Podia ser melhor, podia ser pior, mas esta seria sempre uma corrida diferente para Miguel Oliveira. Não por ser na Alemanha, não por chegar numa sequência de dois pódios, mas pela análise que fez após a qualificação.

Miguel Oliveira faz segunda melhor qualificação do ano e sai do sexto lugar para o Grande Prémio da Alemanha

“Não fiquei contente com o sexto lugar, acredito que podia ter feito muito melhor. O objetivo era a primeira linha da grelha mas fomos todos afetados com as bandeiras amarelas a duas voltas do final. Fiquei desapontado porque circunstâncias que estão fora do controlo afetaram. Preferia sair da primeira linha mas, não sendo possível, fazemos o trabalho saindo da segunda”, comentou este sábado o piloto português.

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“As últimas dez voltas serão cruciais porque vai haver muito desgaste do pneu traseiro. Espero posicionar-me bem nas primeiras 15 voltas. O ideal seria sair da frente mas assim tenho de improvisar um pouco e manter-me fora das lutas que me poderão fazer desgastar o pneu e esperar pelo melhor”, acrescentou, lançando as linhas do que seria a melhor estratégia para um Grande Prémio da Alemanha que se previa muito disputado perante os tempos muito próximos registados não só na qualificação mas também nas três sessões de treinos livres.

Miguel Oliveira não costuma lamentar como fez desta vez os resultados da qualificação. Em Mugello, no Grande Prémio de Itália, acabou em sétimo, preparou a saída com uma trajetória que lhe valeu o terceiro lugar no final da primeira volta e segurou o pódio com a segunda posição. Na Catalunha, ficou na segunda linha da grelha mas leu da melhor forma a saída, colocou-se entre os primeiros e foi esse salto para o segundo posto que valeria mais tarde a primeira vitória do ano. Por alguma razão o português é conhecido como o Einstein do paddock: pode não ter a melhor moto, pode não ter a equipa mais forte mas lê na perfeição tudo o que envolve uma corrida. Era nisso também que apostava a partir do arranque ou nas voltas iniciais perante a leitura que fizera da prova.

Zarco tinha conseguido o melhor tempo, impedindo a sexta pole position consecutiva de Fabio Quartararo que parecia ser de novo o cenário mais certo, a Aprilia de Aleix Espargaró foi a grande surpresa à frente de Jack Miller e Marc Márquez, Miguel Oliveira apareceu em sexto a 0,353 do melhor registo já depois de ser o mais rápido nos primeiros treinos livres e de ter saltado para a Q2 na quarta posição. As diferenças de tempos e as várias marcas próximas entre os primeiros (Ducati, Yamaha, Aprilia, Honda e KTM, cinco nos seis primeiros) mostravam como seria uma das corridas com todas as condições para ser das mais imprevisíveis do ano.

Miguel Oliveira voltou a ter um arranque canhão, melhor do que os restantes, mas acabou depois por não arriscar tanto na primeira curva, a uma distância mais curta em relação à grelha de partida das últimas provas, preferindo evitar toques ou quedas que lhe condicionassem por completo a carreira e preservando o sexto posto apesar de uma ultrapassagem durante duas curvas de Jorge Martín. Lá na frente, Marc Márquez arriscou tudo para se chegar à frente, colocou-se na roda de Aleix Espargaró e não demorou a saltar para a liderança da corrida, confirmando aquilo que Oliveira tinha dito na sexta-feira quando colocou o espanhol como candidato. Em paralelo, também Brad Binder teve um grande arranque, saltando para a oitava posição e superando pouco depois Jorge Martin, ficando logo atrás do companheiro da KTM no sétimo lugar com três voltas realizadas.

A corrida entrava numa fase de maior estabilidade entre os lugares cimeiros, com Miguel Oliveira a ser o único capaz de ganhar mais uma posição quando ultrapassou Fabio Quartararo e saltou para quinto, atrás de Jack Miller com Marc Márquez, Aleix Espargaró e Johann Zarco em lugares de pódio numa fase onde se registaram as primeiras quedas de Álex Márquez, Danilo Petrucci e Lorenzo Savadori. Mais uma vez, também aqui, o piloto português da KTM foi genial na forma como pensou o caminho para chegar aos lugares da frente e a estratégia tornou-se bem visível nessa fase: colar em Jack Miller e fazer a partir daí a corrida até começar a descolar.

Fazendo as melhores voltas em corrida, Miguel Oliveira começou por superar Zarco, que já estava em quarto, não demorou a atacar Aleix Espargaró (que mais uma vez pareceu começar a andar para trás), encostou em Miller na luta pelo segundo posto enquanto começava a cavar um fosso para os restantes pilotos atrás até ver o melhor momento para descolar do australiano da Ducati, saltar para o segundo posto e começar a 18 voltas do final a perseguição a Marc Márquez que entretanto já estava com quase dois segundos de avanço na frente. E foi nesta fase em que o Falcão voltou a abrir asas que vinham à cabeça as palavras do português, que se queria posicionar bem nas 15 primeiras voltas sabendo que as últimas dez eram cruciais – já ia em segundo.

As contas eram fáceis: Miguel Oliveira perdia para Marc Márquez no primeiro setor, amenizava esse calcanhar de Aquiles no segundo setor, ganhava tempo daí para a frente em todas as voltas. Era um duelo a dois que ia começando a prometer ser a três, com Fabio Quartararo a superar Johann Zarco, Aleix Espargaró e Jack Miller para ter caminho livre para tentar reduzir a diferença para o português enquanto começavam a cair pingas no circuito germânico de forma mais visível. Cedo se percebeu que não daria. E Miguel Oliveira ia ao ataque do dono e senhor do Grande Prémio da Alemanha: de 2010 para cá, ganhou uma vez em 125cc, duas em Moto2 e sete no MotoGP, sendo que em 2020 não houve devido à pandemia. A cinco voltas do final, com um erro do espanhol pelo meio, a diferença já estava abaixo de um segundo mas não daria para muito mais.

Os tempos das voltas seguintes mostraram que Marc Márquez tinha conseguido aproveitar o provável desgaste do pneu traseiro de Miguel Oliveira para ganhar uma folga suficiente para controlar a vitória na casa de 1,6 segundos, com o português a gerir o segundo lugar e Fabio Quartararo a fechar o pódio com uma grande corrida também de Brad Binder, que acabou na quarta posição.

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