Em fevereiro de 2006, Gisberta Salce Júnior, uma transexual brasileira de 45 anos, prostituta e seropositiva, foi agredida e violada por 14 adolescentes durante vários dias, tendo sido encontrada morta num poço de 15 metros. O episódio trágico chocou a cidade e fez com que o país debatesse a intolerância e o ódio contra os homossexuais, mas também questões ligadas à transfobia e à igualdade de género.

Quinze anos depois, a Comissão Organizadora da Marcha do Orgulho do Porto (COMOP), organização fundada para combater as opressões a que as pessoas LGBTI+ estão sujeitas, considera que “está na hora de reconhecer e homenagear a vida de Gisberta Salce Júnior”.

Esta quarta-feira, lançou um abaixo-assinado online, criado juntamente com a atriz e ativista Sara Barros Leitão, onde propõe à Comissão de Toponímia que uma das ruas da cidade tenha o nome de Gisberta, considerando ser este “um passo gigante para representatividade, bem como motivo de orgulho para a cidade do Porto”. “A iniciativa tem como objetivo promover uma reflexão sobre como poderemos tornar o Porto uma cidade mais inclusiva e como poderemos combater a opressão a que as pessoas LGBT+ estão sujeitas”, lê-se em comunicado.

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Esta não é a primeira vez que coletivos da cidade pedem uma rua com o nome de Gisberta. Em 2010, através de um projeto desenvolvido numa parceria do NEC – Núcleo de Experimentação Coreográfica, inserido no FITEI – Festival Internacional de Teatro e Expressão Ibérica, com a comunidade, foi sugerido este nome para uma rua da cidade, mas a Comissão de Toponímia rejeitou esta proposta.

Em 2019 foi a vez da atriz Sara Barros Leitão entregar um abaixo-assinado com 120 assinaturas, criado no âmbito do espetáculo “Todos Os Dias Me Sujo De Coisas Eternas”, com o mesmo objetivo. O pedido foi entregue em março de 2020, o qual ainda não obteve “qualquer resposta”. O período de recolha de assinaturas desta terceira tentativa encerrará no mês de julho e a subscrição está aberta a pessoas individuais e a coletivos.

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Acreditando que a violência de que a Gisberta foi alvo “continua presente nas ruas do Porto e um pouco por todo o país”, a COMOP considera que, 15 anos depois do violento assassinato, a comunidade trans continua “largamente exposta à mesma marginalização, preconceito e violência”. A Marcha do Orgulho LGBT propõe uma “profunda reflexão” sobre a cidade e o espaço público através da criação de sessões de discussão de questões como a exclusão social, a gentrificação, a cidadania participativa ou solidariedade”, numa iniciativa intitulada “Se esta rua fosse minha”.

Em comunicado, a COMOP apela ainda à criação de um plano municipal LGBTI+ no Porto para 2022, “que contemple medidas prioritárias para combater a desigualdade e a exclusão social, e impeça a violência que existe sob várias formas que a população LGBTI+ sofre ainda na cidade”. Este plano, defendem, deverá ser elaborado em conjunto com grupos de ativistas e organizações que trabalham no terreno com estas problemáticas.