As forças talibãs estão cada vez mais próximas da capital do Afeganistão, Cabul. Depois de terem conquistado esta sexta-feira duas capitais de província e de terem obtido o controlo de Kandahar, a segunda maior cidade do país, localizada também na região sul, e Herat, a terceira maior, na zona oeste, nos dias anteriores, chegaram durante a tarde aos arredores de Cabul.

Segundo indicou um conselheiro provincial à AFP, os talibãs conquistaram Pul-e-Alam, capital da província de Logar, a apenas 50 quilómetros a sul da capital. “Os talibãs controlam todas as instalações governamentais em Pul-e-Alam. (…) Têm 100% de controlo. Não há mais combates”, declarou o conselheiro Saeed Qaribullah Sadat à agência de notícias francesa.

Talibãs conquistam mais quatro capitais provinciais

Pul-e-Alam é a terceira capital provincial a ser assegurada pelas forças rebeldes esta sexta-feira, depois de Lashkar Gah, na província de Helmand, Kandahar, na província com o mesmo nome, Chaghcharan, em Ghor, e Tirin Kot, em Uruzgan.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A conquista de Lashkar Gah permitiu ao grupo cimentar a sua posição no sul do país, onde Kandahar e Tirin Kot ficam também localizadas. Segundo adiantou uma fonte oficial à AFP, em Lashkar Gah , foi permitido que o exército e os funcionários políticos e administrativos abandonassem a cidade após ter sido acordado um cessar-fogo de 48 horas. Os oficiais foram deslocados para Camp Shorabak, uma antiga base aérea britânica, refere a Sky News.

Forças talibãs cercam maior cidade no norte do Afeganistão

Em oito dias, as forças talibãs capturaram quase metade das capitais de província afegãs e controlam atualmente a maior parte do norte, oeste e sul do país. A ofensiva foi lançada em maio, aproveitando a retirada final das tropas norte-americanas e estrangeiras, que deverá estar concluída até 31 de agosto.

Os talibãs começaram por tomar conta de áreas ruais, onde não encontraram muita resistência, mas a conquista progrediu a bom ritmo nos últimos dias, com vários centros urbanos a caírem nas mãos dos rebeldes e com o cerco a fechar-se em torno de Cabul. Ghazni, cidade localizada apenas a 150 quilómetros da capital afegã, foi conquistada também esta quinta-feira, confirmou o o chefe do conselho provincial. Algumas previsões defendem que Cabul pode cair nas mãos dos terroristas nos próximos 90 dias.

Cabul, Mazar-i-Sharif, a grande cidade do norte, e Jalalabad, no leste do país, são as três grandes cidades ainda controladas pelo governo afegão.

Talibãs conquistam décima capital provincial do Afeganistão, a 150 quilómetros de Cabul

Ofensiva já fez 3,3 milhões de deslocados. ONU estima que país pode registar pior número anual de vítimas civis num conflito armado

A ofensiva levada a cabo pelos talibãs causou até ao momento 3,3 milhões de deslocados no país. Desde maio, foram contabilizados 250 mil deslocados, dos quais 80% são mulheres e crianças, avançou esta sexta-feira a porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Shabia Mantoo, em conferência de imprensa. A este número, somam-se mais 150 mil que tiveram que deixar as suas casas entre janeiro e maio, referiu.

“O número de vítimas nas hostilidades é enorme”, afirmou Mantoo, que advertiu que o Afeganistão “está a caminho de sofrer o pior número anual de mortes de civis em conflito de que a ONU tem registo”.

Mantoo explicou que a maioria dos deslocados pelo conflito evitou deixar o Afeganistão e quis “ficar o mais perto possível das suas casas”, embora cerca de 120 mil tenham fugido de áreas rurais e províncias para procurar refúgio em Cabul e arredores. Apesar desse padrão de movimentos, o ACNUR pediu aos países vizinhos que mantenham as suas fronteiras abertas a possíveis refugiados.

A porta-voz lembrou que a ONU “pede um cessar-fogo permanente e uma solução negociada para o bem do povo afegão”.

EUA e Reino Unido vão enviar tropas para retirar oficiais

Estados Unidos da América e Reino Unido anunciaram que vão enviar contingentes militares para ajudar na retirada de oficiais das embaixadas em Cabul, ainda sob controlo governamental.

O Pentágono e o Departamento de Estado revelaram que serão deslocados cerca de três mil soldados nas próximas 48 horas para ajudar a retirar os seus funcionários, frisando que não se trata de uma evacuação ou de uma rendição. “A embaixada permanece aberta. Isto não é um abandono. Isto não é uma evacuação. Isto não é uma rendição”, declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, segundo o The Washington Post. Os soldados serão colocados no aeroporto internacional de Cabul, para facilitar a saída dos oficiais e para acelerar a partida dos afegãos que ajudaram os Estados Unidos nos seus esforços militares.

