Numa altura em que o impacto económico da pandemia de Covid-19 se agrava, homens, mulheres e crianças na Indonésia têm vindo a arriscar a própria saúde pintando-se com tintas metalizadas para ganhar dinheiro nas ruas. Cobertos de tinta dos pés à cabeça, a maioria costuma colocar-se junto a um semáforo, aguardando que este fique vermelho antes de se aproximarem das janelas dos carros com umas latas que usam para recolher esmolas.

A técnica não é nova, tal como conta o jornal espanhol El Mundo. Os silvermen já faziam parte do cenário, com muitos dos artistas de rua a pintarem-se de prateado para atrair a atenção de quem passava. Mas com a quebra de rendimentos trazida pela pandemia, as ruas foram inundadas por uma quantidade nunca antes vista de “pessoas prateadas”.

Os silvermen passam mais de 12 horas por dia com a tinta no corpo, percorrendo semáforos e as ruas das grandes cidades à procura de esmolas. A tinta que usam é caseira, fabricada a partir de uma mistura de óleo com pigmentos metalizados usados na serigrafia. Ao final do dia de trabalho, têm de se limpar com detergente da loiça, o mais eficaz a remover a tinta. O problema é que, ao fim de algum tempo, todo este processo deixa o corpo com erupções cutâneas e provoca irritações oculares.

“Tenho erupções no meu corpo todo. Tenho que tomar banho duas vezes. Isto pode afetar a minha saúde, mas precisamos do dinheiro. Temos dois filhos em casa; o primeiro tem apenas três anos, o segundo tem apenas três meses. Eu tenho que me lembrar deles”, revelou ao The Guardian uma rapariga de 25 anos, que todas as noites sai à rua pintada de prateado para ganhar dinheiro.

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De acordo com o Instituto de Estatística da Indonésia (BPS), a interrupção das atividades comerciais no país fez com que 2,67 milhões de pessoas perdessem os seus empregos, elevando a taxa de desemprego para 7,07% em agosto de 2020, o nível mais alto desde 2011, refere o The Guardian. Só em março de 2020, cerca de 1,63 milhões de indonésios caíram na condição de pobreza, elevando o número total para 26,4 milhões de pessoas.

Em declarações à publicação britânica, o responsável pelos serviços de apoio social de Jacarta, Ngapuli Peranginangin, disse que a explosão deste fenómeno foi um dos efeitos mais notórios da pandemia.

Agora, as autoridades ameaçam colocar cada vez mais entraves a quem mendiga na rua. Segundo o El Mundo, em Palembang, no sul da Sumatra, as autoridades decidiram impor uma multa de até 480 milhões de rupias (cerca de 284 euros) e uma pena de prisão de três meses a quem der dinheiro aos silvermen.

Num outro centro urbano, em Semarang, a polícia anunciou que desde julho que tem estado a implementar medidas para travar o fenómeno e para que os automobilistas se sintam confortáveis a circular nas estradas, melhorando a imagem da cidade.