A liga espanhola não vai arquivar o alegado caso de racismo durante o Cádiz-Valencia e vai averiguar o que Juan Cala terá dito a Diakhaby. Javier Tebas, o presidente do organismo, disse esta quarta-feira que existirá uma “solução conclusiva” para o episódio e que o processo terá como objetivo “aclarar” o que se passou através de dois métodos: a limpeza de todos os áudios da transmissão televisiva, de forma a isolar o que Cala disse, e a leitura labial do jogador do Cádiz, levada a cabo por um especialista na matéria. 

As declarações de Javier Tebas acabam por responder à acusação do próprio Diakhaby, que esta quarta-feira e na conta oficial do Twitter mencionou a liga espanhola e afirmou que “calar é ser cúmplice”. “Durante esta noite ou amanhã, existirão mais notícias sobre o caso Diakhaby. Mas já estudámos esse áudio, é um minuto e 30 segundos depois do incidente. Quem disse a expressão [negro de m****, segundo o francês] tem sotaque sul-americano e, por isso, não é Cala. Trabalhámos muito o assunto e parece que alguém disse a um grupo de jogadores ou ao árbitro a expressão que alegadamente se disse, mas essa expressão não é de Cala”, insistiu Tebas, que parece atribuir a “presunção da inocência” que o central do Cádiz pediu no início da semana.

O caso Diakhaby continua. “Quero falar, as palavras foram ‘Negro de m****’”, acusa francês. “Ou inventou ou percebeu mal”, diz Cala

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“Já pedimos a limpeza de todas as gravações que possam existir para perceber o que se pode ouvir naquele momento. E também já pedimos uma peritagem de leitura labial para perceber o momento do lance, quando Cala dá a volta e diz alguma coisa. Queremos saber o que disse”, explicou o presidente da liga espanhola, acrescentando que existirá “um relatório sobre o que dizem os lábios de Cala”. “Existirá também um relatório sobre o áudio que assinala Diakhaby, que corresponde a um minuto depois do incidente. Não é o momento com o Cala e acho que se pode identificar o jogador que sabemos que está a falar e que não é Cala. Creio que, assim, vamos aclarar as coisas. Penso que existirá uma solução conclusiva”, terminou Javier Tebas.

O alegado insulto racista de Juan Cala a Diakhaby na primeira parte do encontro entre Cádiz e Valencia, que fez com que os visitantes se retirassem de campo antes de regressarem 20 minutos depois mas sem o central francês, continua a dar muito que falar em Espanha, não só no mundo desportivo mas também na política, e com versões completamente distintas apresentadas na passada terça-feira pelos dois intervenientes num caso que irá passar também para a Justiça, com o central do Cádiz a adiantar que irá avançar com ações legais.

“Quero falar sobre o que se passou em Cádiz no domingo. Hoje estou mais tranquilo e quero falar. Em Cádiz no domingo há uma jogada onde um jogador me insulta. As palavras são ‘negro de m****’. O jogador disse-me isso e é intolerável. Todos viram as minhas reações. Não se pode passar na vida normal nem no futebol, que é um desporto de respeito”, começou por dizer o jogador num vídeo gravado em casa com pouco mais de dois minutos.

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“Os meus companheiros e eu decidimos ir para o balneário, que foi uma boa decisão e logo aí um jogador deles perguntou a um nosso se o Cala pedisse desculpa, se voltaríamos ao campo. Eu e os meus companheiros dissemos que não. As coisas não são assim, não podes fazer algo e passar assim com um pedido de desculpa. Hoje sinto-me bem mas doeu-me muitíssimo. É a vida, acontecem coisas assim. Espero que a Liga faça alguma coisa, soluções, que encontre provas para que tudo fique claro. Quero agradecer ao Valencia, aos meus companheiros e treinadores, pela solidariedade e pelo apoio que me têm dado”, acrescentou o central francês.

No entanto, a versão apresentada por Juan Cala, que compareceu numa conferência de imprensa para esclarecer o sucedido, é bem diferente e o jogador assumiu mesmo que irá avançar com processos, ao mesmo tempo que fez questão de lamentar aquilo que considera ser um linchamento mediático que chegou até à política.

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“Tudo começou num canto a favor do Valencia em que o jogador Diakhaby caía em cima de mim. Levo com uma cotovelada, reclamo falta e ele diz-me para levantar. Depois vem o golo, o cartão e a jogada em que numa falta a favor tenho outro lance de jogo com o jogador, levo um golpe e reclamo outra vez. Disse ao jogador ‘deixa-me em paz’, há um desentendimento e o jogador acusa-me de lhe ter chamado ‘negro de m****’. Monta aquilo depois de levar o amarelo e depois vivemos aquela cena no campo. Nunca lhe chamei isso, é bastante claro. Tudo o que diz é falso. Se algum jogador do Cádiz disse que ia pedir desculpa, deixo o futebol. Isto é um linchamento mediático”, salientou o jogador dos visitados, que manteve as críticas ao que aconteceu durante e depois do jogo.