Afeganistão: Londres vai enviar 600 soldados para ajudar na retirada britânica

Esta quinta-feira, o ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, adiantou que o Reino Unido irá enviar 600 soldados, que irão permanecer no país temporariamente. Em entrevista à Sky News, esta sexta-feira, o ministro adiantou que as tropas deverão chegar até ao final da semana para ajudar a retirar até três mil britânicos, que incluem funcionários da embaixada em Cabul e quaisquer outros cidadãos britânicos que desejem regressar ao Reino Unido.

Também o Canadá se prepara para enviar um contingente militar, noticiou a Associated Press, com base numa fonte próxima que não adiantou o número de tropas que serão deslocadas para Cabul.

Afeganistão: Boris Johnson promete “não virar costas” ao país

ONU e NATO querem diálogo e avisam para perigos de guerra civil

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg advertiu esta sexta-feira os talibãs de que a comunidade internacional não os reconhecerá como governantes legítimos e apoiará o Governo afegão “tanto quanto possível”.

A NATO apoiará o Governo afegão “tanto quanto possível” e “adaptará” a sua presença diplomática, anunciou o secretário-geral, no final de uma reunião da organização em Bruxelas, após a decisão de Washington e Londres de retirar do Afeganistão.

NATO afirma que apoiará “tanto quanto possível” o Governo afegão

Por outro lado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para a possibilidade de a tomada de poder pelos talibãs poder desencadear uma guerra civil — e pediu para que cessem as hostilidades.

“A mensagem da comunidade internacional para aqueles que estão em guerra deve ser clara: tomar o poder pela força militar é uma causa perdida. Isso só pode levar a uma guerra civil prolongada ou ao isolamento completo do Afeganistão”, salientou António Guterres, em declarações aos jornalistas.

Secretário-geral da ONU apela a diálogo entre talibãs e Governo do Afeganistão

“Provavelmente a Al-Qaeda vai voltar”. Ministro da Defesa britânico diz que decisão dos EUA de retirar tropas do Afeganistão “causou muitos problemas”

Questionado sobre a situação que se vive no Afeganistão, Wallace mostrou-se na mesma entrevista à Sky News “preocupado” com o que poderá acontecer com a saída das tropas norte-americanas e britânicas do país até ao final de agosto. “Estrategicamente, a decisão dos Estados Unidos causou muitos problemas”, admitiu o ministro da Defesa britânico, que sempre se mostrou publicamente contra a decisão dos norte-americanos, que implicou também a saída dos soldados britânicos.

“[A saída] deixa um grande, grande problema. Foi por isso que disse que este não é o tempo nem a altura certa, porque provavelmente a Al-Qaeda vai voltar”, declarou. “Estados falhados levam à instabilidade e à insegurança, uma ameaça para nos e para nos nossos interesses. Por isso é que o Ocidente tem de aprender que os problemas não se resolvem, gerem-se. Não existe uma coisa chamada solução imediata”, considerou ainda.

Austrália acelera retirada de últimos diplomatas e afegãos que colaboraram com forças australianas

A Austrália está a trabalhar com os Estados Unidos da América para acelerar a retirada dos últimos diplomatas e afegãos que colaboraram com as forças australianas, anunciou o primeiro-ministro Scott Morrison esta sexta-feira, refere a Associated Press.

De acordo com Morrison, desde abril que a Austrália têm estado a deslocar afegãos que colaboraram com as forças australianas no país e que, devido aos avanços dos talibãs, correm risco de vida. Até ao momento, foram transportados para a Austrália 400 cidadãos afegãos e suas famílias, ao abrigo de um programa secreto. O primeiro-ministro não adiantou quantos mais deslocados.

A embaixada australiana em Cabul foi encerrada em maio e as últimas tropas no Afeganistão regressaram a casa em junho.

Conselho de Segurança da ONU discute condenação das forças talibãs

O Conselho de Segurança das Nações Unidas está a trabalhar num comunicado que condenará os recentes ataques, que colocam em risco a paz e estabilidade do Afeganistão. O rascunho do documento, elaborado pela Estónia e Noruega, foi aprovado pelos 15 membros do conselho, refere a Reuters, que teve acesso ao documento.

De acordo com a agência de notícias, o texto declara que as Nações Unidas “não apoiam e não irão apoiar o estabelecimento de qualquer governo no Afeganistão que seja imposto através da força militar ou a restauração do Emirado Islâmico do Afeganistão”, o antigo estado totalitário imposto pelos talibãs no início dos anos 90 até 2001, quando foram atacados por uma coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, que procuravam capturar Osama bin Laden depois dos atentados do 11 de Setembro.

