Oksana Masters é a “melhor atleta de que nunca ouviu falar”, como já foi apelidada. Esta terça-feira venceu a terceira medalha de ouro em Jogos Paralímpicos, na modalidade de ciclismo. É a nona medalha em toda a sua carreira, somando também, além destes três ouros, três medalhas de prata e três de bronze, num total de quatro modalidades. Há apenas 28 atletas que conseguiram medalhas nos Jogos Paralímpicos de verão e de inverno — Oksana Masters é um deles.
A atleta paralímpica de 32 anos alcançou todos estes feitos com a condicionante de usar duas próteses — nasceu sem as duas pernas e com as mãos com malformações devido ao desastre de Chernobyl. Como lembra o The Guardian, Masters, que nasceu em Khmelnytskyi, na Ucrânia, é uma das vítimas do maior desastre nuclear da história devido às radiações que atingiram a cidade.
Nasceu com apenas um rim, seis dedos em cada pé e, embora tivesse cinco dedos nas mãos, não tinha a parte superior do polegar. Além disso, a perna esquerda era 15 centímetros mais curta do que a direita e não tinha tíbia. Quando fez 9 anos, uma das pernas foi amputada acima do joelho. Cinco anos depois, teve de amputar a outra. São cicatrizes que ficaram para sempre, mas que não foram impedimento para Masters subir várias vezes ao pódio.
Em criança, Oksana Masters frequentou vários orfanatos até ter sido adotada pela norte-americana Gay Masters, tornando-se, assim, cidadã dos EUA. Só passado vários anos é que a atleta tornou público aquilo que viveu na Ucrânia: sofreu de abusos físicos, emocionais e sexuais. Foram “coisas horríveis” nos sete anos e meio que passou em orfanatos, revelou numa carta pública e num vídeo em 2020. Agora, graças ao desporto, afirma que é feliz.
Masters conta que a mãe a salvou e a permitiu viver num “paraíso”, cita o jornal A Marca. Porém, a transição não foi fácil. “No orfanato, dormir era associado a maus-tratos. É simples assim”, contou numa entrevista. “Curiosamente, no início, a [nova] cama era confortável demais para mim e tive que dormir no chão duro”, relata. O esforço de Gay levou a filha a querer superar-se e, aos 14 anos, começou a remar — modalidade que lhe daria a primeira medalha de ouro paralímpica.
A minha mãe abriu-me tantas portas na vida para que pudesse passar por elas e me apaixonar pelo mundo… É a razão de estar aqui e nunca poderei compensá-la por tudo fez por mim”, disse Oksana.
Masters tornou-se mestre em várias modalidades. Nos Jogos Paramlímpos de Londres 2012, venceu a primeira medalha em remo. Depois, mudou de modalidade e participou em esqui de fundo e biatlo nos Jogos Paralímpicos de Inverno de Sochi, em 2014, onde ganhou uma medalha de prata e outra bronze. Em 2016, no Rio de Janeiro, estreou-se sobre duas rodas. Não subiu ao pódio nesse ano, mas não desistiu.
Nos Jogos de Inverno de Pyeongchang em 2018 voltou a concorrer. Lesionou-se, mas, mesmo assim, ganhou um total de cinco medalhas em esqui de fundo e biatlo, duas delas de ouro. Agora, voltou a vencer na modalidade de ciclismo e já pensa nos Jogos Paramlímpicos de inverno de 2022 em Beijing.
“Lutei muito com minha autoconfiança era criança”
Em janeiro de 2020, numa entrevista à BBC, falou dos desafios que sempre teve de ultrapassar. “Lutei muito com minha autoconfiança era criança”, assume. “A sociedade colocou-me um rótulo, mesmo que não me veja como deficiente. Isso é algo que me colocaram”, afirma. Sobre ter posado seminua para uma revista da ESPN, defendeu a decisão: “Cada criança tinha uma foto de Michael Jordan na parede. Por que é que não pode ser normal ser uma fotografia de alguém que sofreu um acidente ou nasceu com deficiência?”
Acredito que é preciso ver para crer e quanto mais vezes você vir uma paralímpica, mais normal vai ser para a pessoa que não sabe o que é. É muito bom ver esse crescimento”, disse Oksana.
Em maio deste ano, em declarações à Sports Illustrated, Oksana explicou também porque é que pratica mais do que uma modalidade. “Acho que o que me motiva mentalmente [a fazer mais de um desporto] é que não fiquei satisfeita com a forma como deixei o remo”, desabafa. Além disso, refere: “O meu corpo falhou comigo naquele desporto. Não fui capaz de manter uma qualidade de vida para praticá-lo”. Mesmo assim, explica a atleta, estes dois desportos continuam a desafiá-la: “Pensar-se-ia que o esqui de fundo e o ciclismo são semelhantes, mas na verdade é o oposto. São dois movimentos separados. Andar de bicicleta é empurrar e esquiar é puxar”.