A startup portuguesa Musiversal fechou uma ronda de financiamento “seed” (fase inicial de financiamento) de 1,36 milhões de euros. Ao Observador, André Miranda, fundador e presidente executivo da Musiversal, diz que a empresa é aquilo “que as pessoas desejavam que a Uber fosse” porque garante um pagamento mensal certo a todos os artistas que querem estar ligados à plataforma.

No fim do ano vamos ter mais de 100 músicos (…) É uma corrida e estamos em primeiro lugar agora”, diz André Miranda quanto à evolução da empresa.

A empresa gere uma plataforma online que disponibiliza acesso a artistas e produtores de estúdio para sessões de gravação de música. Agora, com o montante angariado, a promessa da Musiversal é cumprir aquilo que disse em junho: contratar 100 músicos até ao final do ano. Nesse mês, a plataforma anunciou que ia celebrar um contrato de prestação de serviços entre mil e dois euros brutos. O contrato era, no mínimo, de seis meses, e tem como objetivo cativar 100 artistas a juntarem-se a “part ou full-time” ao projeto.

Musiversal quer contratar 100 artistas por dois mil euros por mês para substituírem software de música

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Este objetivo está “quase 40%” completo, adianta André Miranda ao Observador. Além disso, “com o investimento captado, a plataforma portuguesa de produção musical pretende acelerar o seu crescimento, tendo o objetivo de quadruplicar o número de utilizadores“, refere a empresa em comunicado.

Os nossos utilizadores classificam as sessões com cinco estrelas em 98% das vezes que utilizaram a Musiversal, ou seja, sabemos que criámos uma subscrição que é um sucesso para os songwriters e produtores de música. Agora, a nossa missão é fazer com que mais songwriters experimentem o serviço”, diz André Miranda

Com esta ronda liderada pela Shilling, uma sociedade de capital de risco portuguesa, a Musiversal conta agora com um investimento total de 2,51 milhões de euros. À Shilling, juntaram-se os investidores iniciais: a LC Ventures, REDangels e Best Horizon. Além desta ronda, a Musiversal captou também um financiamento no valor de 310 mil euros junto do programa Portugal 2020, que tem o apoio do FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional).

Ricardo Jacinto, sócio na Shilling, sustenta as expectativas de André e refere que “a Musiversal está a entrar numa nova fase”. “Esta ronda vai consolidar o seu crescimento e permitir à startup aproveitar a enorme oportunidade que surgiu com a pandemia, no sentido de facilitar o acesso à criação e à produção musical”, diz o investidor.

Como é que funciona a Musiversal? “Em menos de 24 horas” há uma gravação disponível para download

Como explica a empresa, “entre o músico de estúdio inscrito na Musiversal e o autor que pretende utilizar a plataforma para gravar ou produzir as suas músicas, existe uma colaboração em livestream, da qual em menos de 24 horas resulta uma gravação disponível para download”. Para usufruir deste serviço o utilizador paga um plano de subscrição à empresa e, depois, pode usar a plataforma.

Os músicos e produtores que participam nas sessões fazem parte do marketplace da plataforma, que dispõe dos melhores profissionais de música espalhados por diferentes países, desde Portugal aos EUA”, adianta a Musiversal em comunicado.

Segundo a startup, há “dois fatores fundamentais que diferenciam a plataforma portuguesa de outras empresas concorrentes”. Primeiro, “o modelo de negócio”. “É completamente novo”, explica André Miranda. Segundo, e apesar de terem concorrentes como a SoundBetter, a Musiversal afirma que tem preços “10 vezes mais baratos”. Porquê? Porque paga “um rendimento fixo aos músicos em vez de um rendimento altamente volátil”, refere o fundador.

O contrato de prestação de serviços permite ao músico ter “um trabalho de espécie das nove às cinco”, o que faz com que o valor cobrado por hora para este tipo de produto seja “muito mais baixo” — as subscrições começam nos 45 euros por mês. “Para o músico passa a ser relevante “um salário ao fim do mês”, e não um preço por hora de serviço que, por não ser certo, é cobrado com valor mais avultados, refere André.

[Abaixo, um vídeo que mostra como funciona o serviço da Musiversal]

“Sempre tive uma paixão pela música mas viver da música é difícil. É violento até.” Como André vendeu a casa para criar a Musiversal

Com os artistas contratados até agora, a Musiversal já tem “cerca de 60 pessoas”, mas tudo começou com um “site da Wix” (uma plataforma online que permite a qualquer pessoa criar uma página de internet básica) criado por André Miranda, conta. Porém, o fundador arriscou para chegar onde está. “Vendi a minha casa para ter o tempo suficiente para me dedicar à Musiversal”, revela o empreendedor que chegou a produzir música para filmes de Hollywood.

O caminho de André para demarcar-se no mundo da música tem sido trilhado desde cedo. Estudou violino no Conservatório Nacional de Música, fez um mestrado em Composição para filmes e negócios musicais (“Film Scoring & International Music Business”) e parte de um doutoramento, também em áreas musicais, na Universidade de Nova Iorque.

Enquanto era dourando, entre 2013 e 2015, continuava a sentir aquilo que muitos músicos sentem: “Sempre tive uma paixão pela música mas viver da música é difícil. É até violento.” Por isso, dedicou também parte desses últimos estudos a perceber como podia tornar esta paixão rentável.

Nos EUA, a sua carreira como músico fez com que chegasse a “estar envolvido num filme de Hollywood que teve como protagonista o ator Ben Stiller [“While We’re Young”]”, refere. Contudo, a vontade de criar algo que pudesse ajudar outros músicos levou-o a traçar o caminho para aquilo que a Musiversal é atualmente graças ao Musiversal Studio, o projeto da empresa que junta criadores a músicos e produtores profissionais.

Em 2015, André começa a criar aquilo que viria a ser a Musiversal. Na altura, sendo freelancer, fazia tudo sozinho, explica: “Antes da Musiversal fazia o design, fazia as sessões, comprava as sandes para a orquestra”. O objetivo era o mesmo: ajudar quem quer criar música a ter um produto final profissional. Até “tinha um site criado na Wix” com o qual conseguiu faturar “algumas centenas de milhares de euros”, refere. Depois, e graças a uma passagem pela incubadora Lisbon Challenge, em 2018 transformou este trabalho na startup que agora lidera.

O site deixou de estar alojado no Wix, contratou mais músicos — “havia apenas quatro”, no início, lembra — e, em 2020, foi criada a plataforma Musiversal Studios. Para ser mais competitiva no mercado, vende um serviço de subscrição de acesso a músicos que, afirma André Miranda, diferencia a plataforma de todas as outras existentes. Tudo pode ser feito à distância e pela internet, tanto quem para quer comprar os serviços, assim como para quem quer colaborar com a plataforma.