O Conselho Norueguês para os Refugiados (CNR) anunciou que vários edifícios seus na região etíope de Tigray foram destruídos, tendo pedido uma investigação às ações que destruíram, também, uma escola e um centro de saúde.

Edifícios que apoiavam refugiados estão entre os destruídos na região etíope de Tigray, segundo imagens por satélite recebidas pelo CNR. Além das instalações do CNR, uma escola e um centro de saúde foram também destruídos nos campos de refugiados de Hitsaats e Shimelba nas últimas semanas”, referiu um comunicado da organização não-governamental (ONG), divulgado.

“Condenamos a destruição criminosa dos nossos edifícios e instalações que criámos para servir refugiados que precisavam de ajuda”, disse o secretário-geral do CNR, Jan Egeland, acrescentando que “a destruição e saque por homens armados aprofunda uma já dura crise para milhões de pessoas”.

No comunicado, a ONG norueguesa apresentou imagens de satélite dos seus campos, defendendo que entre 05 e 08 de janeiro deste ano, o seu complexo no campo de Hitsaats “parece ter sido queimado e os telhados das suas estruturas substancialmente danificados”. “O CNR insta o Governo da Etiópia e às nações dadoras a investigarem a destruição do fornecimento ou das infraestruturas de ajuda, responsabilizar os perpetradores e a assegurar que todas as estruturas de ajuda humanitária estejam protegidas”, lê-se no documento.

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Egeland deixou também um apelo a todas as partes para “respeitarem e protegerem” os trabalhadores de ajuda humanitária, em linha com a lei internacional. “Este é um desenvolvimento negativo inesperado e inaceitável num país que tem sido, durante tanto tempo, um exemplo da facilitação de ajuda e resposta humanitária”, sublinhou o responsável.

Os campos de Hitsaats e Shimbelba acolhiam mais de 25.000 refugiados eritreus, segundo o CNR, admitindo que os impactos dos danos continuam desconhecidos e que as Nações Unidas estimam que, embora 3.000 refugiados tenham sido realojados, cerca de 20.000 possam continuar desaparecidos.

O CNR assinalou que não é possível realizar uma investigação independente do destino dos refugiados e dos danos às instalações uma vez que o acesso das organizações de assistência humanitária continua dificultado pelo “continuado conflito e desafios burocráticos significativos”. “Treze longas semanas sem sermos capazes de entrar, responder de forma eficaz e verificar a situação dos nossos mecanismos de ajuda humanitária é simplesmente inaceitável”, vincou Egeland.

Em 04 de novembro, Abiy Ahmed, Nobel da Paz em 2019, lançou uma operação militar na região de Tigray após meses de tensão crescente com as autoridades regionais da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês).

A região foi privada de fornecimento de bens, telecomunicações e energia, sendo desconhecida a situação militar e humanitária. As forças federais viriam a proclamar o fim dos combates em 28 de novembro, com a captura de Mekele, capital regional, pelo Exército federal.

O não reconhecimento da legitimidade dos executivos regionais e federais por cada uma das partes e os combates em curso na região são o culminar de meses de fricção crescente desde que Abiy Ahmed tomou posse em 2018 e afastou do poder a até aí dominante TPLF.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de 60.000 pessoas fugiram da violência em Tigray, tendo procurado refúgio no vizinho Sudão.