Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) defenderam esta segunda-feira a necessidade das unidades de saúde e outros serviços de atendimento urgente acelerarem a notificação das reações adversas às vacinas contra a Covid-19.

Em declarações à agência Lusa, Jorge Polónia, coautor do estudo publicado no International Journal of Clinical Pharmacy e coordenador da Unidade de Farmacovigilância do Porto (UFPorto), afirmou esta segunda-feira ser “urgente acelerar a notificação das reações adversas às vacinas contra a Covid-19“.

Para termos segurança nas vacinas, temos de ter informação. Sabemos que as vacinas são seguras na grande maioria das pessoas, só que há muitos milhões de pessoas a serem vacinadas. Em Portugal, tivemos quase 8.500 reações adversas, isso indica uma taxa de incidência na ordem de um para mil”, afirmou.

Durante o primeiro semestre deste ano, a UFPorto recebeu 2.248 notificações espontâneas de suspeitas de reações adversas, sendo que, dessas, 2.121 foram relativas às vacinas contra a Covid-19.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Em função do grande número de expostos a este medicamento [vacina], num curto espaço de tempo, temos uma quantidade de notificações que obviamente não estávamos preparados”, disse, lembrando, no entanto, que as reações adversas são “uma exceção à regra”.

“Estamos a falar de uma exceção à regra”, salientou, acrescentando que as reações adversas se enquadram no perfil “comum de qualquer vacina”, ao serem reações no local da injeção ou reações sistémicas como febre, dor de cabeça ou dor muscular.

No estudo, os investigadores da FMUP e do CINTESIS — Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde alertam que a vigilância das reações adversas aos medicamentos deve ser “mais ativa” e a informação deve ser prestada “em tempo real” para suportar as decisões das autoridades de saúde.

Segundo Jorge Polónia, atualmente existem “dois problemas“: a “chegada do sinal [informação]” e o “processamento do sinal”, para os quais é fundamental a disponibilidade de “recursos humanos”.

“Precisamos de agilizar o processo da chegada do sinal, por isso é que sugerimos mudar o paradigma que tem sido o clássico de serem os profissionais de saúde a notificarem quando têm tempo”, salientou o coordenador da UFPorto, acrescentando que o Infarmed está “sensível a esta questão”. “Houve um reforço da disponibilidade monetária em relação às unidades, embora seja insuficiente para que possamos responder”, disse.

Uma das propostas dos investigadores é que sejam “designadas pessoas” para notificarem rapidamente as reações adversas, nomeadamente, “nas urgências, farmácias hospitalares e centros de vacinação” e de grupos particularmente suscetíveis como as crianças, grávidas, adolescentes e idosos. “São precisos recursos a dois níveis, a montante da unidade e na unidade”, defendeu.

Os investigadores recomendam por isso a implementação de programas de farmacovigilância ativa, intensificação da monitorização das populações mais vulneráveis, a realização de campanhas de sensibilização e um aprofundamento da comunicação com profissionais de saúde, doentes e instituições.

“Além das reações adversas, há questões que não sabemos e que o sistema de farmacovigilância pode proporcionar e permitir saber”, disse Jorge Polónia. E acrescentou, “o problema não terminou aqui, provavelmente vamos ter no futuro necessidade de revacinar a maioria das pessoas e, se tivermos o mecanismo estruturado, ele pode ser útil hoje e no futuro”.

Além de Jorge Polónia, o estudo, que tem como primeiro autor Renato Ferreira da Silva, contou com a coautoria de Inês Ribeiro Vaz e Manuela Morato.