O Novo Banco fechou o primeiro semestre com resultados positivos de 137,7 milhões de euros, o que contrasta com prejuízos de 555 milhões de euros em igual período do ano passado. A instituição prossegue assim a trajetória de recuperação e regresso aos lucros já iniciada no primeiro trimestre quando os resultados tinham sido positivos em 37 milhões de euros.

O Novo Banco destaca o crescimento da margem financeira de 13% que levou a uma melhoria do produto bancário. O resultado operacional do banco cresceu 27,5% para 220,7 milhões de euros. Os resultados em operação financeiras foram positivos em 93,3 milhões de euros.

No mesmo período, as imparidades de crédito ascenderam a 84,7 milhões de euros, dos quais menos de metade — 35 milhões de euros — se destinam a fazer face a riscos associados à pandemia. Este valor representa uma redução de 254 milhões de euros face ao primeiro semestre do ano passado. O crédito abrangido pelas moratórias era de 5,6 mil milhões de euros até junho, o que representava 22% da carteira total, envolvendo 20 mil clientes. Mais de 70% deste valor equivalia a contratos com empresas.

Em comunicado, o banco diz que este “desempenho demonstra a capacidade do negócio em gerar capital” e sublinha o melhor resultado semestral desde a constituição do Novo Banco que vai fazer sete anos esta semana. Até ao final de 2020, o banco teve sempre prejuízos que traduziam a má qualidade dos ativos que vieram do Banco Espírito Santo. Os resultados de junho apontam nova redução no rácio de crédito não produtivo (NPL) para 7,3%.  No semestre em causa, o Novo Banco vendeu uma carteira de 210 milhões de euros, mas segundo foi comunicado estes ativos não estavam abrangidos pelo acordo de cobertura de perdas.

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A venda de carteiras deste tipo de crédito foi o principal instrumento usado pelo banco para limpar o balanço, levando por vezes a reconhecer perdas.

Para compensar essas perdas, a venda feita em 2017 contou com um mecanismo de capital contingente ao abrigo do qual o banco pediu fundos públicos. Este processo de reestruturação e limpeza do balanço tinha sido dado como praticamente concluído pelo presidente do banco, António Ramalho, quando apresentou as contas de 2020. Apesar do banco não sinalizar nestas contas a necessidade de receber mais capital para cobrir as perdas protegidas pelo mecanismo de capitalização, é assinalada a existência de divergências de 277 milhões de euros relativas à última injeção realizada pelo Fundo de Resolução.

O Novo Banco pediu este ano mais 598 milhões de euros depois de ter apresentado um prejuízo de 1.329 milhões de euros, mas acabou por receber em junho 317 milhões de euros, apesar da autorização inicial dada pelo Governo para uma injeção de 430 milhões de euros. Dessa fatia tinham sido retiradas, por ordem do Fundo de Resolução, uma parcela de 147 milhões de euros relativa ao impacto no capital das provisões antecipadas para a venda da filia em Espanha, concretizada já este ano e outra de 18 milhões de euros sobre a reavaliação dos fundos de reestruturação feita pelo banco em 2020.

Em relação aos 112 milhões de euros retidos por ordem do Ministério das Finanças, o banco está a “despoletar os mecanismos legais e contratuais à sua disposição no sentido de assegurar o recebimento dos mesmos”. Em paralelo o banco mantém em arbitragem divergências com o Fundo de Resolução que podem vir a aumentar os pagamentos ao Novo Banco.

A história recente do Novo Banco e, em particular, as circunstâncias que levaram à criação do mecanismo de capital contingente, financiado com dinheiro público, e a forma como a gestão do banco foi gerindo perdas e chamadas de capital, foram temas centrais na comissão parlamentar de inquérito ao Novo Banco cujas conclusões foram aprovadas na semana passada.