Durante mais de duas horas, centenas de pessoas passaram na igreja de Notre Dame, em Pontoise, na região parisiense, para prestar homenagem a Carlos Soares, lusodescendente morto na semana passada por uma bala perdida. “O Carlos era de Pontoise e uma personalidade da nossa cidade, muito apreciado por toda a gente. Toda a cidade está completamente chocada”, disse Stéphanie Von Euw, presidente da Câmara Municipal de Pontoise, em declarações à agência Lusa.

A comunidade portuguesa da região, assim como os amigos do bairro de Marcouville, de onde Carlos era originário e onde na semana passada foi mortalmente baleado, passaram hoje de manhã na igreja de Notre Dame para mostrar solidariedade com a família do português de 34 anos.

Soares morreu na semana passada na sequência de uma bala perdida enquanto participava num churrasco com um grupo de amigos no bairro de Marcouville. Os autores do crime são também portugueses e vieram até ao bairro recuperar uma mota alegadamente roubada por um jovem, acabando por atropelar mortalmente o jovem e disparando inadvertidamente sobre todas as pessoas que estavam à volta.

Carlos Soares era casado e tinha uma filha de cinco anos. A sua mulher, Pauline, era muito conhecida na cidade por ser comerciante e, segundo a família, tem sentido a solidariedade dos habitantes de Pontoise, mas também de Portugal, especialmente na forma da chamada recebida diretamente de Marcelo Rebelo de Sousa.

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“Ela está a aguentar-se e é uma pessoa muito forte, mas claro que vão precisar de ajuda. E eu estava ao lado dela quando o Presidente da República português nos ligou e ela sentiu a solidariedade vinda de Portugal”, assegurou Nadège Baryla, tia da mulher de Carlos Soares. O casal estava junto há muitos anos e tinham-se casado há dois anos em Portugal. Tinham uma filha de cinco anos e viviam uma história de amor “feliz”.

“Carlos era uma pessoa séria, muito justo, com convicções e alguém com muita energia positiva. Eles eram muito felizes. Casaram-se em Portugal há dois anos, têm uma menina de cinco anos. Formavam uma família muito bonita”, contou Nadège Baryla. Carlos era lembrado por todos os que foram hoje manhã à cerimónia como “uma ótima pessoa” e um bom amigo.

“Conheço muito bem a família. O pai e mãe dele eram muito amigos dos meus pais, crescemos todos juntos. Era um ‘gajo’ porreiro como o pai, sempre a rir-se. E também os irmãos. Foi sempre uma pessoa ótima”, descreveu Marco Soares, português também instalado na região de Pontoise.

Este era o entendimento geral de quem o conhecia desde criança. “Eu vivia em Marcouville quando era mais jovem e passei muito tempo com o irmão mais velho dele. E Carlos era o mais pequenino e toda a gente o conhecia. Ele era muito simpático e tinha muita vida”, lembrou Audrey, antiga habitante do bairro de Marcouville.

Para a comunidade portuguesa, este é também um momento de choque. “É a primeira vez que isto tocou a comunidade portuguesa. E é uma grande comunidade aqui […] Claro que estamos preocupados, tanto assim que a maior parte das pessoas que estão aqui são portugueses, mas também sabemos que foi um caso isolado”, declarou Marco Soares. A quantidade de pessoas que prestou esta última homenagem levou as autoridades locais a um controlo apertado do acesso à igreja, numa operação que juntou os serviços funerários, a polícia nacional, a polícia municipal e ainda alguns voluntários.

“Houve algumas modificações devido à pandemia, para evitar que toda a gente se junte no mesmo lugar. Tomaram-se algumas precauções suplementares para que o funeral do Carlos se passe bem e que a família possa fazer o funeral tranquilo. […] É uma operação que envolve entre 30 a 40 pessoas”, explicou César Carvalho, lusodescendente e dono da empresa funerária responsável pelas cerimónias fúnebres de Carlos Soares.

De forma a evitar novos confrontos no bairro de Marcouville e tentando apaziguar a crescente violência na região dos arredores da capital francesa, o município, segundo a autarca Stéphanie Von Euw, prevê obras no bairro e a requalificação dos espaços desportivos para os mais jovens.

Quanto à comunidade portuguesa, a presidente da Câmara de Pontoise garante que há uma “excelente relação” entre todos. “Temos uma relação excelente com a comunidade portuguesa. São pessoas bem integradas, que estão muito implicadas nas associações e no conselho municipal. Apreciamos muito trabalhar com esta comunidade”, afirmou.

O corpo de Carlos Soares seguirá agora para Guimarães, de onde são originários os seus pais e onde vive a sua mãe desde que se reformou em França. As cerimónias fúnebres acontecem na terça-feira na igreja de São Cristóvão de Selho.