Mais de 750 pessoas ‘encheram’ um cinema de São Jorge praticamente vazio. Com um enorme ecrã atrás do púlpito e dezenas de apoiantes a assistirem através de casa, foi assim o comício de arranque de campanha da eurodeputada do Bloco de Esquerda. “Desculpem o tempo, tentei não cair ao chegar aqui.” Marisa Matias começou com uma piada — e uma alusão à queda em período pré-eleitoral — para mostrar que ainda mal conseguiu respirar após a maratona de debates, mas que “a partir de hoje é a valer”.

Portugal precisa de uma “lufada de ar fresco” e Marisa acredita ser a solução certa para o país por representar uma “esquerda que tem urgência na igualdade” e por querer travar “a política das direitas [que] é muito mais agressiva do que há cinco anos”.

Com um discurso marcado por críticas a esse lado do espetro e a Marcelo Rebelo de Sousa, Marisa Matias fez questão de se diferenciar do atual Presidente da República e recandidato ao cargo. “Há uma oligarquia poderosa que domina Portugal, que quer que o país não se mova, que o povo não fale e que o respeitinho continue muito lindo. Marcelo Rebelo de Sousa é a continuidade desse Portugal antigo e eu sou o que quero e quero um Portugal para agora e para o futuro”, aponta Marisa Matias, que se apresenta como a candidata contra a “radicalização da direita”.

A eurodeputada considera que, nos últimos cinco anos, desde as últimas eleições presidenciais, “o mundo mudou para pior” e a “desigualdade acentuou-se”. Começou em Trump, passou por Bolsonaro e chegou a André Ventura, sem referir o nome do líder do Chega, mas referindo-se ao adversário na corrida a Belém como um “Trumpominion” que faz “do racismo um argumento político”.

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“A extrema-direita é um caldo de cultura dos discursos de ódio, de desigualdade cruel, da perseguição à democracia e do achincalhamento dos mais pobres e dos mais desprotegidos”, realça, frisando que os interesses financeiros e do capital são hoje “muito mais brutais”. E, por isso, depois da contagem dos votos no dia 24 de janeiro, Marisa quer ter contribuído para que Marcelo Rebelo de Sousa perceba que “há uma enorme força popular” de esquerda, com um “povo que não se quer deixar amesquinhar pela técnica do ódio e prosápia”.

Marisa Matias é a mesma de “há cinco anos” – quando ficou em terceiro lugar, com mais de 10% dos votos e se tornou a mulher mais votada de sempre em presidenciais -, mas vai “à luta, com confiança e entusiasmo” porque “a esquerda cresce quando é alternativa de ideias e de ação” e quando “recusa jogos e ajustes de contas”. É uma “luta empenhada que tem como enorme missão a democracia”.

Logo no início do comício, ainda em vídeo e antes das intervenções, Marisa Matias refere-se ao SNS como o “maior erro” de Marcelo Rebelo de Sousa por “não [o] ter protegido”, tendo sido “o guardião do negócio da saúde” e por ter colaborado com os privados.

Catarina Martins também marcou presença no comício, com rasgados elogios à candidata a Belém. “É mesmo da Marisa que precisamos”, garantiu a coordenadora do Bloco de Esquerda, apontando à “determinação com cuidado”, mas também “à coragem e competência” que lhe dão tudo o que é preciso num “tempo da exigência e de recusa de retrocessos”.

Estar nas eleições, ou conseguir um resultado positivo, “não é um prémio de carreira” para Marisa Matias. E, já agora, a insistência de que a eurodeputada começou a trabalhar “aos 16 anos”, depois da crítica de André Ventura no debate presidencial.

Catarina Martins saiu ainda em defesa da candidata do Bloco, com aquilo que foi mais um ataque a Marcelo Rebelo de Sousa que, diz, não há dúvidas “de que lado está”, nomeadamente no “papel na proteção de quem faz da saúde um negócio”, mas também no caso do Novo Banco.

“Só há liberdade a sério quando houver/A paz, o pão/habitação/saúde, educação.” No fim do comício, música de Sérgio Godinho – que apoia a candidata do Bloco de Esquerda por ser de “confiança”. Marisa Matias segue para a estrada esta segunda-feira, com duas ações de campanha em Lisboa e uma em Santarém.