“O Estado Islâmico do Afeganistão não é reconhecido pelas Nações Unidas”, garante o organismo.”O Conselho de Segurança condena nos termos mais fortes possíveis os ataques armados pelas forças talibãs nas cidades e localidades afegãs, que resultaram num número elevado de mortes”, refere ainda o documento.

Avanço dos talibãs era previsível, diz ex-porta-voz da ISAF

O major-general Carlos Branco, ex-porta-voz da ISAF no Afeganistão, disse  à Lusa que o avanço das forças talibãs em vários pontos do país já era previsível em virtude da retirada negociada dos militares norte-americanos.

“O que está a acontecer agora é um avanço militar dos talibãs que era previsível. Aliás, altas entidades militares dos Estados Unidos já tinham manifestado em diversas ocasiões que as forças de segurança afegãs não estavam em condições para confrontar de forma vitoriosa os talibãs”, disse à Lusa o major-general Carlos Branco, sublinhando que a retirada devia ter ocorrido após a primeira década do conflito.

“Tudo o que está a acontecer agora, do meu ponto de vista, não é novidade. Mas, se tudo isto poderia ter sido evitado? Claro que podia se os norte-americanos, na devida altura se tivessem empenhado em promover um diálogo intra-afegão e isso não aconteceu nem foi estimulado porque os norte-americanos estavam convencidos que iriam conseguir sempre uma vitória militar”, afirmou.

Na análise do ex-porta-voz da International Security Assistance Force (ISAF) a retirada dos Estados Unidos não é desorganizada e foi planeada com antecedência apesar de se terem verificado momentos de descoordenação, nomeadamente a saída de Baghran, que foi coordenada pelas forças afegãs.

Por outro lado, frisa, os acordos para a retirada dos Estados Unidos foram assinados em fevereiro de 2020 e que, por isso, houve muito tempo para fazer o planeamento sendo que toda a operação decorreu segundo um plano previamente estabelecido.

Tratou-se, desta forma de uma retirada das forças norte-americanas e de outros contingentes, nomeadamente, a retirada do contingente inglês que fez a passagem de testemunho com bastante antecedência.

Mesmo assim, o major-general Carlos Branco refere que os Estados Unidos “jogaram sempre de forma errada” porque pretendiam uma solução militar e não uma solução política e sobre esta questão levanta dois aspetos.

“Uma é a solução política entre os Estados Unidos e os talibãs que foi o que aconteceu e o que no fundo o que Washington fez foi negociar os termos de uma saída, com uma série de condições, sobretudo no que diz respeito ao comportamento dos talibãs como o de não aceitar a entrada de elementos da Al-Qaida ou de qualquer outra organização terrorista. Outra coisa foi a solução política entre os afegãos e isto foi difícil”, explica.

Do ponto de vista mundial, indica que “há coisas muito mais perigosas atualmente em termos de segurança global” do que o Afeganistão mas sublinha que do ponto de vista geoestratégico é uma derrota para os Estados Unidos porque os norte-americanos pretendiam levar a cabo um plano de hegemonia global.

O Afeganistão é uma porta de entrada na Ásia Central e é uma fonte inesgotável de recursos minerais: petróleo e gás natural cujos oleodutos e gasodutos são controlados na maioria dos casos pela Federação Russa.

O Afeganistão – se existissem condições securitárias – seria uma possibilidade capaz de canalizar o gás e o petróleo através do Paquistão para portos no Índico e deste ponto de vista, nota, sublinhando que “é uma derrota para os Estados Unidos” porque Washington acaba por perder influência política, económica, militar e cultural na Ásia Central.

“Isto não se concretizou, sobretudo do ponto de vista militar em que as bases que tinham no Tajiquistão, Uzbequistão, Quirguistão, nesta altura não as têm. A Federação Russa e a República Popular da China que viram sempre com muita apreensão a presença norte-americana naquela zona conseguiram exercer uma diplomacia de persuasão para que as ex-repúblicas soviéticas na Ásia Central não alinhassem com os Estados Unidos”, recorda.

Retirada do Afeganistão é como a “queda” do Vietname

O veterano norte-americano Roy Hibetts, da 82.ª Divisão Aerotransportada dos Estados Unidos – que cumpriu várias missões no Afeganistão – disse esta sexta-feira à Lusa que se sente “como os soldados que combateram no Vietname”, perante a retirada em curso.

“Tenho sentimentos múltiplos em relação ao que está a acontecer atualmente no Afeganistão. Por um lado há um sentimento de derrota mas, por outro lado, todos sabíamos o que ia passar-se e, por isso, fico triste sobretudo pela perda de tempo. Honestamente, sinto-me hoje como a maior parte dos veteranos da Guerra do Vietname. Fizemos tanto para acabarmos neste ponto. Eu sou apenas um soldado mas percebem o que eu quero dizer?”, disse à Lusa Hibetts, que se reformou em 2019 com o posto de sargento.

