Um grupo de personalidades assinou uma carta aberta dirigida ao Presidente da República e ao primeiro-ministro a apelar à revisão urgente dos critérios de vacinação contra a Covid-19, incluindo a idade como um elemento essencial nas prioridades de vacinação. Segundo os signatários — o político e poeta Manuel Alegre, o pneumologista Filipe Froes, o antigo bastonário da Ordem dos Médicos Germano de Sousa, os ex-ministros da Saúde Adalberto Campos Fernandes e Maria de Belém Roseira e o virologista Pedro Simas, entre outros — as pessoas com mais de 80 anos devem ser prioridade neste plano, tal como Portugal se comprometeu a fazer junto da Comissão Europeia.

“Não ignoramos o quão difíceis são as decisões a tomar num contexto complexo e perante a escassez inicial de vacinas. Mas é por essa razão que a identificação dos grupos a vacinar prioritariamente tem de estar sujeita a um escrutínio reforçado”, começam por referir os signatários na carta publicada esta terça-feira no jornal Público. Segundo este grupo, os critérios devem ser “claros e transparentes” e devem ter por base um processo “inclusivo e cientificamente rigoroso”.

Os signatários da carta acreditam que “os critérios até hoje previstos no plano de vacinação contra a Covid-19 não cumprem esses requisitos e podem ser significativamente melhorados” e defendem que os maiores de 80 anos devem fazer parte das prioridades de vacinação, juntamente com os profissionais de saúde. A evidência científica, referem, mostra que “dois terços da mortalidade concentra-se nos maiores de 80 anos” e que, segundo o relatório do Centro Europeu de Controle de Doenças, “durante a fase inicial, em que o número de vacinas disponíveis é limitado, a forma mais eficaz de reduzir o número total de mortos é vacinar os maiores de 80 anos e o pessoal médico e de saúde”.

Devem ser prioritariamente vacinados aqueles cuja vida o vírus coloca mais em risco. Não é eticamente aceitável valorizar uma vida mais do que outra. A expectativa ou a qualidade de vida não podem, assim, constituir um critério suscetível de justificar qualquer preferência na proteção de uma vida face a outra. Pensamos que este princípio humanista, de igual dignidade da vida humana, é consensual entre todos os portugueses e não acreditamos que os atuais critérios possam assentar em qualquer outro juízo”, acrescentam os signatários desta carta aberta.

O grupo relembra ainda que a Comissão Europeia recomendou a todos os Estados-membros “que vacinem até março um mínimo de 80% dos maiores de 80 anos e dos profissionais de saúde” e destaca o compromisso de António Costa em Bruxelas para cumprir esta orientação.

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Apesar de sublinhar a abertura demonstrada esta segunda-feira pela ministra da Saúde, Marta Temido, em rever os critérios, o grupo relembra que ainda nada foi alterado e que o atual plano de vacinação contra a Covid-19 em Portugal continua sem integrar a idade como um fator de prioridade: “Está por apresentar um Plano de Vacinação corrigido que incorpore o fator idade como elemento essencial das prioridades da vacinação. É para isso que apelamos antes que seja demasiado tarde e se tenha perdido uma boa parte de uma geração”.

Na próxima semana, a partir do dia 1 de fevereiro, começam a ser vacinados, além dos titulares dos órgãos de soberania, os deputados, funcionários da Assembleia da República, membros dos órgãos das Regiões Autónomas e presidentes de Câmara, enquanto responsáveis da proteção civil.

Covid-19: Deputados, funcionários da Assembleia da República, autarcas e magistrados do Ministério Público vacinados para a semana