Quando anunciou a renovação de contrato com a Mercedes, num cenário há muito esperado mas que trouxe um vínculo entre as partes diferentes de todos os outros feitos até esse momento nem tanto a nível financeiro mas numa série de atividades e parcerias de âmbito social, Lewis Hamilton sabia que essa seria mais do que uma mera continuidade no circo da Fórmula 1 – era o último passo para consolidação como a maior figura de sempre na modalidade. E se todos os projetos anunciados eram um dos caminhos para esse objetivo, havia também mais uma série de registos desportivos por alcançar. Um deles, uma semana depois, está alcançado.

Lewis Hamilton conquista 100.ª ‘pole position’ na F1 no GP de Espanha

Após ter acabado a qualificação em Portugal na segunda posição, o britânico foi o mais rápido no Grande Prémio de Espanha e alcançou a 100.ª pole position da carreira, um número redondo que valeu muitas homenagens que foram até recordar o primeiro ano de Hamilton na Fórmula 1, há quase uma década e meia. Alguns registos só muito dificilmente serão quebrados, como o número de vitórias consecutivas em Grandes Prémios (Vettel, nove). Outros, sendo complicados, podem ser batidos como o número de hat-tricks em prova com pole, volta mais rápida e vitória (Schumacher, 22). E haverá sempre a coroa final de poder tornar-se o primeiro piloto de sempre a conquistar por oito vezes o Mundial. No entanto, e como se viu em 2021, a tarefa não promete facilidades.

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Hamilton conseguiu o melhor tempo com apenas 0,036 de vantagem de Max Verstappen com Valtteri Bottas na terceira posição a 0,132. Até pelas diferenças de tempos, com Leclerc a ser o quarto mais rápido mas quase a oito décimas do britânico, a prova estava resumida em condições normais apenas aos Mercedes e a um dos Red Bull (Pérez não foi além da oitava posição, quase a um segundo) mas com o holandês a mostrar argumentos para poder mais uma vez intrometer-se na luta pela vitória na quarta prova da temporada de 2021, depois dos triunfos de Hamilton no Bahrain e em Portugal e da vitória de Verstappen em Ímola.

“A P3 estava a correr muito bem, estávamos fortes durante todo o fim de semana. Fiz algumas mudanças e estava um pouco ansioso para perceber como iriam resultar essas alterações. Tentamos sempre tornar o carro melhor mas é uma espécie de aposta. Nem acredito que consegui chegar à 100.ª pole. É para todos os homens e mulheres na fábrica que estão sempre a elevar a fasquia e nunca desistem. Foi um trabalho de sonho de todos eles”, frisara no final da qualificação onde foi mais uma vez o protagonista principal entre várias homenagens. Um papel que, mais uma vez esta temporada, teria de dividir com o holandês Max Verstappen desde início, depois de uma surpresa organizada pela equipa a propósito da 100.ª corrida celebrada em Barcelona.

Num arranque muito disputado com os quatro primeiros a conseguirem de forma aparente uma boa saída, Max Verstappen conseguiu forçar a entrada por dentro da primeira curva e surpreendeu o britânico, saltando para a primeira posição e fazendo com que Hamilton tivesse um ligeiro movimento para a esquerda abrindo um pouco a trajetória pensando no resto da corrida mas prejudicando também Bottas, que seria ultrapassado pouco depois por Charles Leclerc. Um pouco mais atrás, Ricciardo e Sergio Pérez conseguiram subir em relação à qualificação, para os lugares de Esteban Ocon e Carlos Sainz. Lando Norris e Fernando Alonso fechavam o top 10.

O holandês não demorou a abrir uma vantagem de 1,5/1,7 enquanto Hamilton adaptava o carro à corrida, sendo que a partir da quinta volta essa diferença estabilizou com perspetiva de poder ir diminuindo aos poucos até surgir a primeira desistência, com o AlphaTauri de Tsunoda a ficar parado numa curva e a obrigar à entrada do safety car enquanto Antonio Giovinazzi protagonizava uma situação poucas ou nenhumas vezes vistas nas boxes da Alfa Romeo com uma troca de pneus enquanto esperava porque o jogo inicial estava sem pressão. Hamilton ainda tentou depois na reta aproveitar para se mostrar a Verstappen mas tudo ficou na mesma no recomeço, onde a surpresa acabou por ser a incapacidade de Bottas passar Leclerc para aproveitar o ritmo que levava.

Era na parte estratégica que se iria decidir tudo e em cinco voltas aquilo que parecia ser uma vantagem para Hamilton tornou-se um reforço do avanço de Verstappen: o holandês teve uma paragem um pouco mais longa do que previsto devido a um problema no pneu esquerdo traseiro, saiu atrás de Ricciardo e Pérez, o britânico avisou a equipa que estava confortável com aqueles pneus mas perdeu algum tempo enquanto dobrava Nikita Mazepin e teve mesmo de passar pelas boxes para evitar criar um maior fosso para a primeira posição – sendo que a melhoria imediata de Bottas mostrava também que parar mais cedo poderia ter sido melhor solução. Mas foi sol de pouca dura: nas cinco voltas seguintes, a diferença de 5,5 segundos passou a menos de um segundo, reabrindo por completo a corrida com sucessivas aproximações que visavam a passagem na reta da meta.

Hamilton não estava a conseguir colocar-se em posição de ultrapassagem e surpreendeu com uma paragem mais cedo do que se pensava para trocar de pneus, sendo que desta vez foi a Red Bull que demorou a reagir a essa manobra e a diferença dos dois Mercedes para Verstappen era cada vez menor, abrindo as portas a mais uma vitória do britânico em Espanha, a quinta consecutiva, que ficou selada a sete voltas do final, com uma grande ultrapassagem na curva 1 por fora, com uma trajetória distinta daquela que tinha valido ao holandês a subida à liderança no arranque da corrida, que colocou Max Verstappen a pensar mais na volta mais rápida do que na tentativa de reagir à perda do primeiro lugar para mais um pódio dos três do costume que permitiu neste caso a Bottas subir ao terceiro lugar do Mundial, superando Lando Norris da McLaren.