Nas listas enviadas pelas autoridades de saúde que identificam as pessoas que devem ser vacinadas estão várias pessoas que já morreram. A revelação é feita pelo presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar.

Em declarações à Rádio Observador, Nuno Jacinto diz que a inclusão do nome de uma pessoa que já morreu (no caso, há 20 anos) na lista de pessoas a vacinar enviada para Cascais — inicialmente revelada pelo autarca Carlos Carreiras ao Jornal de Notícias — não é caso único no país. “O que temos verificado no dia-a-dia é que tem havido algumas falhas e lapsos nas listas que nos são introduzidas no sistema”.

Temos alguns utentes que infelizmente já faleceram e continuam a aparecer nas listagens e temos um grande problema com os contactos dos doentes que lá estão introduzidos, muitos deles não têm contactos atualizados e portanto temos ainda mais trabalho para conseguir chegar a estes utentes e fazer a convocatória e agendamento da vacinação”, apontou Nuno Jacinto.

Quando nas listas enviadas aparecem nomes de utentes sem contactos atualizados, “muitas vezes acabamos por conhecer algum familiar daquele utente e temos de utilizar essa via indirecta para chegar ao utente que pretendemos vacinar”, explica Nuno Jacinto. “No caso dos óbitos a situação é um pouco mais delicada, alguns identificamos e percebemos que aquele utente já faleceu, outros acabamos por ser informados pelo familiar que contactamos“, acrescentou. Pode ouvir as declarações aqui:

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“Há mortos nas listas de vacinação. Muitas vezes são os familiares que informam quem telefona”

O JN tinha noticiado esta quinta-feira que nas listas enviadas pelas autoridades de saúde aos municípios, que identificam os utentes que devem ser vacinados contra a Covid-19, há dados e contactos desatualizados de utentes. A Cascais tinha chegado mesmo uma lista onde um dos utentes identificado como prioritário na vacinação já morrera há 20 anos, segundo relatava Carlos Carreiras.

As autoridades de saúde pediram aos utentes para atualizarem os seus contactos ou através do centro de saúde ou através do portal do SNS, mas segundo o JN as bases de dados enviadas listam ainda muitos utentes com contactos erróneos ou que, por terem emigrado ou estarem em lares, já não deveriam constar da lista de vacinação (em alguns casos por já terem levado a vacina).

Listas de vacinação desatualizadas. Cascais detetou um morto entre os que esperam pela vacina

A “confusão” que Carlos Carreiras relata no atual processo de convocatórias para a vacinação — e que prevê que seja “total” quando a administração de vacinas se intensificar — não parece ser consensual, dado que por exemplo o presidente da câmara de Mafra e dos Autarcas Sociais Democratas, Hélder Sousa Silva, relatou ao JN que apesar das falhas o processo corre bem. Uma posição corroborada pelo autarca de Vila Real, Rui Santos.

O facto do processo de convocatórias começar pelo envio de um SMS mereceu ainda assim contestação de alguns autarcas, como o presidente da Câmara Municipal de Vila Real ou o autarca de Gondomar, Marco Martins, que diz que o método “não está a funcionar”. Há ainda muitos utentes incontactáveis por essa via, pelo que quando o processo falha a solução encontrada pelo poder local é o contacto porta a porta: em Gondomar mais de 4 mil utentes (4.294) foram convocados pela autarquia para a vacinação com um toque na campainha e em Cascais há jovens voluntários a irem bater à porta de utentes elegíveis para a vacinação que ninguém conseguiu contactar por telemóvel.