Críticas a José Sócrates e ao juiz Ivo Rosa marcaram, este domingo, o comentário televisivo de Luís Marques Mendes na SIC. O antigo primeiro-ministro, pelo seu mau exemplo, além de “ativo tóxico”, “tem dado um contributo enorme, enorme, enorme para o crescimento da extrema-direita em Portugal”, afirmou o comentador. Já sobre Ivo Rosa, o juiz que fez cair 25 dos crimes que pendiam sobre Sócrates na Operação Marquês, disse ser altura de os dirigentes políticos e dos líderes do poder judicial quebrarem o silêncio sobre a crise na justiça desencadeada com a decisão do magistrado Tribunal Central de Instrução Criminal.

A decisão de Ivo Rosa “foi um arraso na confiança dos cidadãos na justiça”, defendeu o comentador, sublinhando que o silêncio dos responsáveis políticos e dos dirigentes da justiça não passou despercebido. “Ninguém teve uma palavra sobre o assunto. Presidente da República, primeiro-ministro, ministra da justiça, presidente do Supremo Tribunal de Justiça…”

O silêncio dos primeiros dias é compreensível, “para não reagir a quente, mas nas próximas semanas, depois de tudo acalmar,  é obrigatório que os principais responsáveis políticos e da justiça falem”. Para Marques Mendes, a questão que deve ser debatida não é o processo judicial em si, nem os seus pormenores, mas antes “a crise da justiça” e a forma de restaurar a confiança no sector. “Têm essa obrigação democrática”, acrescentou.

Sobre a entrevista de Sócrates à TVI, o comentador considerou que o antigo primeiro-ministro “esteve igual a si próprio”, apelidando-o de “egocêntrico”, “violento”, e de escolher, recorrentemente, “fazer-se de vítima”. Mendes diz que o ex-primeiro-ministro manteve a “relação sempre difícil com a verdade”, não tendo nunca explicado as suspeitas de corrupção. Tal falha, para Marques Mendes, representa o momento em que Sócrates se matou politicamente, já que dá “tiros no pé”, “está a autoincriminar-se, a declarar como culpado”, frisou.

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A “ingenuidade delirante de Ivo Rosa”

“Houve aquela ficção completa criada pelo juiz Ivo Rosa: a de que Santos Silva não era o testa de ferro, era o corruptor. Isso só existe na ingenuidade delirante de Ivo Rosa”, argumentou o comentador, frisando que Sócrates não tentou sequer arranjar uma justificação.

Algum português acredita que Ricardo Salgado punha 30 milhões de euros nas contas de Carlos Santos Silva a título de consultor? Nem 3 milhões, que fará 30?” A entregar esse valor a alguém, defendeu o comentador, Salgado só o entregaria a alguém com muito poder, “a um decisor e não a um consultor”.

Para Marques Mendes, também os ataques de Sócrates ao PS foram outra falha: “O PS vai defendê-lo depois de estes comportamentos suspeitos à volta do dinheiro?” Mesmo não sendo crime, afirmou, seria política, moral e eticamente inaceitável. “Se o PS viesse defendê-lo, suicidava-se em público.” Em contrapartida, considera que a única crítica que se poderia fazer ao Partido Socialista era a contrária, a de não ter feito auto-crítica.

“Medina falou e falou bem: o comportamento de Sócrates corrói o funcionamento normal da vida democrática”, lembrou Marque Mendes, dizendo não ter dúvidas de que a opinião do presidente da Câmara de Lisboa expressa a opinião da maioria dos militantes do PS, direção e António Costa incluídos.

“Medina disse aquilo que maioria pensa, que Sócrates, é um ativo tóxico, e eu acrescentava que, pelo seu mau exemplo, tem tido um contributo enorme, enorme, enorme para o crescimento da extrema-direita em Portugal”, considerou o comentador político.

Proposta de juízes sobre ocultação de património “é sensata”

Ainda na área da justiça, Marques Mendes deixou uma palavra sobre a proposta de criação de um novo crime de ocultação de património, apresentada pela Associação Sindical dos Juízes. “Uma proposta sensata, positiva, construtiva e equilibrada”, classificou o comentador.

Contudo, Mendes diz não perceber como o Governo deu a entender “que não quer fazer nada”. “Espero que os outros partidos , com o PSD à cabeça, tomem a iniciativa de avançar com isto”, concluiu.

No final do seu comentário, o antigo ministro do PSD deixou ainda algumas notas sobre as escolhas do seu partido para as listas autárquicas: com três apostas óbvias, Lisboa, Coimbra e Funchal, considerou que para um partido que “quer dar a volta” ao mau resultado de há quatro anos, esperava-se “mais ambição”, sobretudo nos maiores municípios do país.

E aponta erros desnecessários, sendo o maior de todos a escolha da candidata à Amadora, Susana Garcia, uma pessoa identificada com o Chega. “O PSD perde no país sem ganhar nada na Amadora”, concluiu.