O primeiro-ministro designado no Líbano, Saad Hariri, anunciou esta quinta-feira, que desiste de formar governo quase nove meses depois de ter sido nomeado e quando o país enfrenta a pior crise socioeconómica da sua história.

Hariri foi designado primeiro-ministro em outubro de 2020 e devia formar um executivo para lançar reformas indispensáveis ao desbloqueamento nomeadamente da crucial ajuda internacional.

Esta quinta-feira, disse à imprensa ter-se encontrado com o Presidente Michel Aoun que pediu alterações à lista do governo, mudanças a que se opunha. “É claro que a posição (de Michel Aoun) não mudou sobre o assunto e que não seremos capazes de concordar”, indicou.

“Propus-lhe mais tempo para pensar e ele disse: ‘Não poderemos chegar a acordo’. Por isso desculpei-me por não poder formar o governo, que Deus ajude o país”, acrescentou. Hariri e Aoun já tinham mostrado as suas discordâncias nos últimos meses.

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O primeiro critica o segundo por dificultar a formação do executivo insistindo numa “minoria de bloqueio” dentro da equipa ministerial e procurando impor uma distribuição “confessional e partidária” das pastas, enquanto o chefe de governo designado defendia uma administração de tecnocratas, exigida internacionalmente.

A Presidência negou qualquer sugestão de “minoria de bloqueio” e expressou “espanto” com as “declarações” de Hariri.

Saad Hariri, 51 anos, demitiu-se da chefia do governo em outubro de 2019 sob pressão dos inéditos protestos populares que exigiram reformas e a mudança da classe política.

Um ano depois voltou a ser designado para o cargo pelo parlamento, já depois da devastadora explosão no porto de Beirute, que causou mais de 200 mortos, milhares de feridos e destruiu parte da capital do Líbano. A investigação sobre os responsáveis pelo desastre continua.

A decisão comunicada por Hariri provavelmente acentuará o caos e a incerteza no país, tendo a libra libanesa desvalorizado um pouco mais imediatamente.

A economia do Líbano contraiu mais de 20% em 2020 e 55% da população do país vive abaixo da linha da pobreza, segundo a agência norte-americana Associated Press.