou da fase de grupos, onde ficou no terceiro lugar do grupo onde prosseguiram Brasil e Suíça. Nos anos anteriores, só falhou o Mundial 2014, tendo estado nos de 2006 e 2010 (sendo que, no primeiro, competiu ainda enquanto Sérvia e Montenegro). Já na Liga das Nações, os sérvios atuam na Liga B, de onde não vão sair no próximo ano: ficaram no terceiro lugar do grupo, atrás de Hungria e Rússia, evitando a queda para a Liga C mas falhando então a subida de divisão.

Orientada por Ljubiša Tumbaković, a seleção sérvia inclui vários nomes conhecidos da atualidade do futebol europeu, incluindo Dusan Tadic, do Ajax, mas também Milinkovic-Savic, da Lazio, e Nemanja Matic, médio ex-Benfica que representa o Manchester United. Maksimovic (Nápoles), Kolarov (Inter), Mitrovic (Fulham) e Luka Jovic (Real Madrid) também fazem normalmente parte das convocatórias, assim como Gudelj, médio ex-Sporting que está agora no Sevilha, Grujic, reforço do FC Porto neste mercado de verão, e Zivkovic, Fejsa e Duricic, todos ex-Benfica.

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República da Irlanda: as memórias de Roy Keane e o lateral de Mourinho

É, dos quatro, o adversário que Portugal não encontrava há mais tempo em jogos oficiais. Desde 2001, na qualificação de acesso ao Mundial do Japão e da Coreia, que as duas seleções não se defrontavam: na altura, ambas as partidas terminaram em empate, primeiro sem golos e depois por 1-1, com golos de Roy Keane e Luís Figo. De lá para cá, em quase 20 anos, Portugal e Irlanda só voltaram a encontrar-se em duas ocasiões, ambas em jogos particulares, em 2005 e 2014 e com uma vitória para cada lado.

Ora, é precisamente desde 2002 que a Irlanda não consegue qualificar-se para qualquer Campeonato do Mundo, falhando o apuramento em 2006, 2010, 2014 e 2018. Há 18 anos, no Japão e na Coreia, a seleção liderada pelo capitão Roy Keane fez melhor do que Portugal e chegou aos oitavos de final, caindo aí com Espanha na decisão por grandes penalidades. No que toca a Europeus, porém, os irlandeses estiveram nos últimos dois, em 2012 e 2016, mas falharam a qualificação para o do próximo ano, ao serem afastados pela Eslováquia nas meias-finais do playoff.

Bulgaria v Republic of Ireland - UEFA Nations League B

Matt Doherty, lateral que o Tottenham contratou este verão ao Wolves, é a grande figura da seleção irlandesa

Orientada por Stephen Kenny, treinador que já comandou o Dundalk e o Shamrock Rovers, a seleção irlandesa está na Liga B da Liga das Nações e falhou a subida de divisão, ao terminar no terceiro lugar do grupo onde estava inserida, atrás do País de Gales e da Finlândia. Ao olhar para as convocatórias recentes da Irlanda, saltam à vista Matt Doherty, lateral do Tottenham de José Mourinho, Séamus Coleman, defesa do Everton, e ainda Shane Duffy, do Celtic. As últimas semanas de futebol trouxeram ainda para a ribalta outro nome, até aqui desconhecido: o jovem guarda-redes Caoimhín Kelleher, de 22 anos, que tem sido titular no Liverpool face à lesão de Alisson.

Luxemburgo: o oponente que valeu o apuramento para o Euro 2020 e a ligação a Portugal

Outro adversário que Portugal encontrou na qualificação para o Europeu e que agora reencontra na qualificação para o Mundial. No Grupo B de acesso ao Euro do próximo ano, a Seleção Nacional venceu os dois jogos contra os luxemburgueses: primeiro com golos de Bernardo Silva, Cristiano Ronaldo e Gonçalo Guedes (3-0) e depois com a ajuda de Bruno Fernandes e Cristiano Ronaldo (0-2), sendo que esta última partida, em novembro de 2019, foi mesmo a que garantiu o apuramento português para a fase final da competição.

