Quanto tempo falta para deixarmos de falar de tudo o que nos escapa? Não é por acaso que o ponteiro dos segundos tem destaque especial no design da SILICA (ou dos SILICA): se há coisa que este ano nos ensinou é a necessidade de pontualidade máxima no encontro com o agora. “Somos amigos de infância e ao longo de inúmeras conversas e partilhas, reparámos que cada vez mais falávamos da falta de tempo. Ganhámos consciência de que vivemos a vida a pensar no futuro e no passado, mas nunca no presente, explica Francisco Malvar, para um breve regresso aos primórdios do projeto.

“Esta discussão foi ganhando maior relevância nas nossas vidas e, em 2018, surgiu a ideia de criar e lançar uma marca focada no tempo”, continua o designer freelancer, a quem se se juntam David Delgado, arquiteto, Paulo Alves, mestre em gestão, e João Neto, licenciado em Ciências de Comunicação. Todos naturais da Lourinhã, onde cresceram, a um passo da praia e das referências que mais força ganham na composição da marca, entretanto materializada.

© SILICA

Não estranhe se os modelos responderem pelo nome de Ursa, Areia Branca, Laje ou Arda, já que as praias portuguesas entram naturalmente na equação que pretende resgatar os elementos mais primitivos, através dos quais se começou por medir o tempo. “É nas praias que conseguimos, de uma forma muito direta, conjugar os três elementos que representam as primeiras formas de medir o tempo e onde coexistem de forma natural e em harmonia, Areia, Água e Sol”.

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Chegados ao final de 2020, o design em causa é português, mas o resultado final (com preço de 129,99 euros) reflete outros pontos do mundo e outros fusos horários, sempre com um estilo entre o clássico intemporal e o minimalista descontraído. Enquanto a produção é atualmente realizada na China, o couro das braceletes tem nacionalidade italiana. Quanto aos materiais, qualidade e durabilidade são dois aspetos obrigatórios, garantem, a começar pelo aço inoxidável do qual é feito a caixa, através de uma peça única maciça, o vidro de safira, que utilizam nos mostradores. Já o fascínio pela engenharia por trás do sistema da peça talvez seja mais ou menos universal. “O relógio passou por um período criativo e de desenvolvimento de cerca de dois anos, onde foram efetuadas inúmeras experiências e protótipos”, descreve Francisco. “A oportunidade de desenhar e produzir um relógio é extremamente interessante pela componente complexa que está inerente a um objeto destes. Criar uma peça que consiga aliar todos os elementos mecânicos e funcionais com uma vontade gráfica e formal da marca SILICA”.

Apesar da vontade e empenho, o grupo não é alheio ao contexto, com uma série de desafios a dar horas. A inovação, ingrediente que estimam essencial para fazer sobressair os relógios, revela-se em várias dimensões, a começar pela forma como a equipa se lançou no mercado, através de uma bem sucedida campanha de crowdfunding que decorreu em junho deste ano, e que permitiu contrariar incertezas. “Lançámos a empresa numa altura exigente, tanto para empresários como para consumidores. No entanto, acreditámos sempre na capacidade de conquistar um espaço no mercado, com uma mensagem forte, diferente e com uma relação muito próxima dos nossos clientes e interessados. Estamos muito contentes com o resultado e de como este tangibiliza a mensagem da marca.”

© SILICA

Numa era pautada pelo recurso aos telemóveis (e ainda mais numa fase de pandemia em que o tempo parece suspenso) como se convence o próximo a usar um relógio no pulso? “Quando idealizámos a SILICA quisemos que a marca fosse diferente dos relógios utilitários. O ato de ver as horas cria uma relação estática entre a pessoa e o telemóvel ou o relógio. Naquele momento de contacto visual procuram-se as horas e os minutos, uma fotografia, sem dar realmente a noção de tempo”.

De volta ao pormenor dos segundos, é aqui que entronca o conceito ‘Different Time’, que é entendido pelo contacto visual com o ponteiro dos segundos, o único elemento em destaque no mostrador, e que o grupo pretende desenvolver no futuro próximo. “Lembra-nos que cada momento, cada segundo, cada minuto, cada hora, devem ser vividos e desfrutados em plenitude. É o foco no agora e não no tempo que falta para o que virá, nem no tempo que já ficou para trás. Queremos criar esta relação emocional entre o utilizador e o relógio, que não é conseguida num telemóvel”.

Não sendo exclusivos de um género, os modelos estão disponíveis para eles e para elas, diferindo nas cores e no tamanho — tanto o mostrador como as braceletes são mais pequenos nos modelos femininos.

Não querendo traçar grandes planos para o amanhã, até para não atropelar o hoje, Francisco, David, Paulo e João querem consolidar a posição como uma marca de relógios e continuar a desenvolver designs, “leia-se, coleções de relógios e outras linhas de produtos”.