Se dúvidas houvesse, Assunção Cristas arrumou-as esta quarta-feira. Numa publicação no Facebook, a ex-líder do CDS e atual vereadora na câmara de Lisboa anunciou que não será candidata à câmara de Lisboa nas próximas autárquicas e explica porquê. São três motivos e todos eles são culpa da atual direção do CDS, quer pelo “discurso contraditório” que tem ao culpá-la pela degradação do partido ao mesmo tempo que a vê como um bom nome para a autarquia, quer por discordar da política de alianças com o PSD, quer por não ter visto por parte da direção “interesse” em manter o contacto consigo, na qualidade de ex-líder do partido.

“Três razões essenciais pesaram na minha reflexão: a discordância da estratégia do CDS na negociação de uma coligação alargada com o PSD; o discurso contraditório da direção do CDS, que me considera simultaneamente responsável pela degradação do partido no último ano e uma boa candidata a Lisboa, somado ao parco interesse em falar comigo, num tempo e numa forma que fica aquém do que a cortesia institucional estima como apropriado; os desafios profissionais que tenho pela frente”, lê-se.

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Posted by Assunção Cristas on Wednesday, February 10, 2021

Depois de dizer que não será candidata à câmara de Lisboa “por entender que, apesar do apoio das estruturas locais do partido, não estão reunidas as condições de confiança necessárias para ponderar uma candidatura”, Assunção Cristas enumera os motivos para não o fazer, sendo que a responsabilidade é atribuída à direção de Francisco Rodrigues dos Santos, na medida em que a ex-líder do CDS dá nota de que manteve viva — ou suficientemente “ambígua” — a hipótese de vir a protagonizar essa candidatura. Tendo dado espaço e tempo ao líder do partido para decidir.

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“Muitas vezes fui questionada por jornalistas sobre a minha disponibilidade para me recandidatar. Por entender que era um assunto para ser tratado com toda a atenção e cuidado ao nível da presidência do partido, optei por manter a ambiguidade, de forma a em nada comprometer qualquer decisão e a manter um espaço vital para a negociação e a afirmação do CDS”, escreve.

No entender de Cristas, a única forma de o centro-direita vencer Lisboa é unindo-se “em torno de um projeto ambicioso para os lisboetas”. E essa união passaria, no seu entender, não só pelo PSD e o CDS mas também pelos “partidos do espaço político da direita democrática que o desejem” e também por “independentes”. Ou seja, aqui cabe o Iniciativa Liberal mas não o Chega.

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Mas a pressão sobe de tom quando Cristas define como critério para encabeçar essa coligação o resultado das últimas eleições autárquicas, onde a sua candidatura (pelo CDS), com 20,59% dos votos, ficou bastante à frente da candidatura de Teresa Leal Coelho (pelo PSD), que teve apenas 11,2%. Ou seja, Francisco Rodrigues dos Santos deve encontrar um nome no CDS que seja o líder desta coligação e não se deve submeter à escolha que Rui Rio venha a fazer.

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“De acordo com o relacionamento histórico entre o PSD e o CDS, o critério a adotar deverá ser o resultado das últimas eleições autárquicas. Foi assim que aconteceu em 1979, quando Nuno Kruz Abecasis se tornou Presidente da Câmara de Lisboa, em consequência das eleições de 1976, que tinham dado 18,9% ao CDS e 15,2% ao PSD. Em 2017 o CDS teve 20,59%, o melhor resultado da sua história, o PSD teve 11,2%, o CDS elegeu 4 vereadores, o PSD 2.”, diz passando aos factos.

Tudo para concluir que, se em 1979, a distância que na eleição anterior não chegou a quatro pontos percentuais determinou a liderança do CDS, então em 2021 “a diferença de quase onze pontos também o deve determinar”. Não há dúvidas, no entender de Cristas que o CDS não deve apoiar um candidato do PSD a Lisboa, mas deve sim fazer-se valer da sua posição de força conquistada nas últimas autárquicas, ciente de que o diálogo com o PSD deve ser preservado.

“Penso que mais importante do que o nome que em concreto o CDS possa apresentar, é o relacionamento institucional e o cumprimento de critérios objetivos no diálogo entre os dois partidos que precisa de ser protegido e salvaguardado”, diz, sublinhando que “até agora” ainda não viu a direção do CDS a fazê-lo. Mas “ainda há tempo”.