O Luxemburgo, como se sabe, nunca marcou presença num Europeu nem num Mundial. Na Liga das Nações, os luxemburgueses competem na Liga C e ficaram no segundo lugar do Grupo 1, falhando a subida de divisão que pertenceu a Montenegro mas evitando a queda para o último degrau de seleções.

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A ligação do Luxemburgo a Portugal é, como se sabe, muito intensa. Nas últimas convocatórias, três dos jogadores chamados atuam em Portugal — Marvin da Graça (Casa Pia), Vincent Thill (Nacional) e Tim Hall (Gil Vicente) — sendo que outros dois, Mica Pinto e Daniel da Mota, têm ascendência portuguesa.

Azerbaijão: um selecionador de má memória

Em termos gerais, a contar com jogos oficiais e particulares, é o adversário que Portugal não encontra há mais tempo. Desde 2013 que a Seleção Nacional não se cruzava com o Azerbaijão sendo que, nessa altura, a dupla jornada esteve inserida na qualificação para o Mundial 2014: Portugal ganhou os dois jogos, primeiro com golos de Silvestre Varela, Hélder Postiga e Bruno Alves (3-0) e depois com o contributo novamente de Bruno Alves e também de Hugo Almeida (0-2).

Sem nunca ter estado num Europeu nem num Mundial, a seleção azeri é composta principalmente por jogadores que competem no próprio país — sendo que, reduzindo ainda mais o lote, uma larga maioria representa o Qarabag, clube que aparece normalmente na fase de grupos da Liga Europa. Nas convocatórias mais recentes, só três elementos atuam fora do Azerbaijão: Araz Abdullayev, médio dos turcos do Boluspor, Eddi İsrafilov, médio dos espanhóis do Albacete, e Renat Dadashov, avançado dos suíços do Grasshoppers.

Deportivo Alaves v Valencia - La Liga

O atual selecionador do Azerbaijão foi o treinador que levou a Albânia à primeira fase final da sua história, no Euro 2016

Ainda assim, o Azerbaijão é mesmo a única seleção do Grupo A de acesso ao Mundial 2022 que conta com um selecionador que não é da nacionalidade da equipa que treina. Desde julho, a equipa azeri é orientada pelo italiano Gianni de Biasi, que nos anos 70 e 80 foi jogador do Inter Milão, do Brescia e do Palermo, entre outros emblemas italianos. O técnico começou a nova carreira em 1990, nas camadas jovens do Bassano Virtus 55, o último clube que representou, e de lá para cá já comandou a SPAL, o Brescia, o Torino, o Levante, a Udinese e o Alavés. Foi na primeira experiência como selecionador, porém, que De Biasi encontrou mais sucesso.

Em dezembro de 2011, o italiano aceitou o desafio de treinar a seleção da Albânia. Ao longo de quase seis anos, Gianni de Biasi tornou-se o selecionador mais bem sucedido da história do país, levando a Albânia pela primeira vez a uma fase final de uma grande competição ao alcançar o apuramento para o Euro 2016. A conquista valeu-lhe a Ordem da Honra da Nação das mãos do presidente albanês e De Biasi só deixou a seleção em 2017, para ir treinar o Alavés. A aventura durou pouco mais de dois meses, o italiano de 64 anos esteve cerca de dois anos e meio sem clube e em julho aceitou então o convite do Azerbaijão.

Foi na passagem pela Albânia, contudo, que o percurso de Gianni de Biasi se cruzou com a Seleção Nacional. O italiano era o selecionador quando a equipa albanesa venceu Portugal, no primeiro jogo da qualificação para o Euro 2016, numa derrota que ficou irremediavelmente associada à saída de Paulo Bento do comando da seleção portuguesa.