A agência Lusa acompanhou em 2010 várias missões comandadas pelo sargento Roy Hibetts na região de Shewan, província de Farah, oeste do Afeganistão, perto da fronteira com o Irão, integrada no 73.º Regimento de Cavalaria da 82.ª Divisão Aerotransportada dos Estados Unidos.

“Depois dessa missão em Shewan fomos para outras províncias e depois para Kandahar. Cumpri mais duas missões e após dois anos tornei-me instrutor no Estado do Louisiana, aqui nos Estados Unidos. Depois reformei-me, em 2019. Tenho 49 anos”, explica o veterano que cumpriu missões militares em vários pontos da América do Sul, Coreia do Sul, Iraque e Afeganistão.

“Os meus camaradas também transmitem vários tipos de sentimentos sobre o que está a acontecer, uns dizem que fomos derrotados, outros que fomos lá e fizemos o nosso trabalho e depois viemos embora, ponto final. Eles que fiquem com o Afeganistão. Mesmo assim entre nós há um certo sentimento de tristeza sobre esta forma de retirada”, disse.

Para Hibetts, uma figura singular que em patrulhas por campos minados no Afeganistão contava que era “descendente de ‘cowboys’” e que tinha crescido em selas de cavalos no Arizona diz que a retirada das forças norte-americanas é uma “questão orçamental” que já devia ter sido ponderada.

“Nesta altura, o Exército do Afeganistão tenta sobreviver mas quanto à retirada dos Estados Unidos foi uma decisão política. Não me compete a mim responder pelas decisões dos generais do Pentágono sobre uma retirada tão rápida. Seja como for, isto ia acontecer mas creio que devia ter acontecido há dez anos. Enfim, aconteceu agora”, desabafa lamentando a falta de interesse dos civis sobre uma guerra que durou duas décadas.

“A maior parte das pessoas aqui nos Estados Unidos nem sequer pensam no Afeganistão, nem sequer sabem onde fica o país e isso deixa-me perplexo. Há muita ignorância no que diz respeito à retirada das forças norte-americanas”, critica o veterano norte-americano, que foi militar durante 20 anos.

Roy Hibetts explica ainda que acompanha as notícias diariamente sobre a retirada dos Estados Unidos e refere que “neste momento” as forças talibãs estão a cercar as cidades “que lhes são estrategicamente importantes” e que “de um momento para o outro” vão dominar o país.

“Só precisam de tempo. Aconteceu a mesma coisa nas guerras da Nicarágua ou em El Salvador. O mais duro para mim, além dos combates, é pensar nas pessoas que conheci no Afeganistão e que ficaram para trás e que não vão sobreviver ao avanço talibã”, diz ainda o veterano de guerras em vários palcos de guerra.

“Bem-vindo à terra da gente perdida. Este lugar parece que não mudou muito desde os tempos de Alexandre o Grande. Os muros são os mesmos e as casas também. Até as pessoas. Olha para este cavalheiro. Esta gente não mudou em milhares de anos”, dizia o sargento em maio de 2010, em passo de marcha, a meio de uma patrulha, enquanto passava por um homem que abria a porta da casa de terracota.

“Gosto de estar aqui. É longe de tudo”, dizia o sargento Hibbets, acrescentando que a papoila de ópio produzida em grandes quantidades na região de Shewan financiava o “inimigo” sendo, na altura, um dos problemas mais difíceis de resolver para as forças estrangeiras.

“A forma de esta gente ganhar dinheiro é através de tráfico da papoila de ópio e não se podem queimar as plantações e esperar que a população fique contente. Eles fazem isto há muito tempo mas eu sei que os talibãs usam a droga para financiarem a guerra”, dizia Hibbets durante as patrulhas sob um sol abrasador.

Hoje, sobre a produção do ópio, cujas plantações vigiou durante vários anos, Hibetts diz simplesmente que o dinheiro é “mais forte” do que muitas outras coisas.

“Quanto à produção de ópio os talibãs vão tentar controlar as plantações, isso é evidente. O dinheiro fala mais alto”, disse.

“Roy é o meu primeiro nome, como Roy Rodgers, o cowboy que cantava aos índios. Eu também canto aos meus inimigos”, disse uma vez o sargento com uma gargalhada, no fim de uma missão em que foram encontrados explosivos, munições e restos de minas terrestres de fabrico soviético: outro império que também passou pelo Afeganistão.

“Como civil já não sou um cowboy, deixei de montar a cavalo, só aos fins de semana. Estou a receber formação para ser piloto de aviões de carga. Ainda estou a treinar mas adoro”, diz Hibetts antes de mais um voo nos céus do Arizona, Estados Unidos.