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Gisberta Salce Junior veio para Portugal com 20 anos para fugir a uma vaga de homicídios a transexuais em São Paulo. Gisberta, transexual, acabou morta num poço, no Porto, aos 45 anos. Foi o culminar de vários dias de agressões de rapazes entre os 12 e os 16 anos. O caso provocou o debate sobre transfobia, pôs a nu os abusos cometidos na Oficina de São José, instituição que acolhia os rapazes, e encheu páginas de jornais. Dez anos depois, o que é feito daqueles jovens? E da instituição? E do prédio abandonado onde Gisberta morreu? E da família da imigrante? Quem era, afinal, aquela mulher? E o que é que a sua morte deixou?
No final de 2005, Fernando, Ivo e Flávio começaram a reunir-se para fazer graffitis num edifício abandonado no Porto. Era precisamente nesse edifício que Gisberta, transexual, imigrante brasileira, prostituta e seropositiva tinha encontrado um sítio para viver — uma degradação que chegou depois de anos como mulher vistosa, que chegou a atuar em bares como transformista. Dentro do edifício construiu uma barraca, com as suas coisas. Foi Fernando que se apercebeu de que aquela sem-abrigo era Gisberta. Porque a conhecia desde os seis anos.
Os três rapazes conversaram com ela e, a partir daí, começaram a visitá-la regularmente. Entre uma conversa e outra, Gisberta “relatou-lhes os problemas de saúde de que padecia”, verbalizou a fraqueza, a sida, síndrome “de cujos sinais físicos exteriores todos aqueles menores bem se aperceberam”. Os corações amoleceram e, a partir daí, os três menores começaram a levar comida a Gisberta. Mais: chegaram “a confeccionar-lhe refeições no local”, consta no processo, a que o Observador teve acesso.
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