A CDU afirmou esta sexta-feira que o incêndio que atingiu a antiga estação ferroviária da Boavista, no Porto, onde o Corte Inglés tem intenção de construir, sendo acidental ou intencional, evidencia negligência do Governo com o património público.

O incêndio que deflagrou esta madrugada, por volta da 03h30, no edifício devoluto da antiga estação ferroviária da Boavista, para o qual há um pedido de classificação municipal, consumiu, segundo os Sapadores do Porto, parte do interior e da cobertura do edifício, tendo obrigado à intervenção de uma autoescada.

“Um incêndio no edifício em questão e com todos estes contornos, sendo acidental ou intencional, evidencia a negligência do Governo para com o património público, neste caso das Infraestruturas de Portugal [IP], dado que até outubro de 2020, pelo que é noticiado, ainda não tinha ultimado o negócio com a cadeia espanhola”, refere a CDU em comunicado.

Até ao momento, o partido diz desconhecer os contornos do negócio entre o El Corte Inglés e a IP, proprietária daqueles terrenos, uma vez que o Governo ainda não respondeu ao requerimento do grupo parlamentar do PCP a solicitar informações.

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Lamentando o incêndio que afetou um edifício de “potencial interesse municipal”, a CDU defende que os fogos em edifícios devolutos, mesmo não tendo vítimas, “devem ter também uma investigação criminal prioritária”.

Isto porque, alertam, “estão associados muitas vezes, como aconteceu com a antiga Casa de Almeida Garret, a grandes perdas patrimoniais e potenciais riscos para a população e envolvente”.

Aquela força política condena ainda a aprovação de um Pedido de Informação Prévia (PIP) para a construção de uma grande superfície comercial naqueles terrenos “sem que tenham sido garantidas todas as tentativas de reversão do contrato de promessa de compra e venda, conforme proposta apresentada pela CDU e aprovada por unanimidade” e “sem que se tenha dado andamento ao pedido de classificação municipal, num edifício de reconhecido valor histórico e patrimonial”.

Na sequência do incêndio, o Movimento por um jardim na Boavista instou as autoridades a investigar as causas e os responsáveis pelo incêndio “criminoso”, estranhando a coincidência de o fogo ter acontecido “praticamente a seguir” à publicação de uma notícia que dava conta que estava ainda pendente o pedido de classificação da estação como imóvel de interesse municipal, “e num momento em que o edifício sofre uma enorme pressão para a sua demolição para dar lugar a um espaço comercial”.

Já depois desde apelo, a IP anunciou que vai levantar um auto de notícia e admitiu que poderá “verificar-se a apresentação de uma queixa crime contra desconhecidos”.

A empresa referiu também estar ainda a avaliar a extensão dos danos causados pelo incêndio de “origem desconhecida”.

Para os terrenos da antiga estação ferroviária da Boavista está prevista, para além de um grande armazém comercial, a instalação de um hotel e de um edifício de habitação comércio e serviços, cujo PIP foi aprovado pelo município em outubro.

Até ao momento, a cadeia espanhola pagou à IP, proprietária do terreno, 18,7 milhões de euros.

O projeto da cadeia espanhola para a antiga estação ferroviária tem sido alvo de contestação, tendo levado, em junho, um grupo de cerca de 60 personalidades ligadas à academia e ao património ferroviário a pedir a classificação municipal da antiga estação ferroviária da Boavista, depois de a Direção-Geral do Património Cultural ter arquivado o pedido nacional.