Problemas com crises de ansiedade, cansaço psicológico, isolamento, depressão, anorexia — a saúde mental das crianças e jovens portugueses está a ser motivo de preocupação entre médicos especialistas em pedopsiquiatria. Segundo uma notícia do jornal Público, citando dados da Administração Central de Sistema de Sáude, apesar de se registar quebras em indicadores a nível nacional, as consultas de psiquiatria na infância aumentaram 5,3% entre março-dezembro 2020 em relação a igual período de 2019, e os casos registados em urgência foram mais graves.

No Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, por exemplo, o número de crianças e jovens que chegaram à urgência e tiveram contacto com a especialidade de pedopsiquiatria aumentou quase 50% em comparação com igual período do ano passado, altura em que o vírus ainda não se tinha instalado da forma que hoje conhecemos, de acordo com o jornal.

Rita Rapazote, coordenadora da urgência metropolitana de Lisboa de pedopsiquiatria, que funciona no Dona Estefânia, conta ao diário que apesar destes “casos de ansiedade” serem expectáveis, tendo em conta o contexto pandémico, eles não devem ser desvalorizados “porque há situações muito dramáticas e, se foram à urgência mesmo em contexto de pandemia, é porque precisavam mesmo”.

A médica, referindo diminuição geral a nível nacional de idas às urgências nestes casos, frisa que isso não se traduz numa melhoria na saúde mental dos mais novos: “É um salto enorme, uma conclusão que não se pode tirar. É preciso ver pedidos de consultas externas, pedidos nos centros de saúde, fora do serviço nacional de saúde, há uma série de respostas que precisam de ser consideradas e é preciso ter em conta que o sofrimento ocorre num período de tempo considerável”.

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No Hospital Pediátrico do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC), apesar de os casos de ansiedade terem descido no período pandémico (embora continuando prevalentes), as tentativas de suicídio e de perturbações de comportamento alimentar que chegaram à urgência, durante a pandemia, foram “mais graves” disse ao Público a diretora do serviço de pedopsiquiatria.

Carla Pinho salienta ainda que o impacto psicológico nas crianças e jovens que se verifica agora pode ser só a ponta do iceberg: “Sem dúvida que a pandemia e o confinamento têm impacto negativo na saúde mental de crianças e jovens e vai piorar mais tarde. Na região Centro, e cá no pediátrico, e não só na pedopsiquiatria, estamos todos preocupados com os efeitos desta pandemia nas crianças e jovens e com as medidas que devem ser tomadas. Estarem fechados desorganiza as crianças e jovens e os efeitos não são imediatos, vão aparecendo”, diz.

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Dados da Administração Central dos Sistemas de Saúde citados pelo Público mostram que  os internamentos passaram de 840 (1 de Março 2019 a 31 de Janeiro 2020) para 442 (1 de Março 2020 a 31 de Janeiro 2021) mas “relativamente a 2020-2021, a informação não está fechada, uma vez que o processo de codificação clínica está ainda a decorrer, tendo naturalmente influência nos dados apresentados”.

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