“Alguém me perguntava hoje se isto era um exercício de oposição do CDS. Não, nós queremos é melhorar a oposição”. A frase é de Telmo Correia, uma espécie de declaração de intenções feita no arranque das jornadas parlamentares do partido, esta segunda-feira, em São João da Madeira. E foi o mote para o que se seguiu: uma dose de oposição à moda de Telmo Correia, com foco nas questões de segurança interna, desafios dirigidos ao Governo e a Marcelo… e sugestões de crítica interna, mesmo que mais subtis.

Se alguém perguntou ao líder parlamentar se a intenção destas jornadas era fazer um exercício de crítica interna, não é difícil perceber porquê: a bancada reduzida, que não apoiou Francisco Rodrigues dos Santos, reúne-se esta noite com Nuno Melo — que continua a ser apontado como uma opção para uma liderança futura — num jantar em que se falará sobre os “desafios de fazer oposição”.

Mais: no arranque dos trabalhos, Telmo Correia fez questão de lembrar a forma como João Almeida, que foi o rival de Francisco Rodrigues dos Santos no último congresso — e é agora candidato em São João da Madeira, no distrito de Aveiro — sugeriu que se organizassem as jornadas na sua “terra”, aproveitando para apoiar “uma das candidaturas de referência do CDS” nestas autárquicas. Ainda nem tinham acabado os cumprimentos quando Telmo decidiu agradecer a presença de João Gonçalves Pereira — que era deputado e saiu do Parlamento em rutura com o presidente do partido.

Com um recado por entre os elogios ao ex-deputado e vereador, que no entender de Telmo Correia deveria voltar a ser candidato por Lisboa: “É tempo de cada um dizer o que pensa, sem receios nem melindres”.

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Feita esta espécie de declaração de interesses, o líder parlamentar passou ao tal exercício de melhoria da oposição — e foi então, com um painel “de peso” em termos de representação da polícia e forças de segurança, que se dedicou ao combate externo. Primeiro, defendendo o trabalho que o grupo parlamentar tem desenvolvido na oposição: “Questionando” as medidas do Governo sem alinhar em “negacionismos”, desmontando a “propaganda” do PS, a “gestão completamente iô-iô da pandemia”, mas também com as prestações de Cecília Meireles nas comissões de inquérito.

Mas o tema que entusiasmou mais o CDS foi mesmo a extinção do SEF, um “atentado à segurança nacional” que foi tratada no Parlamento “de uma forma que não é normal”. Motivo para atirar a Eduardo Cabrita: “O único argumento que encontro (para essa alteração) é tentar salvar uma cabeça que não tem salvação, a do ministro da Administração Interna. Já não risca”, garantiu Telmo Correia.

E foi mais longe: se o maior problema é a “relação do PS com o poder”, preocupante é também a relação “Dupond e Dupont” entre São Bento e Belém. Ali ficou um desafio para Marcelo Rebelo de Sousa, com a convicção de que a extinção do SEF “não é uma discussão acabada”: “Pergunto se haverá pronúncia do Presidente da República, sobre esta matéria, porque acho que devia haver”, sentenciou o democrata-cristão.

Por entre críticas aos planos de execução do Plano de Recuperação e Resiliência — “talvez valha a pena encontrar um almirante à altura da situação” — e promessas de que o CDS apresentará um projeto próprio de revisão constitucional, o tema da segurança interna dominou a abertura, até por causa do painel que acompanhava o líder parlamentar (e que foi moderado pelo seu antecessor, Nuno Magalhães).

Entre os vários representantes dos sindicatos da polícia, Acácio Pereira, presidente do sindicato Carreira de Investigação e Fiscalização SEF, foi o que reuniu as maiores críticas ao Governo: garantindo que o diploma que extingue o SEF “não está fechado”, inclui “violações grosseiras ao Estado de Direito” e trata “matérias de soberania como um assunto de empregadas de limpeza”, queixou-se de não ter sido ouvido pelo Governo e desafiou o Executivo a “mostrar as atas de negociação com os sindicatos”.

O tom continuou a subir: “Esta lei pretende salvar a cabeça do MAI, que está enfraquecido mas dá jeito porque enquanto se bate neste ministro não se bate no chefe do Governo”, o Governo quer colocar “boys” nas polícias”, entre PS e Bloco de Esquerda houve um acordo para deixar passar a extinção do SEF (“Mas não sei qual deles foi a rameira”). Por entre a chuva de críticas, ficou a inspiração para a aula sobre oposição prometida por Nuno Melo, esta noite.